Capítulo 10

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Não demoramos a chegar ao local do evento. Otávio saiu primeiro do carro e, como um verdadeiro cavalheiro, deu a volta para abrir minha porta e me ajudar a sair. Sorri apaixonadamente para ele, ciente dos flashes das câmeras que não tinham pudor algum em nos registrar. Segurei o braço que ele gentilmente ofereceu e caminhei ao seu lado, enquanto os fotógrafos cobriam o evento.

Eu já imaginava nossas fotos estampadas nas revistas de fofoca, narrando a história de como o coração de um dos solteiros mais cobiçados havia sido conquistado. Junto com as matérias viriam as perguntas sobre quem eu era, perguntas que nunca seriam respondidas publicamente.

Posamos para algumas fotos, respondemos a algumas perguntas. Bem, na verdade, Otávio respondeu e eu apenas sorri enquanto ele falava. Logo atravessamos o tapete vermelho e subimos ao andar do museu onde o evento acontecia. O local já estava repleto, e a cada momento ficava mais satisfeita com minhas escolhas para aquele evento. As pessoas presentes tinham um ar de superioridade, enquanto os homens faziam negócios, as mulheres avaliavam umas às outras para determinar quem era quem naquele ambiente.

- Espero que tudo isso não esteja lhe entediando - comentou Otávio, em um momento em que conseguimos uns minutos a sós, observando um belo quadro de um pintor renascentista.

- Estou acostumada com grandes eventos como esse - respondi, antes de dar um gole na minha taça de champanhe.

- Que bom, porque ainda vamos passar algumas horas com essas pessoas.

Disfarcei um sorriso. Aquilo era óbvio. No contrato que havíamos assinado, estava muito claro que eu deveria estar ao lado de Otávio durante todo o tempo necessário de um evento. E, contanto que eu estivesse sendo bem paga, não me importava em passar mais algum tempo fingindo ser a Miss Simpatia.

Observo ao redor enquanto o moreno verifica algo em seu celular. Esse é um daqueles raros momentos da noite em que estamos sozinhos por alguns minutos, antes de voltarmos para o jogo dos empresários e suas acompanhantes. Pelo menos, esse não é um daqueles eventos repletos de garotas menores de idade usando maquiagem pesada para parecerem mais velhas.

Deposito minha taça na bandeja de um garçom que passa por nós, antes de me aproximar ainda mais de Otávio, ficando na sua frente.

- Sua família não costuma frequentar esses eventos? - pergunto. Havia avistado um fotógrafo segundos antes, apontando sua lente em nossa direção. Sabia que, para que seu plano desse certo, tínhamos que ser mais convincentes e menos recatados.

- Às vezes eles vêm, costumavam vir mais quando meu pai ainda presidia a agência... O que foi? - questiona, ao notar minha mão em seu peito, sobre o terno.

Sorrio docemente.

- Tem um fotógrafo ali atrás, bastante interessado em nós dois. Aposto que é de alguma revista de fofoca doido por um furo. - respondo, encarando seus olhos azuis intensamente. - Podemos aparecer nas páginas do evento de gala ou, quem sabe, até mesmo na primeira página.

Otávio solta um sorriso de lado e guarda o celular de volta no bolso antes de se aproximar mais e segurar minha cintura. Instantaneamente, eu envolvo meus braços em seus ombros e minhas mãos se entrelaçam atrás de seu pescoço.

- Então você sugere que eu te beije agora? - pergunta, rindo.

- É o que casais apaixonados costumam fazer naturalmente - respondo, jogando a cabeça levemente para o lado, de forma charmosa.

- Lívia, Lívia... Lembre-se das minhas palavras.

Reviro os olhos, Otávio Tavares foi o único a me procurar e me contratar para fingir ser sua namorada e seria o único a pagar, e muito bem pagado, para me levar para a cama.

- Otávio, acredite que você me contratou para fingir um relacionamento. Só estou te pedindo para desempenhar o papel - digo, firme.

Otávio riu e olha para algum ponto atrás de mim. Sua expressão se fecha e, antes de me encarar novamente, ele muda nossas posições com sutileza. Agora, estamos perfeitamente alinhados para o fotógrafo.

- Acho que já disse o quanto você está deslumbrante esta noite, Lívia - comenta, passando os dedos pela lateral do meu rosto como se estivesse desenhando o contorno de minha bochecha com um pincel.

- Já disse sim, mas gosto de ser elogiada – respondo de forma provocante, entrando em seu jogo.

- Então vou repetir: você está simplesmente espetacular - diz ele, aproximando ainda mais nossos corpos e baixando a cabeça para ficar na minha altura. Ele me beija os lábios com sutileza.

Sinto um choque elétrico percorrer meu corpo, exatamente como havia sentido em todos os beijos que havíamos trocado até então.

Nosso beijo é calmo, mas intenso como chocolate meio amargo e doce como sorvete de baunilha. Diria que é digno de um filme para a plateia que nos observa. Abro levemente meus lábios e nossas línguas dançam em uma mistura do suave champanhe e o delicioso sabor de whisky. Um suspiro escapa de meus lábios, os lábios de Otavio faziam jus as obra de arte presentes no espaço.

É claro que, tão rápido quanto começou, nosso beijo termina. Como uma excelente atriz, solto um riso apaixonado e finjo que retiro um pouco de batom de seus lábios. Tão rápido como começou, nosso momento sozinho acaba e outras pessoas se aproximam. Troco alguns elogios com uma mulher enquanto nos servimos de pequenos canapês e em seguida me distancio para ir ao banheiro quando meu celular começa a tocar e vibrar dentro da bolsa que carrego.

Não costumo usar o celular durante o trabalho. Somente um grupo seleto de pessoas possui permissão para fazer o meu celular tocar ou vibrar a qualquer momento. Preocupada, afinal, meus pais não ligariam naquele horário, a menos que fosse algo grave, enquanto minhas amigas evitam chamadas telefônicas.

Entro no banheiro, abrindo a bolsa imediatamente, e me fico ainda mais preocupada ao ver o apelido de Penélope brilhar na tela do aparelho.

- Oi, Penny! - exclamo, ao atender a chamada.

- Me... M.. Ajud...a..

- Penny, pelo amor de Deus, onde você está? - pergunto, desesperada.

- Em casa... O Bet...

- Fique calma, estou indo até aí agora!

- Tá... Ve... Rápido... - ela responde, antes de desligar.

O telefone escorrega de minha mão enquanto encaro meu próprio reflexo no espelho, os olhos revelando uma mistura de medo e preocupação. Penélope nunca havia falado comigo daquela forma, e nunca me ligava. Um aperto no peito se instala, mas preciso manter a calma para ir até ela e descobrir o que está acontecendo. Pego o aparelho do chão, abro a porta do banheiro e me dirijo à saída do MASP, as pernas tremendo enquanto a urgência toma conta de mim.

Eu Tenho Um Segredo (Acompanhante de Luxo)Onde histórias criam vida. Descubra agora