Capítulo 16 - AINDA É TEMPO PARA NÓS?

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CAPÍTULO 16

Peguei um ônibus na porta do hospital, e fui até o hotel barato em que eu me hospedara. Tive que tomar um banho e trocar de roupa (pois o sangue de Feron manchava a minha blusa).

Quando fiz o que tinha que fazer, peguei minha mochila, paguei a conta e fui embora.

Um tempo depois, eu já estava na rodoviária de São Paulo, com a passagem para Belo Horizonte comprada. O próximo ônibus sairia apenas em uma hora e meia.

Comprei um lanche qualquer, vez que não comia há horas. Me obriguei a comer, sem ânimo nenhum – apenas para não morrer de fome.

Depois, sentei-me em um dos bancos para esperar. Suspirei, física e emocionalmente exausta. Tinha sido o pior dia da minha vida. Eu ainda não acreditava no que Feron havia feito por mim... Ele escolheu levar um tiro em meu lugar. Simplesmente.

Clarisse tinha razão: eu era um tornado causador de problemas na vida do garoto; para o bem dele, eu tinha que sumir. Era ganância demais da minha parte querer permanecer na vida de Feron. Nem o amor mais profundo poderia superar tudo o que passamos: todas as mentiras, desconfianças, ressentimentos...

Enquanto eu me perdia em pensamentos, ouvi alguém gritando o meu nome. Olhei para cima e dei de cara com Stela correndo em minha direção.

– Lívia! – chamava-me com desespero.

Mas o quê...?

Logo em seu encalço, Tomás também corria. Passos atrás dele, estavam Vívian e Antonela.

Eu retirei os fones de ouvido, completamente chocada. Stela parou na minha frente, mãos nos joelhos, arfando.

– Nós... Te procuramos... Por toda a rodoviária... Pensamos que já tivesse partido.

Tomás chegou, prostrando-se à minha frente, também arfante.

– Lívia, não vá embora – segurou a minha mão, falando com sinceridade. – Você faz parte da nossa vida, da nossa família.

Vívian e Antonela chegaram, cercando-nos. Observavam a cena com olhos aflitos.

Stela segurou minha outra mão, olhos lacrimejantes.

– Você se tornou nossa filha também. Desculpe por não ter dito isso antes, desculpe por termos deixado que fosse embora. Não precisa mais ficar sozinha, nós queremos ser seus pais.

– Nós já somos seus pais – Tomás emendou. – Queremos te adotar. Por favor, não vá embora.

À essa altura, Stela já estava chorando.

– Nós amamos você.

Pisquei, estupefata; senti meu rosto molhado... Eu chorava sem perceber. Aquela declaração tão honesta tocou profundamente meu coração. Olhei para eles.

– Eu também amo vocês.

Stela sorriu, emocionada.

– Então você vai ficar?

Sim!, meu coração queria gritar – mas minha razão sussurrava outra coisa. Não dava para conviver com Mia, na casa dela, tomando a vida dela. Nada daquilo era meu.

Suspirei, fitando-os com desolação.

– Não, sinto muito. Eu amo todos vocês, mas esse não é o meu lugar. Essa vida não é minha. Eu preciso voltar para onde eu pertenço, e parar de causar tanta destruição na vida dos outros.

Príncipes PerversosOnde histórias criam vida. Descubra agora