Minha mente cada vez mais me enviava mensagens tardias, borrões fosforescentes e piscantes que pioravam cada vez mais minhas vistas. E ao ver Tavinho ali, me agarrei à última gota de esperança que me assolava, o apertei pelo braço com toda força que ainda tinha e clamei por sua ajuda... Eu queria que ele me retirasse dali:
_ Tavinho... É você mesmo? _ O apertei e passei a mão por seu rosto.
_ Gê... Gerard? O que aconteceu contigo? Está bêbado?
De uma hora pra outra perdi a resistência de uma das pernas, e para não cair, envolvi meus braços sobre seu pescoço.
_ Eu preciso de você... Não estou bem! _ Nossas bocas ficaram bem próximas. _ Eu preciso de você, preciso...
Eu estava ficando apavorado com o que estava acontecendo comigo naquele lugar desconhecido, eu não sabia de nada sobre aquele entorpecente que havia ingerido contra a minha vontade, não sabia o que aquilo me causaria dali a alguns minutos ou instantes. Tudo que eu queria era ir para casa, a cada segundo mais e mais. E o pior de tudo, eu mal conseguia falar, o que me dava mais pânico ainda, a velocidade em que pensava não se encaixava com a lentidão em que saíam as palavras totalmente atropeladas pela minha língua que parecia adormecida. O que fazia com que o Tavinho mal entendesse algo que eu havia dito anteriormente. Ele apenas entendeu meus braços atracados em seu pescoço, eu (consequentemente bêbado), perto de sua boca dizendo:
_ Eu... Preciso... De... Você! Seguidas vezes...
Bastou isso para o show se armar naquele ambiente, na mesma hora, após tirar seus ombros de meus braços, Tavinho recuou alguns passos e eu como já não me aguentava totalmente de pé, tropecei cambaleando vários passos pra trás, assim que Enzo apareceu do nada e me empurrou com força.
_ Que porra é essa aqui? Perdeu o juízo de vez é Gerard?
Só depois de me escorar em uma pilastra e recobrar a visão que parou de girar, que eu percebi que Enzo estava bem na minha frente muito puto com algo que supostamente disse ou fiz que ele entendeu super mal.
_ Cansou de dar mole pro meu namorado de cara limpa e agora quer tentar agarrá-lo de cara cheia?
Ele me empurrava contra a pilastra de novo e de novo, e meu cérebro chacoalhava por dentro, parecia que ia cair da cabeça a cada empurrão dele, além de tentar me sustentar de pé, encostado sobre aquele pedaço de concreto, a cada balançada o via duplicado, triplicado... Ou não via nada. O pânico acelerava meus batimentos e eu piscava fortemente os olhos e assim os via de novo... Ainda puto comigo com o dedo apontado e a boca me fuzilando algo freneticamente... Algo que não fazia mais ideia, até porque meus ouvidos haviam entrado em greve, ele gritava como louco na minha frente. E eu apenas ouvia bem de longe uma forte batida desritmada do que parecia ser a música que tocava no local. Agora além da visão se fechar, a audição veio mostrar que também está indo embora. Ali mal via algo... Mal ouvia, então balancei a cabeça e os vi novamente.
_ Não quero mais saber, se vira! _ Apontava Enzo no meu nariz com seu dedo inquisitivo. _ Amanhã... Amanhã, quero que você vá embora! Ouviu? Amanhã!!!
Foi isso mesmo que escutei? O Enzo acabou de me expulsar da sua casa? Assim que me virei pra procurar Tavinho, seu namorado já havia puxado pelo braço e o arrancado do local me deixando total a mercê do destino que nem sempre é justo, principalmente com pessoas na minha situação. E nesse segundo de vazio, que tenho certeza que entrei em colapso, meu peito tamborilava ao ritmo da batida e meus pés, pescoço, braço e visão se moviam no ritmo de outra música que desconhecia.
Só me senti assim uma vez na vida, foi no ano novo na casa do meu amigo de trabalho, eu fiquei bêbado pela primeira vez e foi horrível, meu corpo não me obedecia, via tudo girar, mais ao contrário de hoje, naquele dia eu sabia onde e com quem estava, onde iria dormir já que ficaria a noite de ano novo por lá. Ao contrário da noite da virada, nessa balada eu mal sabia chegar em casa, com toda certeza não conseguiria me deslocar alguns metros de onde estava antes de apagar, e o pior, não conhecia ninguém o que consequentemente me apavorava a cada segundo mais. Quanto tempo eu conseguiria me manter acordado? Onde dormiria? E a única gota de esperança deu ir para casa sã e salvo era com o Tavinho, assim que me decidi sair daquela boate e tentar pedir ajuda, infelizmente foi o que consegui pensar, até porque de alguma forma, alguém dali de dentro não queria me ver bem isso me causava mais pavor ainda só de pensar o que ela faria se conseguisse me ter em sua posse. Traduzindo, não havia outra maneira, teria mesmo que sair daquele ambiente.
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Gerard Sai de Férias
Storie d'amoreEntediado de ficar no Rio, Gerard vai passar as férias do trabalho na casa do seu amigo em São Paulo no qual ele não o vê a quatro anos desde quando ele foi morar lá. Porém ao chegar no local, Gerard descobre que seu amigo de infância estava bem di...