CAPÍTULO 15
Com o coração atormentado, entrei um ônibus para Belo Horizonte. Na rodoviária de lá, comprei um lanche qualquer e peguei o próximo ônibus para São Paulo.
Eu não trouxera muita coisa. Apenas uma mochila com dois pares de roupas, um pouco de dinheiro e o meu celular. Afinal, a verdade era inescapável: havia poucas chances de eu voltar para casa. Aquela era uma viagem apenas de ida.
Mas eu não me arrependia: a decisão estava tomada.
Quando cheguei em São Paulo, já era quase meio dia. Me hospedei em um hotel barato, de modo a esperar até a hora de ir à São Valentim. Passei o dia deitada na cama barata, observando as redes sociais de Feron.
Analisando suas fotos, eu absorvia cada um dos traços do garoto. Cravei-os em minha mente, pois sua lembrança me concederia a coragem para continuar. Afinal, aquilo tudo era por ele – para não destruir a sua família.
Se Elisa morresse, os Feron ficariam desolados por muitos e muitos anos. Seria uma tragédia sem precedentes, e eu não sabia se a família se recuperaria.
Mas, de uma coisa, eu tinha certeza: Elisa era muito mais preciosa que eu. Curiosamente, eu não me ressentia desse fato. Parecia que, simplesmente... Meu coração havia aceitado essa verdade – e fim. Eu estava muito acostumada a ser invisível.
O dia se passou rápido demais. Tomei um banho e vesti meu outro par de roupas: calça jeans, blusa quadriculada de flanela, tênis surrados e cabelos presos (bem diferente do estilo Mia Santorini). Se Feron me visse agora, não me reconheceria.
Na hora marcada, peguei um táxi até a São Valentim. Eram cinco para as duas da manhã, e a faculdade encontrava-se completamente escura e vazia. Entretanto, o portão lateral (por onde entravam os funcionários) estava destrancado. Obra do perseguidor, imaginei.
Observando as câmeras espalhadas pela faculdade, notei que todas permaneciam com as luzes apagadas. Deduzi que assassino tinha as desligado (e não seria a primeira vez). Ele não era um amador, afinal.
O perseguidor mandou-me encontrá-lo no porão, situado abaixo do ginásio. O porão era uma espécie de galpão subterrâneo na São Valentim, que servia como depósito. Eu andava à passos apressados pelo gramado central, com a cabeça baixa e coração disparado. Ao meu redor, apenas silêncio e escuro.
De repente, o fantasma de Nicole, a garota loira, apareceu bem ao meu lado (translúcido e emanando uma luz azulada).
Nicole estava muito séria.
– Lívia, pare. O assassino não está blefando... Ele irá te matar.
Não olhei para ela, continuando meu caminho. Senti minha garganta se fechar, e lágrimas arderam meus olhos.
– Eu sei.
Segundo depois, quem apareceu ao meu lado foi o fantasma de Pietra, a beldade de pele negra. Expressão alarmada e urgente.
– Não faça isso! Essa dívida não é sua... Mia é quem deveria estar aqui, não você. Não se sacrifique.
Passei por ela, sem me deixar abalar.
– Já está decidido.
Adentrei no ginásio (uma quadra com arquibancada, onde aconteciam as competições de esportes da São Valentim). Ao canto do ginásio, havia uma pequena porta. Abri a porta e deparei-me com uma escada estreita, que descia para um lugar escuro.
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Príncipes Perversos
रोमांसLívia terá que assumir a vida de sua irmã gêmea. Por circunstâncias inesperadas, as irmãs Lívia e Clara foram separadas na infância. Lívia leva uma rotina simples no interior - enquanto Clara possuí uma vida cheia de luxo, refinamento e intrigas na...