Acordo com o som dos pássaros. Eu nem sabia que dava pra ouvir os pássaros cantando do 14º andar do meu apartamento. Cubro a cabeça com o meu travesseiro e tento voltar a dormir, cansada demais para sair da cama tão cedo. Respiro fundo...
O que? Merda, esse definitivamente não é o cheiro do meu amaciante.
Abro os olhos e me sento em um pulo. Que merda de quarto é esse, Lívia?!
Minha mente está confusa, minha cabeça explodindo, e definitivamente o meu corpo dói como se eu tivesse corrido uma maratona. Então, rapidamente, lembranças começam a voltar em flashes confusos à minha cabeça.
Olho ao redor, sem reconhecer o ambiente. A luz entra pelas portas de vidro da varanda chique, me fazendo piscar várias vezes. O quarto é elegante e minimalista, com móveis de madeira escura e lençóis brancos impecáveis. Há uma sensação de luxo discreto em cada detalhe. Na mesa de cabeceira, uma garrafa de água, uma cartela de aspirina e um bilhete. Pego o bilhete, hesitante, e leio:
"Para a dor de cabeça. Tome um banho e desça."
Ignoro o remédio, preferindo lidar com a dor de cabeça de outra maneira ao invés de morrer envenenada. Meu estômago está embrulhado e sinto um gosto amargo na boca. Preciso desesperadamente de um banho.
Levanto-me devagar, sentindo que cada movimento envia ondas de dor pelo meu corpo. Meus pés tocam o chão frio e caminho cambaleante até o banheiro. Quando acendo a luz, quase não me reconheço no espelho. Meu cabelo está um caos, minha maquiagem borrada está por todo o rosto, e há marcas de dedos nos meus braços e quadris. Me apoio na pia, tentando recuperar a compostura.
— Que porra é essa, Lívia? — murmuro para mim mesma.
Ligo a torneira e jogo água fria no rosto, tentando clarear os pensamentos. Lentamente, começo a me lembrar dos eventos da noite anterior. Hotbar com as minhas amigas, a dança no pole dance, a aposta com Otávio... Otávio.
Me sento à beira da banheira, passando os dedos pelos fios de cabelo embaraçados. O fim da noite era um misto borrado de lembranças, e aquele era definitivamente um quarto de hotel chique ou de uma casa de gente rica, algum lugar ligado a Otávio. Eu preciso pensar rápido. Preciso de um plano.
Respiro fundo e tento começar a organizar minhas ideias, sem sucesso. Um banho, talvez um banho ajude.
Levanto-me da beira da banheira e retiro meu vestido — o mesmo que eu havia jogado ao público e não lembrava como havia voltado para o meu corpo. Tiro também a lingerie rendada, que inacreditavelmente ainda estava inteira, e entro no chuveiro, ligando-o na temperatura mais gelada, por mais que eu odeie banhos gelados.
Estremeço enquanto a água gelada desliza por minha pele. Encontro sabonete, shampoo e condicionador de uma marca cara e agradeço mentalmente. Espalho sabão pelo meu corpo, tentando limpar a confusão da minha cabeça, e em seguida lavo meu cabelo, esfregando vigorosamente.
Fico um bom tempo debaixo do chuveiro, sentindo cada gota gelada acordar meu corpo e meus sentidos. Finalmente, depois do que parece uma eternidade, desligo a água e me enrolo em uma toalha macia que estava pendurada ao lado do chuveiro.
Me seco lentamente, tentando prolongar a sensação de frescor e renovação. Olho novamente no espelho e vejo uma versão um pouco mais composta de mim mesma, uma versão determinada a resolver o que precisava ser resolvido. Encontro um roupão branco pendurado perto da porta do banheiro e o visto antes de voltar para o quarto. Respiro fundo, tentando lidar com a ressaca da noite anterior, e pego a garrafa de água na mesa de cabeceira, bebendo goles longos e refrescantes. Olho para o bilhete novamente e decido que estou pronta para enfrentar a realidade: é hora de renegociar os termos do contrato com Otávio, mas desta vez, sob minhas condições.
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Eu Tenho Um Segredo (Acompanhante de Luxo)
RomansaVivendo sob o nome de Esther Prado, a ambiciosa Lívia Martelli desbrava os corredores da alta sociedade paulistana. Estudante de Moda dedicada, ela equilibra a vida acadêmica com o trabalho de acompanhante de luxo de magnatas e políticos brasileiros...