Capítulo 9

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Os dias seguintes seguiram tranquilos e sem contratempos, Otavio não precisava dos meus serviços em grandes eventos e nossos encontros foram construídos de jantares em restaurantes caros e pré estreias de peças nos teatros de São Paulo. Nesse período tentei prestar atenção em todos os detalhes sobre ele, nas coisas que falava e que gostava. Tudo que era preciso para parecer que éramos um casal de verdade quando chegasse a hora de conhecer sua família. Bem diferente da realidade em que não tínhamos nem interesses em comum.

Minhas aulas na faculdade eram poucas agora que eu estava prestes a me formar. Dediquei meu tempo livre, sem outros clientes, para concluir meu TCC. Ainda tinha tempo para terminá-lo, já que só me formaria no final do ano, mas não queria deixá-lo para a última hora.

Eu já devo ter dito e repetido isso várias vezes, mas moda era a minha paixão desde sempre. Era o único motivo que me fazia acordar cedo após noites mal dormidas por estar com algum cliente e passar horas ao lado de pessoas, na maioria das vezes, insuportáveis.

A faculdade que eu cursava era a Belas Artes, cara demais para alguém que não tinha onde cair morta quando era mais nova. Mas era boa demais para garantir que eu sairia de lá pronta para o mundo da moda. E meu trabalho também me ajudava. Eu poderia ter desistido de ser modelo antes da maior idade, mas já havia ido a grandes desfiles de moda com a ajuda de alguns clientes e fazia algum sucesso no Instagram por causa disso.

Redes sociais. Esse era um detalhe da minha vida, tanto pública quanto secreta. Eu as tinha e as atualizava todos os dias, mas com certa descrição para não me expor demais. Não era como essas mulheres que fazem disso a vida delas. No entanto, Rafa e Penny sempre me chamavam de blogueirinha por causa disso. Uma bobagem, na minha opinião, mas poderia me ajudar com a grife quando eu largasse a vida de acompanhante e resolvesse me dedicar completamente à moda.

Não divulgava informações como meu sobrenome ou os clientes com quem eu saía. Não era burra, mas sabia aproveitar os lugares que ser acompanhante me proporcionava frequentar, usando-os para ganhar mais visibilidade com fotos. É claro que algumas pessoas desconfiavam e comentavam coisas desagradáveis sobre mim, mas sem provas. Era a suspeita delas contra os meus argumentos.

Meu celular vibrou em cima da mesa durante a aula de quinta, tirando meu foco do que o professor falava, peguei o celular e o desbloqueei discretamente para ver sobre o que se tratava... Otavio Tavares. Mordi meu lábio e abri nossa conversa no WhatsApp.

"Vamos a um evento essa noite.
Evento de gala, me encontre as 19h no Hilton"

- Acha que ele é gay? - questionou Fernanda me assustando, a encarrei sem entender a quem ela se referia, será? – O professor. – Complementou ao ver que eu estava distraída.

- Difícil é achar um hetero aqui. – Respondi fingindo um riso.

A garota não era minha amiga, mas tínhamos criado uma relação de respeito desde o primeiro semestre do curso. Fernanda era como uma boneca Lolita pronta para ser vestida, só que ela achava que quanto menos pano usasse, melhor. Muitos a achavam desmiolada, e ela realmente parecia ser, com seus cabelos coloridos e tatuagens sombrias. Mas era uma pessoa boa e muito mais sensata que muitas outras ali.

A aula não demorou a acabar, me despedi de Fernanda e de outras pessoas com as quais tinha alguma amizade e deixei a faculdade, descendo para o Shopping Cidade Jardim para almoçar e comprar um vestido novo.

Peguei meu celular e respondi a mensagem de Otavio, eu precisava de mais detalhes do evento antes de começar a me preparar.

"Okay, eu preciso saber de algo sobre o evento?"

"Não."

Fiz uma careta com a resposta seca, algo comum do moreno. Resolvi almoçar no Sal Gastronomia, aquele restaurante de um jurado de programa de culinária na tv e comprar as coisas que precisava em duas lojas de luxo que gostava de frequentar por ali. Em seguida, passei no spa do espaço para relaxar e fazer as unhas.

