CAPÍTULO 2 - A VIDA QUE NÃO É MINHA

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CAPÍTULO 2

Meu queixo caiu.

Então era isso: minha irmã gêmea era maluca.

– O que você disse? Pirou? Está usando drogas?

Ela deu um sorrisinho sagaz, como se já esperasse minha reação.

– Eu sei que parece loucura, não sou idiota. Mas raciocine comigo: já faz três anos que você tenta passar no vestibular. E não um vestibular qualquer: e sim o mais concorrido. Você não tem tempo para estudar, não tem quem te apoie ou te banque, e nunca terá. As pessoas que concorrem com você são dez vezes mais preparadas. Não importa o quanto você tente as alcançar, se você não parar de trabalhar e frequentar um cursinho de qualidade, nunca irá conseguir, entendeu?

Engoli em seco, pois ela estava tocando em uma ferida. Eu não estava tentando há três dias – e sim há três anos. Várias derrotas consecutivas. Isso me machucava, e Clara sabia disso.

Ela continuou.

– Eu sei que, por causa dos estudos, você não tem vida própria. Sei que é desgastante e difícil. Meu detetive conversou com as pessoas que te cercam... Eu sei que você não está feliz, Lívia. E eu posso te ajudar a realizar o seu sonho, mas acontece que uma mão lava a outra, você sabe.

Eu me mexi, desconfortável.

A garota sabia tudo sobre a minha vida. Sentia-me invadida – e triste, e sozinha. Ela escancarava meus maiores medos, e eu não tinha uma resposta. Porque era verdade.

– E no que isso implica para mim?

Ela respondeu simplesmente.

– Eu posso pagar uma faculdade particular de Medicina para você.

O quê?!

– Isso mesmo que ouviu – ergueu uma sobrancelha. – O vestibular de uma faculdade de medicina particular é difícil? Sim, mas nem se compara ao de uma federal. Você tem experiência, e passaria tranquilamente. Eu pagaria o custo integralmente e de uma só vez. Você entraria na faculdade já com todas as mensalidades do curso pagas, incluindo o material. Além do mais, posso te dar mais 200 mil reais para você se manter nesses seis anos. Dá para você morar em uma república e se alimentar, sem precisar trabalhar. Pode escolher a cidade que quiser.

Eu a encarei, perplexa.

Isso facilmente somaria uns seiscentos mil reais.

– Você tem tanto dinheiro assim?!

– Tenho – deu de ombros. – Minha família adotiva é muito rica, e minha conta poupança bastante gorda. Meus pais colocam dinheiro lá há anos. Se você assumir a minha vida por três meses, passando-se por mim, todo esse dinheiro pode ser seu. Seu futuro ficará garantido. Você vai ser uma médica e viverá muito bem.

Massageei as pálpebras, pensando e repensando.

A oferta era tentadora, mas...

– Não, não dá, é loucura demais. Simplesmente não dá. Além do mais, isso deve ser crime. – Não estávamos em um filme de Hollywood, pelo amor de Deus. Coisas assim não aconteciam na vida real.

Clara respondeu.

– E é um crime. Mas não se preocupe, irmãzinha: se nós fizermos tudo direitinho, ninguém irá descobrir. Além do mais, são apenas três meses; é muito simples. Pense no seu futuro, não valeria a pena?

Príncipes PerversosOnde histórias criam vida. Descubra agora