Capítulo 8

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– Então, aquele é o noivo? – perguntei, curiosa, enquanto desfrutávamos de um almoço no Fasano, um restaurante de alta classe no Jardim Paulista.

Eu havia escolhido um delicioso filé mignon com vinagrete de azeitonas pretas e pinoli para a entrada, enquanto saboreava um suco de laranja sem açúcar. Enquanto ele apreciava seu caviar "ossetra" algo caro, mas que, aos meus olhos, não se comparava a uma fatia de mortadela da marca mais barata no mercado.

– É. – ele respondeu de forma seca, sem demonstrar qualquer vontade de me contar mais detalhes.

Terminei a entrada e repousei os talheres, observando Otávio ainda absorto nas bolotas de peixe do seu prato. Ele tinha tirado a gravata no carro, a caminho do restaurante, e desabotoado alguns botões da camisa. Mordi o lábio, curiosa para vislumbrar melhor o seu peito, talvez até mesmo o seu corpo inteiro.

– No que está pensando? – ele questionou, buscando desviar minha atenção da pergunta.

– Nada demais – respondi antes de roçar sutilmente minha perna na dele por baixo da mesa, – apenas imaginando quais são as suas expectativas para nós dois. – Otávio me lançou um sorriso torto, relembrando a cena que compartilhamos no elevador na madrugada anterior.

Antes que pudéssemos retomar a conversa, um garçom se aproximou da mesa para retirar os pratos da entrada e servir os pratos principais. Dessa vez, optei pelo gnocchi recheado com carne de ossobuco e molho de limão siciliano, enquanto Otávio havia escolhido o filé mignon grelhado com molho marsala, trufas pretas e foie gras.

– Você parecia mais exigente com comida – comentou ele em determinado momento.

– Ter um paladar refinado não implica em aceitar pratos que causam desconforto aos animais antes de chegarem ao nosso prato – respondi, fazendo referência ao processo de produção do foie gras.

Pobres patos.

– Você deveria se tornar vegetariana ou vegana com esse tipo de pensamento – ele sugeriu.

– Respeito a causa e os animais – repliquei com desgosto em seu comentário, – mas prefiro continuar apreciando carne de forma consciente.

Retornamos aos nossos pratos em silêncio, cada um mergulhado em sua própria refeição. Assim como no nosso primeiro encontro, não havia assunto suficiente para mais do que algumas sentenças. Isso sempre me frustrava quando acontecia. Para Otávio, estava claro que eu era apenas uma mulher–troféu, aquela que os homens gostam de exibir em jantares de negócios para impressionar os outros homens. Tudo o que eles esperavam era que eu sorrisse e fosse educada até o fim da noite, quando me levariam para casa e me descartariam.

Eu já havia saído com homens assim e sabia que não daria certo se as coisas continuassem assim.

– Sabe, vamos precisar inventar uma história sobre como nos conhecemos para justificar esse namoro repentino, comentei após terminarmos a sobremesa.

– Eu já havia imaginado isso, Livia – respondeu Otávio de forma indiferente, – mas acho melhor pensarmos nisso juntos, depois de nos conhecermos melhor.

– Podemos dizer que nos conhecemos por meio de amigos em comum, o que não deixaria de ser verdade – sugeri de forma insistente, enquanto mordia meu lábio inferior pensativa.

Ele me olhou, curioso para saber o que eu tinha em mente.

– Nós nos conhecemos em um jantar com amigos em comum, trocamos números de telefone, você se apaixonou à primeira vista e não desistiu até começarmos a sair – inventei.

– Por que eu? – perguntou rindo.

– Por que você tem grana, – respondi revirando os olhos – se for o contrário, sua família vai me taxar de interesseira.

– Tem razão! – concordou – A ideia é simples, mas plausível.

– Sim, o máximo que vão perguntar é quem são esses amigos que nos apresentaram. — Comentei, antes de tomar um gole do suco, terminando a bebida.

Otávio riu sem humor.

– Agora vou ter que pensar em alguém que não seja Morgana, não posso simplesmente dizer que ela nos apresentou, senão minha família vai descobrir que você é uma garota de programa em questão de segundos.

– Você quis dizer acompanhante, – o corrigi instantaneamente. Eu até poderia ser uma puta, mas odiava ser chamada assim fora da cama. – o nome correto é acompanhante.

O moreno ignorou como se não se importasse e chamou o garçom para pedir mais bebidas. Optei por ignorar e seguir em frente com a conversa. Ser uma acompanhante de luxo ou prostituta, ou qualquer nome que as pessoas queiram dar à minha profissão, era um tabu social. A profissão mais antiga do mundo também era a mais criticada, aquela em que até mesmo quem contrata julga quem a exerce.

– E a ruiva? – perguntei mudando o assunto novamente.

– O que tem ela? – perguntou Otavio me encarando sem humor.

– Ela não pode ser um problema no seu plano? – questionei.

– Você não precisa se preocupar com a Vanessa, se tudo der certo no meu plano, ela não será um problema.

Eu Tenho Um Segredo (Acompanhante de Luxo)Onde histórias criam vida. Descubra agora