Como você Pôde?

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Era isso mesmo que eu estava vendo? Enzo? Não, não pode ser! Eu apertava fortemente os olhos para ter certeza se era mesmo o meu amigo junto com aquelas pessoas, apesar de estar um pouco longe, eu mesmo pude confirmar... Sim, era ele.

O quê ele estaria fazendo aqui com esse cara? Seria ele um velho amigo dele? Sim, por que velhos amigos têm alguns costumes de se cumprimentarem com um selinho. Mas ‘aquilo’ não me pareceu muito uma amizade. Aí tem algo!

O loiro traficante, depois de apresentar um para o outro, deu um abraço em Enzo, apertou a mão do executivo e assim foi embora voltando pelo mesmo corredor na minha direção. De imediato, cruzei os braços recostados sobre a mesa e virei o rosto para o outro lado para ele não me ver ali, caso ele me visse, na mesma hora contaria para Enzo que daria um jeito de inventar algo ou me desmentir.

A conversa dos dois não acabava nunca, entre sorrisos bobos, o executivo alisava e acariciava os braços de Enzo de uma forma que só casal faz. Vez ou outra, ele subia e alisava seu rosto e terminava beijando as dobras dos dedos da mão de Enzo. 

Era carinho de mais para ser amizade, Enzo simplesmente mantinha-se estático e omisso a tudo aquilo, ele não negava todos aqueles carinhos que recebia, às vezes até sorria por estar gostando, porém seus olhos não descolavam do executivo. Eu não estava acreditando! Meu amigo, além de estar usando drogas, estaria tendo um caso? Quem é essa pessoa falsa que não conheço mais? 

E por um instante me veio o pior dos pensamentos, eu me lembrei de Tavinho, que estava em casa trabalhando o dia inteiro e se sacrificando para ter uma vida digna com quem realmente ama e infelizmente não merece nem um terço de sua felicidade. Meu peito doeu só de pensar em quando ele souber toda a verdade. Isso se ele souber!

Agora estava claro como água, Enzo não amava Otávio. 

Não havia mais como fugir. Eu iria até o final disso tudo, não importa para onde ele for eu o seguirei até o inferno se possível pra descobrir toda a sua verdade. Quero ver a sua máscara cair!

   Depois de alguns minutos da conversa dos dois, eles se retiraram e desceram a escada rolante para irem embora. Mas é claro que eu os seguiria. Na mesma hora Paulo, que vinha todo sorridente com as duas latinhas nas mãos se assustou com os meus olhos sobressaltados assim que se sentou:

   _ Gerard, você está bem? Parece que viu um fantasma!

   _ Exatamente! Eu acabei de ver um fantasma, e dos grandes!

   _ Como assim?

   _ Paulo! _ Segurei firme em sua mão, ainda com cara de pânico. _ Preciso que você venha comigo agora! _ Na mesma hora eu já seguia pelo corredor de mãos dadas com ele.

   _ Mas o quê houve? _ Perguntou ele com a expressão também alarmada enquanto descíamos a escada rolante.

   _ No caminho te explico tudo!

Descemos a escada rolante as pressas, por um instante parecia que eu havia perdido os dois, eu procurava olhando para os lados enlouquecidamente, mas os vi logo à frente já saindo pela porta do shopping.

   _ Ali, achei! _ Disse eu apontando para a saída. _ Eles estão saindo!

   _ Eles quem?

Nós dois o seguimos, a vários passos de distâncias para não levantarmos suspeitas. Paulo ainda não sabia quem nós seguíamos, mesmo assim permaneceu mudo e ali continuou do meu lado o tempo todo. Quando finalmente chegamos até uma rua em que o senhor de cabelos grisalhos havia estacionado o seu Renault Sandero prata, antes de partirem, sem eu muito esperar, Enzo joga o homem sobre a porta do carro e o beija. Eu não acreditava naquilo que via e cada vez mais eu ficava com raiva e por que não dizer nojo dessa pessoa que eu achava conhecer. Paulo então finalmente viu que era o Enzo, ele apenas abriu os olhos por alguns instantes e relaxou seu semblante como antes, em seguida voltou seu rosto tranquilo a me encarar como se tentasse ler minha mente preocupada. Agora sim ele havia captado a minha aflição.

Gerard Sai de FériasOnde histórias criam vida. Descubra agora