Boa noite Cinderela

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_ Como é? _ Minha boca secou. _ Eu fui o quê?

   _ Exatamente, você foi drogado. É bem provável que tenham batizado a sua bebida.

Meu corpo inteiro se arrepiou. Dessa vez de uma forma muito ruim.

   _ Foi encontrado no seu organismo... _ Camargo retirou do bolso um papel dobrado, leu e deu na minha mão. _ ... (GHB) Gama-Hidroxibutirato, uma droga alucinógena que rapidamente afeta qualquer um, muito conhecida também como boa noite cinderela.

Fiquei estático, nem piscava, apenas fitava o papel.

   _ Existe alguém que quer o seu mal de qualquer jeito.

O encarei com os olhos semicerrados, é lógico que desconfio dele.

   _ Eu nunca chegaria a tanto. _ Paulo agitava as mãos diante de seu peito em modo de defesa. _ Eu quero você aqui comigo, quero muito, mas não assim, não dessa forma! _ Seus olhos encaravam os meus com ternura e sinceridade. _ Eu não teria coragem de fazer isso com alguém, é de mais pra mim.  

Ainda o encarava, mudo, e ainda com raiva dele. Não me pareceu mentira, mas também não me pareceu verdade.

   _ Eu sei que até posso parecer seu maior suspeito, pensa bem, eu recebi vários nãos de você, isso poderia encadear um rancor ou algo assim e que consequentemente eu teria que me vingar tentando tê-lo a força. Vendo assim tudo se encaixa perfeitamente. _ Ele respirou fundo. _ Por mais que pareça, não... Fui... Eu!

   _ Você poderia sim ter planejado tudo isso, e me levar ao hospital, em seguida me trazer pra cá pra se fazer de inocente.

   _ NÃO... FUI... EU! _ Ele alterou a voz mais irritado. _ Olha, sei que na maioria das vezes tenho sido um filho da puta contigo, eu confesso, fiz e disse coisas que não devia, mas mesmo assim fiz... Agora, drogar alguém e estuprar... Aí já não é a minha praia! Não sou tão maluco assim!

Seu olhar era vívido, terno e sincero, realmente não era ele, não parecia ter sido ele, ou ele está dizendo a verdade, ou ele é o maior desgraçado e mentiroso ator que conheço.

   _ Mas eu estou com os braços e joelhos ralados, o que aconteceu? Não me lembro de nada.

   _ De que você lembra?

   _ Eu... Tomei uma bebida apenas, e o bartender começou a fazer vários drinques, e foi aí que minha visão falhou pela primeira vez. Então fui logo procurar a saída e ir embora, minha perna ficou mole e no meio disso... Eu vi o Tavinho? 

Tentava puxar as lembranças que se encaixavam como quebra-cabeça aos poucos. 

_ Isso, eu o vi. Então pedi ajuda a ele, só que eu estava pendurado em seu pescoço, o Enzo chegou e nos viu. Nossa! Ele pensou que eu estava dando em cima do seu namorado, só que eu estava completamente alterado... Eu só queria que ele me tirasse dali.

   _ E depois disso? O que ele fez?

   _ Ele me esculachou... _ Meus olhos voltaram a se sobressaltar com a lembrança. _ E... Ele me... Mandou embora da casa dele, hoje! _ Ainda não acreditava no meu próprio pensamento.

   _ Ele te mandou embora? _ Os olhos de Paulo também se abriram além do normal. _ Mas você não fez nada... Fez?

   _ Não... _ Hesitei, fiquei na dúvida. _ Eu acho que não. Eu sei que não o beijei ou algo do tipo... Isso eu tenho certeza!

   _ Então porque ele diria algo tão pesado? Vocês estavam brigados? Ele te fez algo ou você a ele?

Forcei as lembranças que de instantâneo me afogaram como um tsunami devastador. Veio-me suas péssimas lembranças, Enzo e suas trapaças, seus podres, a cocaína, a ameaça na noite anterior com o dedo apontado ao meu peito:

Gerard Sai de FériasOnde histórias criam vida. Descubra agora