Capítulo 3 - Hermione

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Hey quarenteners!!! consegui adiantar um pouquinho mais da fic e, por isso, cá estou para publicar um capítulo extra na semana (sábado tem outro). Fico cada vez mais feliz de vê-los  gostando dos personagens e das trajetórias que eles estão começando a ter. Esse é um capítulo bem importante pro inicio da recuperação da mione, então aproveitem <3beijos


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A sala em que estava era um dos lugares mais confortáveis em que já estivera. O lugar era bem arejado, com uma janela enorme, que estava aberta naquele momento e fazia com que o sol de fim de tarde iluminasse o local e a deixasse sonolenta, e com um chão de madeira daqueles típicos de casas antigas. Haviam dois sofás, com diversas almofadas fofas e que a faziam se aconchegar ao ponto de querer se deitar, só por um instante, e tirar um cochilo, uma mesinha de canto, uma tv, que estava ligada em um programa qualquer e, além disso, diversas plantas e bichinhos de porcelana que enfeitavam o local. Aquela sala se parecia, e muito, com a sala de estar de sua avó materna. Mas, diferente da casa em que assava cookies quando criança, aquela sala não tinha nada a ver com uma sala de uma casa comum. Aquela era a sala de espera de sua mais nova psicóloga, indicada pela sua melhor amiga, depois de mais algumas longas conversas, o que a deixava nervosa a ponto de querer, a todo instante, desistir da consulta e ir embora.

Hermione achava que não precisava de uma psicóloga e que aquela situação toda não passava de uma preocupação excessiva demais para com ela. É claro que, mesmo depois de diversas conversas com Astoria, com seus pais, que levou horas a fio e os fez chorar, já que não falavam com a filha também há meses, e até com o seu gatinho, que Tory conseguiu resgatar dias depois de estar em sua casa, a morena não conseguira processar 100% de todos os momentos vividos durante os últimos anos. Fora convencida que precisaria de uma profissional que a ajudasse a entender todas as coisas e retomar a sua vida anterior. Hermione duvidava se isso seria possível. Mesmo depois de dias, custava a acreditar que tivesse caído naquilo que mais criticava em sua adolescência, como todos diziam e custava a acreditar que Viktor não a amara de fato e a traia em todas as esquinas, como seus pais lhe contaram. De todo modo, ela começara a acreditar que, talvez, tivesse perdido quem ela realmente era e se sentia feliz, pela primeira vez em muito tempo, por ter seus pais e sua melhor amiga de volta em sua vida.

(...)

Não demorou muito para que a mulher a chamasse para o início da sessão. Hermione se sentia encabulada com aquele tipo de relacionamento. Afinal, não sabia se podia confiar naquela mulher e a ideia de contar a ela todas as coisas de sua vida, até as mais íntimas, era, no mínimo, estranho. Existiam certas coisas que não confiava a absolutamente ninguém.

Entretanto, logo depois de Luciana a contar quem ela era como profissional e de combinarem como funcionaria aquela relação, todos os receios pareceram sumir, de repente, e como se ela a conhecesse a anos, passou a contar sobre todas as coisas que, supostamente, a fizeram estar mal a ponto de procurar uma profissional.

(...)

6 anos antes.

Quando viu aquela carta virtual, ou um e-mail para aqueles que preferirem, na tela de seu computador, não acreditou. Jamais imaginou que em sua primeira tentativa, que para muitos servia como teste, passaria na faculdade dos sonhos. Mas, as letras garrafais no início do e-mail não deixavam margem para que ela se enganasse "Bem-vinda à Universidade de São Paulo, Hermione", ela havia acabado de ser aprovada na melhor universidade do país.

Seus pais ficaram tão contentes que mal conseguiram abraçar e parabenizar a filha. Caíram em um choro na sala de estar e ficaram por lá durante uma tarde inteira. Sabiam que a filha conseguiria aquela vaga, jamais duvidaram, Hermione sempre fora a filha que pediram a Deus, literalmente. Jane só conseguira engravidar aos 37 anos, depois de vários abortos espontâneos e três inseminações artificiais. Tratara a filha como uma deusa e ela realmente era. Para a mãe, Hermione era idêntica a sua avó materna: geniosa, inteligente, forte, carinhosa e companheira que só a faziam se orgulhar a cada dia da mulher que criara.

