Gerard Sai de Férias

Iogurte e Beliscão

Quatro dias já se passaram desde a minha visita, e muitas coisas me ocorreram. Algumas boas, divertidas... Outras nem tanto. Assim que acordei, me lembrei de Enzo recebendo aquele pequeno pacote de cocaína, aquilo acabou comigo na noite passada. Como ele foi capaz de se entregar, se rebaixar a “Aquilo”? É repugnante só de pensar. Eu tento, mas não consigo entender.

   _ Seria esse o motivo de suas ‘fugidinhas’ desnecessárias? Seria esse o motivo de suas brigas sem sentido com seu namorado? Buscar drogas? Mas por quê?

Eu não comentei nada com nenhum dos dois sobre o ocorrido. Nenhum dos dois havia acordado ainda. Então como de rotina fui comprar pão e mortadela, entre outras coisas no supermercado de sempre. Assim que passo a chave na fechadura, dou de cara com Camargo, que fazia o mesmo que eu, ele saía arrumado para ir cedo á academia. 

Eu não queria vê-lo tão cedo, hoje não!

Fingia que esperava o elevador enquanto ele caminhava lentamente na minha direção pelo corredor, quando finjo que entro no elevador que aparece, ele rapidamente acelera o passo e se joga dentro da cabine, então eu dou um passo para trás com um sorriso malvado e fico do lado de fora assim que as portas se fecham com ele dentro. Paulo não esperava que eu fosse despistá-lo, e com o olhar duvidoso levantou a sobrancelha enquanto ia embora.

Minha cabeça fervilhava já logo cedo, pensei novamente no beijo seu roubado enquanto descia lentamente os degraus da saída de emergência do apartamento para não me encontrar com ele lá no térreo. 

Entre o terceiro e o quarto andar, ouço uma leve risadinha que aumentava a cada passo mais silencioso que eu dava, foi aí que reconheci a voz, Enzo conversava e ria com alguém de um modo contido, uma voz rouca que eu já havia escutado antes e me escondi degraus acima para que nenhum dos dois pudessem me ver, eu apenas via suas duas sombras. Eles se despedem, e o outro desce rapidamente as escadas sumindo do meu campo de visão. Enzo ainda sorridente sobe alguns degraus e da logo de cara comigo. Eu o encarava mais sério que nunca, então a me ver seu sorriso some e seu olhar cresce surpreso e assustado.

Já era a segunda vez que o pegava fazendo coisas suspeitas.

   _ O quê você está fazendo? _ Comecei. _ Você tem noção da merda que está aprontando?

   _ Eu não sei do que você está falando! _ Disse ele subindo sem me olhar nos olhos.

   _ Vai ser sempre assim agora? Vai ficar sempre se fingindo de inocente, isso é uma coisa que você nunca foi!

Ele continuou a subir mudo e de olhar vago.

   _ Não se preocupe não, por que eu não vou contar pro Tavinho se é o que está pensando. Ele morreria de desgosto se soubesse disso.

Enzo parou em um degrau por alguns segundos, parecia querer dizer algo, mas continuou a subir ainda mudo.

   _ Enzo, olha pra mim! _ Gritei. _ Eu não vou te julgar, não vou... Eu só estou tentando te entender! Me explica. Por quê?

   _ Eu ainda não sei do que você está falando. _ Enzo rebateu sumindo do meu campo de visão.

Saindo das escadas, já do lado de fora do apartamento atravessando o outro lado da rua, vejo o mesmo loiro que estava junto com Enzo dentro do banheiro, realmente era o mesmo homem loiro com a voz rouca que agora sumia naquela multidão de gente. 

   Chegando ao supermercado, compro pão de forma, queijo, presunto, mas quando vou à parte de laticínios onde se encontrava os patês e a manteiga sou novamente alvejado pelo inusitado, enquanto verifico o preço e o sabor do patê, alguém que passava por trás de mim belisca a minha bunda. Eu me assustei de imediato, isso não é algo de se ocorrer comigo, principalmente em outro estado, ou principalmente em supermercado. Para a minha infelicidade um carma já endereçado a mim veio mostrar que por ali passava, Paulo se encontrava do meu lado, sorrindo diabolicamente para mim ao pegar um iogurte enquanto eu o encarava quase jogado dentro da prateleira de pasteis e margarinas... Minha vontade era de matá-lo de tanto ódio que eu fiquei.