Capítulo 5 - Da Felicidade ao Desespero

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- Senhorita? – Tomei um susto, abrindo os olhos e olhei para o motorista virado para trás, me encarando.
- Oi! – Falei encabulada, havia dormido de novo.
- Chegamos! – Ele olhou para a janela do carona e eu virei para o lado, vendo o galo azul do Tottenham nas paredes de tijolo à vista do CT do time.
- Há quanto tempo estamos aqui? – Perguntei.
- Uns 10 minutos. – Ele respondeu rindo e eu fiz uma careta.
- Obrigada mesmo! – Empurrei a porta da van, sentindo o sol bater em meu rosto e franzi os olhos.
Coloquei a mochila nas costas e puxei minha mala gigantesca da van. Eu acabei exagerando no tamanho da mala dessa vez, fiz mala para quase 20 dias por causa de tudo isso, ainda bem que eles davam os uniformes. Um funcionário do CT se aproximou e sorri ao vê-lo pegar minha mala, fiz questão de ajeitar o crachá em meu pescoço e segui o funcionário, passando pelas portas de vidro do prédio principal do CT.
- Senhorita Lima? – Virei para o lado, encontrando quem pareceu ser o gerente do hotel.
- Sim, o senhor é...
- Sylvan Smith, gerente. – Ele esticou a mão e eu o cumprimente.
- Alessandra Lima, assessora da CBF. – Ele sorriu.
- Disseram que você chegaria por essa hora. – Olhei o relógio, vendo que passava das 10.
- Eu estava em Nottingham, pegamos um pouco de trânsito. – Ele assentiu com a cabeça.
- Todos os jogadores e equipe técnica já estão alocados em seus respectivos quartos e estão no restaurante tomando café. Você gostaria de se acomodar ou encontrá-los antes? – Ele perguntou e eu dei um pequeno sorriso.
- Vou me apresentar antes. – Ele assentiu com a cabeça.
- Podemos levar suas coisas para o quarto enquanto isso?
- Claro! – Tirei a mochila das costas, pegando o celular na rede nas laterais e o coloquei no bolso. – Obrigada! – Entreguei para o mesmo e ele sorriu.
- Quarto 25, senhorita. – Ele me entregou uma chave e eu a peguei, sorrindo. – O restaurante é seguindo o corredor. – Ele disse e eu confirmei.
- Obrigada! – Ele se afastou e eu respirei fundo.
Olhei rapidamente para os lados e encontrei a entrada para o corredor e segui até a mesma. Assim que eu entrei, reparei as paredes de vidro mostrando o restaurante lá dentro. Sorri ao ver rostos conhecidos e a tão conhecida bagunça. Fechei a mão e bati os nós nos dedos no vidro, chamando atenção de Lucas, Coutinho e Jesus que estavam lá dentro e eles sorriram ao me ver. Dei passos mais rápidos até a porta dupla em minha frente e empurrei-as, virando para a esquerda, encontrando todo mundo.
- Ah! – Lucas gritou animadamente e me abraçou forte, me fazendo rir e tirar os pés do chão por alguns segundos. – Senti sua falta, sua louca! – Gargalhamos juntos e ele me soltou, virei o corpo e encontrei Alisson me encarando com um largo sorriso no rosto.
- Filha da mãe! – Ele falou e eu gargalhei, passando os braços pelos seus ombros, sentindo-o me apertar pela cintura e me tirar alguns centímetros do chão. – Você estava tão perto, mas tão longe. – Ele cochichou contra meu ouvido e eu suspirei, puxando o delicioso cheiro de seu perfume.
- Melhor perto do que longe. – O encarei quando ele me colocou no chão novamente e colamos nossos lábios delicadamente, nos afastando segundos depois.
- Senti sua falta. – Ele falou contra meus lábios e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Sempre, sempre! – Disse, ajeitando o boné que estava em sua cabeça na posição correta. Me virei para o restaurante novamente, observando que as pessoas me olhavam.
- Fala aí, garota! – Tite falou e eu sorri.
- Alessandra Lima se apresentando para o serviço, senhor. – Brinquei e ele riu, me puxando para um abraço.
- Vai se entregar por indisciplina também? – Ele brincou e ri.
- Ainda não! – Sorri e me afastei, seguindo para o resto do pessoal.