No primeiro dia da faculdade, Hermione juntou todos os livros da lista pedida pelos professores, papel e caneta e um mapa do campus, uma vez que aquele lugar era uma cidade, e se dirigiu ao prédio de direito. A primeira aula só começaria duas horas depois, mas tudo que mione queria era apreciar o lugar para que pudesse se lembrar de cada detalhe do início de um de seus maiores sonhos de vida.

A primeira semana se seguiu como um conto de fadas, as aulas eram incríveis, seus professores eram extremamente admirados por ela e em seus sonhos, durante as idas e vindas no transporte público, se resumiam a ela em um tribunal, defendendo e ganhando os casos de seus clientes. O futuro que ela sonhava era brilhante.

Durante todo o ensino médio, a morena tentou imaginar como seria aquele momento: entrar na faculdade. Parecia surreal demais e, em sua cabeça um pouco imatura, imaginava que seria como naqueles filmes americanos com mil e uma festas, grêmios, aulas com diversos outros cursos, romances etc e tal. Hermione sabia que, muito provavelmente, não realizaria nem metade das expectativas criadas uma vez que não era do tipo de garota que frequentava esse tipo de atividade. Mas, para ela, naquele momento, só frequentar aquele lugar já era digno de um filme de Hollywood.

Entretanto, a morena acreditava que o trote era o ponto principal de uma caloura universitária. Sendo assim, nada mais justo do que fazer esse tipo de compensação: ir ao trote e não ir em mais nenhuma das festas oferecidas. Pelo menos assim poderia contar aos seus amigos que frequentou uma das badaladas festas da USP.

(...)

Como diria aquele ditado: Se arrependimento matasse... Com certeza, para Hermione, ela estaria morta e enterrada. Concluiu que, realmente, aquele mundo de festas e curtição não era pra ela. Toda a multidão se encontrava da mesma maneira: molhada, devido a forte chuva que caira recentemente, suja de tinta e lama, uma vez que resolveram que seria uma excelente ideia fazer a festa no meio de uma área em construção do cidade universitária, e bêbada. Ela se sentia um peixinho fora d'água, com o mesmo copo de cerveja na mão, tremendo de frio e parada em um dos lugares mais vazios da festa enquanto sua colega ficava com mais um dos caras fortões e sem camisa.

A jovem já havia começado a fazer planos sobre deixar sua colega ali mesmo e sair de fininho para casa o mais rápido possível, para evitar um resfriado, quando um cara do grupo dos fortões, alto e com uma barba por fazer se aproximara dela.

– E ai? você é caloura? – Perguntou o moreno desconhecido.

– Oi... sim, sou sim. – Respondeu cruzando os braços e se perguntando como aquele homem não estava com frio.

– Legal, bem-vinda! Qual o seu nome? – Perguntou com um sorriso.

– Hermione. Pode me chamar de Mione, assim parece que você não está brigando comigo – Concluiu rindo – E o seu?

– Viktor. Ou pode me chamar de tubarão, se for torcer por mim nos jogos universitários. – Respondeu e Mione teve que se segurar pra não rir do apelido.

– Legal!! Você joga o que?

– Jogo futebol com o time da educação física. – Os jogos são em maio. Seria interessante te ver por lá. – Respondeu com uma piscadela

– Então você não cursa direito? – Perguntou, confusa. Aquele não era um trote pro curso de direito? Será que havia se enganado?

– Não. Eu curso educação física mesmo, como pode notar – Disse apontando para o próprio corpo, o que fez com que a morena perdesse um pouco o foco. – Estou aqui invadindo a festa mesmo. A Galera de direito costuma dar ótimas festas, você vai adorar.

– Com certeza! – Respondeu com entusiasmo, mesmo sabendo que nunca mais pisaria em uma festa, se dependesse dela.

Viktor parecia querer lhe perguntar mais alguma coisa quando seus amigos o interromperam e o chamaram para o que parecia ser um daqueles desafios com bebidas. Se entusiasmando com a brincadeira, o jovem prontamente indicou que estava indo e, se virando para a morena, que ele havia achado tremendamente sexy com a roupa molhada, fez o que sabia que tinha que fazer.

– Bem, Mione... eu preciso ir. Foi um prazer lhe conhecer. – Disse enquanto pegava e beijava uma das mãos da jovem.

– O prazer foi todo meu – Respondeu sorrindo largamente com a delicadeza do gesto.

Talvez, Hermione pensara, aquela festa não tenha sido tão ruim assim.

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