Ao serviço da imperatriz

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Dois dias depois, quando o Imperador voltou para minha casa, meus pais o deixaram sozinho no quarto comigo e fecharam a porta. Foi horrível imaginá-los atrás escutando tudo, eu não conseguia parar de pensar nisso. Nunca antes na minha vida tinha estado sozinha com um homem num quarto. Mas já tinha visto o suficiente da minha irmã para saber o que se estava prestes a acontecer.

O Imperador, cheio de desejo, não hesitou um único segundo antes de saltar sobre mim como um leão sobre uma gazela. Rasgou-me o vestido e atirou-me para a cama. Numa confusão de suspiros e tremores desajeitados, ele beijou-me o pescoço e a garganta mil vezes.

Ele queria fazer isso, eu sabia, ele estava pronto, ele certamente sonhava com isso o suficiente para estar fora de controle. Antes, eu poderia ter dito a mim mesma que ele queria realizar um fantasma de possuir a irmã mais velha e depois a menor. Uma espécie de caça. Mas agora eu sabia que o tinha em minhas mãos. Todas as mulheres se ofereceram tão facilmente a ele e assim que alguém recusou os seus charmes, deve ter tocado profundamente no seu orgulho de macho.
- Eu dou-te o que queres apenas quando eu for sua mulher. Eu disse.

Essa frase saiu da minha boca assim, eu não tinha pensado nisso. O Imperador não ficou chocado, o que eu não sabia é que por algum tempo ele já tinha começado a repudiar a sua esposa. Após dez anos de casamento, ela havia dado à luz há alguns meses atrás a uma menina, uma e única filha. Que desilusão. O que é que ele era suposto fazer ? esperar mais dez anos na esperança de ter um rapaz?

Naquele momento, meus pais tinham me entregue a um homem com o dobro do meu tamanho. Era só ele prendre as minhas mãos para fazer o que queria. Eu tinha consciência disto e tinha medo.

- Eu tenho muito respeito por você Sola, e gosto muito de ti. Por isso, vou esperar até estarmos casados...

Não pude acreditar no que ouvia, devia ter-lhe agradecido por essa consideração. Mas eu não disse nada, olhei para ele com certa admiração, tinha tanta certeza do que ia acontecer a seguir, que pensei que ele ia... Afinal, ele era um bom homem, talvez ele realmente me amasse... A única coisa que ele me pediu antes de ir embora foi que voltasse ao Palácio Imperial.

- Mesmo que não posso te tocar, ou aproximar-me de ti, gostaria de te ver todos os dias, gostaria de saber que não estás muito longe de mim...

Depois ele saiu. Como da última vez, zangado, insatisfeito e frustrado...

Talvez tenha sido a partir desse dia que comecei a sentir algo pelo Imperador.

Logo quando eu pensava que tinha ultrapassado o pior, era sem contar com o olhar da Imperatriz. Porque me fez ele voltar ao serviço de sua mulher? Eu e aquela que tinha substituído a minha irmã, Ita, mas agora ela era chamada a amante dos dois meses. Foi obtendo que durou sua relação com o Imperador.
E a imperatriz, forçada a nos olhar nos olhos. Ela sabia que éramos nós, ela sabia que era por minha causa que o casamento tinha seus dias contados.

Não conseguia olhá-la nos olhos, e mesmo assim tive de a servir. Agora eu podia lavar-lhe as mãos e os pés. Para outros, teria sido uma bênção poder tocar a sua pele suave e preta. Poucas pessoas tiveram a oportunidade de vê-la, só se podia ver a sua sombra, poucas pessoas neste palácio se tinham aproximado dela, e ainda menos podiam falar com ela. Eu, por exemplo, não tinha autorização para falar com ela.

As pessoas trabalhavam toda a vida, geração após geração neste palácio e nunca tinham visto o rosto da sua Imperatriz, e eu, estava a roubar-lhe o marido. Quando ela olhou para mim, tão jovem... Ela provavelmente se perguntou porque desta vez o Imperador não se contentava de dormir comigo como todos os outras. Porque é que desta vez ele queria repudia-la? Um repúdio era irrevogável, definitivo.

- Não penses que sou uma tola, senhorita Sola. Me disse a Imperatriz enquanto eu pegava a roupa suja dela para levar a lavandaria.

- Eu sei muito bem o que estás a fazer. ela acrescentou. Mas saiba que foram muitas antes de você, e eu ainda estou aqui. Onde é que eles estão? Onde está a tua irmã, a grande prostituta? Eu deixo o fazer tudo isto contigo... Porque há coisas que um homem só se atreve a fazer a raparigas como tu. Por isso, desfruta das jóias e dos vestidos, porque, amor ele nunca te vai dar.

Fiz uma reverência profunda e fui embora. Eu não a culpei e não acreditei em nada do que ela disse. Eu não podia julgar uma mulher que via o chão se derrubar debaixo dos seus pés.

Sola ( pt)Onde histórias criam vida. Descubra agora