Não estava empolgada. Por algum motivo, passei o dia inteiro apreensiva com algo. Incomodada com aquele mal-estar repentino que me assombrou durante todo o dia.

Comecei a me arrumar às 17 horas, tomando um banho de banheira demorado. Arrumei meus cabelos em um penteado simples, que deixava alguns cachos soltos sobre meu ombro direito. Me maquiei de forma simples, mas requintada, ressaltando a beleza dos meus olhos azuis.

O vestido que escolhi para aquela noite era azul claro, com decote ombro a ombro, saia em formato de A e uma grande fenda. Finalizei o look com uma sandália prata da Prada e uma bolsa de mão decorada com cristais.

Era um look mais confortável e discreto. Eu precisava saber exatamente onde estava me metendo antes de me arriscar com vestidos sensuais que pudessem atrair uma atenção diferente para mim.

Já passava das 18h30 horas quando deixei minha casa rumo ao hotel onde havíamos combinado de nos encontrar. Eu não era louca de deixar que ele me buscasse em casa ou que qualquer cliente soubesse onde eu morava. Fui até o local de táxi e fiquei esperando sua chegada junto ao bar.

Tentei falar com minhas amigas enquanto esperava, mas apenas Rafa e Ananda haviam dado sinal de vida. O que era estranho, já que aquele costumava ser o horário em que Penélope botava a fofoca em dia.

- Essa careta não combina com a sua beleza.

Me assustei com a frase, mas quando dei por mim, Otávio já estava ali, ao meu lado, vestindo um smoking preto impecável, camisa branca e gravata borboleta azul.

- E parece que estamos combinando. - comentei, sorrindo, após me recuperar do susto e analisá-lo descaradamente.

- Achei que fosse escolher um vestido mais sensual. - comentou, fazendo sinal para o barman. - Talvez algum que deixasse suas costas de fora e fizesse metade dos homens do evento querer te levar para a cama.

Dei de ombros e o observei pedir uma dose de whisky antes de responder.

- Se não gostou, posso trocar esse por um que o decote vá até meu umbigo. - comentei, divertida. - Mas isso pode não ser bom para a sua imagem.

- Assim está bom, você está linda. - Elogiou antes de tomar a bebida servida pelo garçom em um único gole.

- Obrigada, Otávio - agradeci com uma pequena mesura. - Você também está bonito.

Otávio sorriu e, após deixar uma nota mais alta do que o valor real da bebida sobre o balcão, colocou uma mão na base da minha coluna e me conduziu para a saída do hotel. Onde seu motorista nos aguardava na entrada e, depois de me ajudar a entrar no carro, ele se sentou ao meu lado, e seguimos em direção ao evento que ocorreria no MASP.

- Preciso saber de algo antes que cheguemos ao evento? – perguntei, repetindo a pergunta que havia feito a ele por mensagem, enquanto Otávio observava o movimento do lado de fora do carro, distraído. Por um momento, meus olhos se fixaram na curva perfeita de sua mandíbula e no adão destemido. Me segurei para não morder meu lábio, ciente da impecável aplicação do batom vermelho em meus lábios.

Otávio me olhou como se, por um breve instante, tivesse esquecido de minha presença ali e balançou a cabeça negativamente.

- Nada demais, é apenas mais um evento com políticos e homens ricos - respondeu com paciência. - É ótimo para fazer negócios, mas não estou interessado nisso esta noite. Precisamos ser mais do que meramente convincentes como um casal. Muitos conhecidos da minha família estarão presentes.

- Tudo bem, então vamos dançar e trocar carícias, publicamente - comentei de forma bem-humorada. Não que isso realmente me animasse, afinal, eu estava ali para atender aos desejos do meu cliente.

- Parece que sim - respondeu ele com um sorriso capaz de fazer qualquer mulher molhar a calcinha.

Afastei rapidamente o pensamento de minha cabeça assim como ele havia aparecido, não tinham tempo para provocações, era a primeira noite que aquele contrato seria tão oficial para todos, se algo desse errado minha carreira como acompanhante estaria arruinada, eu precisava ser profissional e ao final da noite, minha conta bancária seria recompensada por mais um trabalho bem realizado.

Eu Tenho Um Segredo (Acompanhante de Luxo)Onde histórias criam vida. Descubra agora