Cebola

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Fiquei tão feliz de poder realmente passar as minhas férias na casa do Enzo, apesar dele ter mudado um pouco, nada pode mudar a amizade forte que tivemos anteriormente. Nós nos descobrimos e nos conhecemos juntos no quintal de sua casa. Foi tudo muito lindo, bom, mas amadurecemos e hoje o que prevalece é somente a mais sincera amizade entre nós dois.  Tudo bem que no começo eu achava que o amava e que viveríamos juntos para sempre como dois amantes aventureiros. Eu era bobo, e bastante imaturo. Hoje eu percebo que não daria certo conviver com uma pessoa completamente controversa como eu, alguém que visa o oposto num relacionamento, alguém que pensa que seu amor é seu capacho, seu bichinho sexual de estimação. Realmente isso comigo não daria certo mesmo. 

Um relacionamento pra mim tem que ser uma conexão perfeita entre ambos, uma soma de um para o outro, ali ninguém é mais que ninguém, os dois terão de ser capazes de tudo para ter o amado do seu lado, vale fazer o que gosta, todavia também abdicar daquilo que mais gosta (só um pouquinho) pra satisfazer a vontade do parceiro. Mutualidade, honestidade, e principalmente sinceridade que falta muito hoje em dia.

   Tomei um delicioso banho quente, a tardezinha, logo assim que o sol parecia se esconder. Pus uma regata preta e uma calça jeans para ficar bem à vontade dentro da casa, tudo bem que se eu visse novamente o Tavinho sem blusa me olhando com aquela cara de pidão teria tido outro surto psicótico, mas eu não sou uma pessoa desonesta, traíra e muito menos ‘fura-olho’. Como eu sei que o Otávio é o namorado do meu melhor amigo, por mais que seja lindo, já me impede totalmente de eu ter qualquer tipo de vínculo em pensamento tanto quanto de desejo ou sexual por ele, eu preso e respeito muito o relacionamento a dois.   

   Ficamos eu e Enzo conversando durante horas jogados pelo sofá, falamos sobre milhares de assuntos não muito íntimos, íntimos, somente assuntos engraçados do passado, coisas divertidas para me alegrar e alegrar a noite que estava por vir. Tavinho que não tirava o olho de nós da cozinha enquanto fritava algo delicioso, eu conseguia sentir o cheiro da sala, ele então trouxe dois enormes sanduíches carregados em várias coisas que ele achou pela geladeira. Com muito cuidado, ele me deu o primeiro sanduiche sorrindo pra mim. Eu todo feliz com seu ato inesperado, já dei logo aquela mordida. Em seguida Tavinho entrega o outro nas mãos de seu namorado que não demonstrava nenhum tipo de afeição pelo seu ato romântico, quando ele tentou beijá-lo Enzo pôs o dedo sobre sua boca bloqueando-o, antes mesmo dele relutar algo, Enzo já foi logo resmungando:

   _ Isso é cebola? _ Dizia ele abrindo o pão de forma com cara de nojo. _ Eu sabia que era cebola, senti o cheiro de longe! Ta de brincadeira, não é? _ Enzo devolve o prato sem olhá-lo nos olhos.

Eu arregalei os olhos e permaneci de boca aberta ainda segurando o sanduíche sem acreditar no que estava presenciando.

   _ Não amor... É que... Me – me desculpa! Eu esqueci que você não gosta de cebola.

   _ Você só pode estar de sacanagem comigo! Toda vez que esse sanduíche aparece, à merda dessa cebola ta dentro... Você sabe muito bem que eu odeio cebola OTÁVIO! 

   _ Mas... Mas amor... _ Dizia ele com o prato tremendo.

   _ Mas o que, Otávio? _ Pergunta Enzo encarando Tavinho com olhos fixos nos seus sem compaixão, impenetráveis. 

Era nítido que quando Enzo dizia “Otávio” para seu namorado era para intimidá-lo, fazê-lo sentir vergonha ou mais culpado ainda pelos seus atos inesperados. Eu não entendi qual a razão de tudo aquilo ser uma guerra para meu amigo. Era um exagero tremendo da parte dele fazer uma tempestade por causa de uns anéis de cebola. Eu amo cebola, mas isso não vem ao caso. Tomei iniciativa encarando meu amigo levantando uma sobrancelha e perguntei:

Gerard Sai de FériasOnde histórias criam vida. Descubra agora