Como era sexta-feira à tarde e eu não tinha aonde ir e nada pra fazer, decidi ir ao encontro.
O frio em São Paulo estava começando a se apresentar intensamente pelas ruas, pra um carioca como eu (que não estou nada acostumado), parecia me congelar aos poucos, uma sensação péssima. Pus uma calça jeans bem grossa, uma camiseta, outra de lapela por cima e uma jaqueta jeans e um cachecol preto, estava realmente frio, os termômetros acusavam sete graus. Por um breve momento me deu vontade de voltar pra casa e cancelar tudo aquilo... Eu já não estava afim mesmo!
Pelo caminho fiquei pensando se tentaria dar alguma chance de conhecer Paulo um pouco mais a fundo... Realmente é um caso muito difícil a se pensar, será que ele continua sendo um escroto como sempre foi, ou realmente está sentindo algo por mim?
Cheguei rapidamente no Shopping da Frei Caneca ás seis e meia. Não havia muita diferença dos de mais, fora o fato da grande presença que se concentrava dentro dele ser de gays, acompanhados, casais ou sozinhos, coisa que estranhei de princípio, não é algo comum de se ver em toda parte. Aqui eles andavam normalmente de mãos dadas, trocavam carícias e beijos enquanto conversavam ou lanchavam, coisas que pra mim sim era normal, mas não dentro de um shopping. Achei aquilo muito legal e inusitado. Fui ao segundo andar. Não me demorou muito e meu telefone já toca. Camargo já exigia a minha presença.
_ Oi Gerard, liguei pra saber se você já chegou!
_ Paulo, onde você está?
_ Eu estou na Doceria, no segundo piso.
_ Ah! Já passei por aí, sei onde você está!
Nos vimos e desligamos juntos nossos celulares. Ele usava, como sempre, uma blusa gola V com a foto de um crânio de piercing, língua pra fora, moicano e fone de ouvido, uma jaqueta de couro azul claro, calça e bota preta. Nos abraçamos, demos um breve beijo na bochecha e então ele começou colocando em minhas mãos uma trufa de cereja.
_ É pra mim? Obrigado!
_ Você merece muito mais que isso, é claro!
_ E obrigado pela ligação também, eu ia me perder nesse lugar! _ Coloquei o doce no bolso da jaqueta.
_ Bem, eu tive que ti ligar né!
_ Por quê?
_ Vai que alguém daqui vê a sua beleza e tenta roubá-la de mim! Eu tenho que marcar o território e mostrar que você é só meu!
_ Eu sou só seu? _ Franzi os olhos e sorri sem vontade. Ele já começou a ser evasivo. _ Ah sei! _ Revirei os olhos.
_ O quê faremos agora? Cinema? Conversar? Comer? Ou comer e conversar?
_ Pode ser um filme primeiro, depois nós batemos um papo. Pode ser?
_ Mas é claro!
É muito esquisito você ver uma pessoa que diria a alguns dias atrás algo como ‘Corta o papo e vamos pra minha casa’, e hoje dizer ‘Conversar? Comer? Ou comer e conversar?’... Chega a ser meio engraçado em certo ponto como as pessoas mudam quando querem agradar o próximo.
Fomos ao cinema, logo na entrada, os quatro filmes em cartaz eram os piores do ano, já não me senti feliz de começo. Eu odeio filmes de guerra, corrida de carros ou ação em geral, e dois deles eram de alguns desses gêneros. O primeiro ‘Descendo bala’, um clássico filme chato de tiro porrada e bomba. O segundo, ‘Vietnã’, que falava sobre a famosa guerra que ocorreu em 1955. O terceiro era um desenho infantil ‘Onde vivem os Duendes’. Por último, e não menos pior, era um romance (água com açúcar) chamado; ‘Não aprendi a dizer que te amo’. E foi esse o escolhido, não que o filme fosse péssimo, a culpa era das outras péssimas opções. O filme contava a estória de quatro respectivos casais, em tempos diferentes de seus relacionamentos que se cruzam e se envolvem ao decorrer da trama por descobrirem que já não amavam mais seus pares, o primeiro casal depois da primeira noite de sexo, o outro depois de seis meses de namoro, dois anos de casado e por último um casal com filhos que viveu dez anos juntos.
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Gerard Sai de Férias
عاطفيةEntediado de ficar no Rio, Gerard vai passar as férias do trabalho na casa do seu amigo em São Paulo no qual ele não o vê a quatro anos desde quando ele foi morar lá. Porém ao chegar no local, Gerard descobre que seu amigo de infância estava bem di...