Capítulo 6 - Uma Sultana nas Arábias

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Chegamos ao hotel e Lucas fez o favor de fazer a divisão de quartos e, sem surpresas, um por jogador. Isso causou uma alegria em excesso por partes deles, mas eu estava apreensiva ainda. Fui a primeira a pegar a chave e subir, se eu fosse ter liberdade para conversar com minha equipe, que fosse no meu ambiente!
Alisson veio logo atrás de mim e, quando chegamos no andar, percebi as diversas portas. É, talvez coubesse todo mundo ali folgadamente. Parecia um dos hotéis que ficamos na Rússia. Encontrei meu quarto e entrei no mesmo, deixando minha mala e mochila, dando uma rápida olhada na decoração e voltei para o corredor, vendo a outra leva de jogadores começarem a chegar.
- Gente, juntem aqui rapidinho, por favor. Prefiro falar aqui com vocês. – Falei um tanto alto, olhando em volta à procura de câmeras e bufei ao encontrar uma. Mal via a hora de tirar isso da cabeça. – Droga, tem câmera! – Bufei e Alisson virou para a mesma.
- Quer dizer que eu não vou conseguir fugir para seu quarto?
- Conseguir você até pode, só não sei o quanto isso vai afetar os seguranças. – Suspirei.
- Eu estou ferrado! – Ele cochichou e eu dei de ombros.
- O que é pior: namorar à distância ou estar perto e não poder se tocar? – Perguntei em brincadeira e ele riu fracamente.
- A segunda opção, né?! – Ele cruzou os braços e eu sorri.
- Acho que estão todos aqui. – Tite falou, chamando minha atenção e eu olhei para eles.
- Rapidinho, gente! São sete da manhã, o dia já amanheceu e estamos virados. – Respirei fundo. – Primeiro, agradeço ao Tite por todas as restrições para fazer com que eu faça parte disso. Agora às minhas instruções: hoje vocês têm um café já para vocês lá embaixo, creio que todos estão com fome se dormiram igual eu e perderam as refeições no voo. – Eles riram. - Hoje vocês começarão o treino depois do almoço, o almoço está marcado para as duas da tarde, descansem bastante, começaremos devagar. Será no estádio King Saud e será aquele esquema de sempre de coletiva e acompanhamento, beleza? Amanhã já é o jogo contra a Arábia Saudita, ok?! Vini, Lucas e Lê, vocês dão uma volta com o Canarinho por Riad antes do jogo, não sei se vou conseguir acompanhá-los. Depois do jogo, vamos para Jidá, beleza? Lá eu dou outras informações. – Sorri. – Vocês podem tomar café e descansar ou descansar e ir almoçar, fiquem à vontade. – Sorri, e eles assentiram com a cabeça.
- Vamos ver como é banheiro? – Fabinho brincou e eu gargalhei.
- Tenho até medo. – Falei rindo e ele sorriu.
- O que vai fazer? – Alisson perguntou e eu suspirei.
- Não quer contrabandear comida para mim? Eu realmente preciso tirar isso daqui da cabeça. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu vou lá, trago para nós dois. – Assenti com a cabeça.
- Eu não posso encostar em você, mas eu te amo, ok?! – Ele piscou.
- Eu também! – Rimos juntos e ele seguiu o pessoal que foi para o elevador e eu fiquei parada no meio do corredor.
- É um buraco no chão! – Fabinho gritou e apareceu novamente no corredor, fazendo outros também aparecerem. – E tem bidê! – Rimos fracamente. - Mas tem papel! – Bati a mão na cabeça, sorrindo.
- Menos mal. Agora quero ver como farei xixi nisso. – Suspirei. – Para vocês é fácil.
- A gente mira! – Ederson brincou e eu neguei com a cabeça.
- Até mais, gente! – Falei, entrando em meu quarto e puxando o tecido com força da minha cabeça.


O primeiro dia acabou sendo menos surtado. Após Alisson trazer um lanche para mim e comermos juntos no corredor do hotel junto de Jesus e Firmino, cada um seguiu para o seu quarto e foi a primeira vez que me despedi de Alisson pessoalmente com um aceno. Nunca tivemos problemas com informações vazadas por hotéis, e olha que Alisson já fugiu muito para o meu quarto e eu para o dele, nós nunca nem nos preocupamos com câmeras, mas agora era diferente, eu não fazia a mínima ideia de onde estava me metendo.
E eu já achava a Rússia meio louca!
Mesmo sem a companhia de Alisson, o sono permitiu com que eu dormisse até a hora do despertador, tomei um banho e optei por usar minha roupa tradicional de cada dia, já que eu poderia tirar no treino, e a roupa tradicional para mulheres por cima. Fiz uma trança em meus cabelos e coloquei o hijab por cima, seguindo para o elevador.
Encontrei a turma já no restaurante e arranquei a roupa larga quando as portas se fecharam. O pessoal até riu do meu alívio. Acredite, ele era grande! Almoçamos com calma, ficamos papeando até a hora de ir e aproveitei a deixa para trocar uns beijos com meu namorado. Enfiei a roupa novamente, me senti observada e julgada enquanto saíamos do hotel, mas me senti mais confortável quando cheguei ao estádio e me livrei de minhas roupas, ficando mais como eu.
Aquela tarde passou rápido, todo mundo estava meio sonolento ainda pelas pouco menos de cinco horas de sono, mas como o sol baixava cedo em Riad, ficamos lá até umas sete da noite. Eu fiquei observando os jogadores treinando, dando aquela boa analisada em meu namorado e em suas habilidades com os pés e só precisei dar um auxílio para Coutinho, Tite e Cléber que teriam coletivas, passar algumas rápidas instruções para Lucas e Vinícius, além de fazer toda a tática de acompanhar a coletiva de fora que Leandro preparou para mim em meu celular.
Confesso que não foi nada legal acompanhar isso do banheiro, mas foi o único lugar que deu para acompanhar em silêncio. Esse estádio tinha uma péssima acústica, o que não me ajudou muito, mas ninguém falou merda para que eu precisasse correr atrás para resolver isso.
Antes de voltarmos para o hotel e de eu colocar minha roupa de noviça voadora, Alisson aproveitou um momento a sós para me dar um longo beijo, fazendo com que todos os jogadores e equipe técnica aplaudissem e se surpreendessem, porque foi um puta beijo.
- Nossa, o que é que é isso, hein?! – Casemiro gritou e eu ri, nos separando.
- Né?! – Virei para Alisson e ele riu.
- Preciso aproveitar enquanto posso. – Ele me apertou pela cintura e eu ri.
- E eu preciso colocar minha roupa de freira de novo. – Revirei os olhos, fazendo-o rir. – Sério, é assim que eu me sinto com isso. – Eles riram.
- Feiras não podem beijar. – Firmino gritou e eu mostrei a língua para ele.
- Não podem fazer muitas coisas, por sinal. – Brinquei e eles riram.
Voltamos para o hotel e eu gostaria de dizer que fiquei conversando com meu namorado até tarde no restaurante do hotel, aproveitando alguns minutinhos juntos. O ideal seria juntos e sozinhos, mas todo mundo estava morrendo de sono, então não demorou para cada um seguir para seu caminho e eu me arrumar para seguir pelo caminho dos sonhos.

Passaporte Brasil, 2019 | Alisson BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora