Lasanha de Espinafre

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Umas seis e meia, eu havia preparado todo o jantar, enquanto Tavinho continuava a digitar algo incansável em seu notebook, assim fiz feijão com linguiça, arroz de forno, batata frita, berinjela á milanesa e é claro, a minha lasanha de espinafre que eu tanto falei.  Sentamos a mesa com uma fome tremenda e sirvo meu prato.

   _ A janta está pronta!

   _ Ai não aguentava mais esperar! _ Comentou Tavinho quase que jogando o note book de lado. _ Se estiver tão gostoso quanto está cheiroso, já está aprovado!

   _ Ah que bom! Espero que goste!

   _ Pode ter certeza que eu vou gostar! Berinjela á milanesa, eu sou fã.

   _ Ó, não fiz só pra você não. O Enzo também tem que comer tá? _ Bufei zangado. _ Por mais que não mereça!

   _ Pode deixar! Mas o quê eu quero mais provar é a tal da lasanha. To com água na boca. 

   _ Então cala logo a boca e come!

   _ E ainda está valendo?

   _ Valendo o quê? _ Parei e o olhei com uma batata na boca.

   _ O beliscão!

   _ Ah tá! Eu nem me lembrava mais disso.

Tavinho deu uma garfada firme na lasanha e partiu pro ataque. Após alguns segundos com o garfo ainda na boca, degustando a lasanha, seus olhos se fecharam lentamente enquanto um leve sorriso lindo brotava ainda sentindo o queijo desmanchar bem devagar.

   _ Mas... O quê... É... Isso?

   _ Não te falei que era boa!

   _ Não, boa é a berinjela á milanesa. Isso aqui é assustador cara! Muito bom. _ Ele devorou todo o prato muito rápido, parecia que não comia há três dias. E ainda voltou com mais lasanha.

   _ Agora eu sei por que você nunca esqueceu aquela tarde de domingo quando você tinha oito anos.

Eu realmente estava muito feliz. Ele e seu jeito meio que brincalhão e inocente me fazia muito bem. Até que...

A porta da sala se abriu e Enzo entrou com a mesma roupa da noite em que fugira, seu olhar era meio abatido, cansado. Sua cara não era muito amistosa, ao nos ver seu sorriso era muito falso. Ele jogou as chaves no sofá e disse:

   _ Minha nossa, mas que casalzinho mais lindo! _ Sua voz era meio grogue assim como seus passos, ele estava muito bêbado. _ Estão jantando juntos e tudo, olha só! _ Seu tom era ofensivo, não me pareceu muito uma brincadeira.

   _ Ah... Oi Enzo! Acabei de fazer a janta, sente-se junto com a gente.

   _ Oi amor, está tudo bem? _ Comentou Tavinho abaixando seus olhos e acionando o seu ‘sistema capacho’. Seu olhar ficou deveras muito triste ao vê-lo.

Enzo o ignorou completamente fuçando as panelas até que ele retirou o papel laminado que cobria o pirex de vidro do lado do fogão.

   _ Eu não acredito! Lasanha de espinafre... Aqui na minha casa!

   _ Você já provou amor? _ Perguntou Tavinho todo atencioso, sendo ignorado novamente e voltando para seu prato.

   _ Você ainda se lembra? _ Comentei sem retirar os olhos do meu prato.

   _ Se eu me lembro? _ Disse Enzo sorrindo. _ Se eu me lembro dela?... _ EU ODEIO ESSA LASANHA DE ESPINAFRE!!! 

E de um breve rompante, a grande pirex de vidro espatifou-se no chão da cozinha voando tudo para todos os lados. Nos assustamos e olhamos de imediato para Enzo, que se escorava sob a pia e em seguida, vomitava no chão caindo sobre os vidros jogados logo já sem nenhuma força. Uma cena deplorável, eu vi naquele instante. Ele derrubou o pirex de propósito? Não pode ser! Será? Enzo ficou ali, desacordado, vomitado, jogado de cabeça baixa reencostado sobre a pia, e logo depois Tavinho correu para socorrê-lo. Seu namorado em um lance só jogou-o em seus braços e o levou correndo para o banheiro.

Gerard Sai de FériasOnde histórias criam vida. Descubra agora