Dessa vez tínhamos a volta de alguns antigos jogadores, como meus queridos: Ederson, Jesus, Danilo e Miranda. Além de pessoas novas como Phelipe, da sub-20, Pablo e Walace. O resto do pessoal eram bons amigos ou humildes conhecidos, além da equipe técnica de sempre.
- Senti sua falta, garota! – Ederson comentou e eu o abracei de lado, sorrindo.
- Eu também, como está o Henrique? – Perguntei sobre seu recém-nascido.
- Ah, está tudo bem, graças a Deus. Só crescendo.
- Ele é lindo demais, meu Deus! Não sei como pode, dois filhos lindos dessa coisa estranha aqui. – Brinquei e ele mostrou a língua.
- Acho que puxou a esposa. – Jesus comentou e eu ri.
- Você também, sumido! – Cutuquei sua barriga e ele riu, me apertando em um abraço. – Senti sua falta.
- Eu também. – Ele sorriu.
- Bom, vamos trabalhar? – Edu perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Eu preciso falar umas coisas, mas acabei de lembrar que ficou tudo na mochila. – Franzi a testa. - Deixa eu ver se eu lembro. – Peguei o celular, procurando o bloco de notas. – Vamos lá! Oi, pessoal. Eu sou Alessandra, assessora de viagens da CBF e assessora chefe dessa viagem, além de única assessora. – Dei de ombros e eles riram. – Eles acharam uma boa ideia trazer uma mulher para uma viagem para a Arábia Saudita e uma única assessora para um jogo contra a Argentina, faz parte. – Brinquei. – Agora falando sério, nós temos 10 dias nesse amistoso, treinaremos até o dia 10 aqui, depois viajaremos para Riad, na Arábia Saudita, aonde faremos um jogo contra os donos da casa, depois iremos para Jidá jogar contra a Argentina. – Eles assentiram com a cabeça. – Aposto que os horários e informativos já foram passados e o restante, ou problemas, vocês vêm falar comigo. – Suspirei. – Só mais uma coisa, creio que a maioria já sabe, temos poucos nomes novos, mas eu e Alisson somos um casal, mas isso não sai daqui, ok?! – Virei para Alisson. – Ainda estamos em segredo, não é?!
- A última informação que eu recebi foi essa. – Rimos juntos.
- Eu conto para todo mundo, isso vai acabar vazando. – Ele revirou os olhos.
- Abafa o caso! – Rimos juntos.
- Enfim, gente, além disso todo dia tem uma coletiva e a escolha é feita pela equipe técnica, eu só os levo para cumprir esse dever, ok?! Não matem o mensageiro. – Eles sorriram. – Horário de treino e descanso serão dados por Tite. Questões de problemas pessoais e eventos extras, comigo. Além de que vocês não têm permissão para sair daqui sem aviso prévio e cuidem desse celular, nada de revelar coisas que não devem. – Eles riram. – Vejo que alguns de vocês chegaram agora também, outros já estão acomodados, então vamos nos organizar que vocês já têm treino à tarde.
- Você também. – Tite se aproximou. – Não quer descansar ou algo assim?
- Eu dormi ontem e hoje a viagem inteira. – Mexi o corpo. – Eu joguei com as meninas da feminina e estou à base de analgésico. – Ri fracamente.
- Com as meninas você joga, é?! – Coutinho perguntou bravo e eu dei um sorriso sem graça.
- E quase morri, mas tá valendo! – Eles riram. – Levei uma bolada na barriga que tirou minha alma.
- Mas pegou a bola, né?! – Taffarel perguntou e eu ri.
- Obviamente. – Ele me abraçou de lado, rindo.
- Assim que eu gosto.
- Depois eu compenso com vocês, meninos, prometo. – Eles riram. - Acho que eu vou comer algo, depois me ajeito. – Comentei.
- Vem, eu te ajudo! – Alisson comentou e eu passei o braço pela sua cintura, me levando para o buffet. - Como você está? – Ele perguntou, depositando um beijo em minha cabeça.
- Tudo certo, ainda um pouco dolorida, mas bem. E você? – Sorri, pegando uma bandeja e um prato.
- Tudo bem também. – Sorrimos.
- Não sei se é porque faz menos tempo ou se eu vim mil vezes para Londres, mas parece que eu te vi ontem. – Falei e ele sorriu.
- Com o tempo vai ficando mais comum, os encontros são mais rápidos, nossos dias estão mais corridos. – Ele comentou. – Só no fim do ano talvez fique meio bagunçado, mas a gente dá um jeito.
- Certeza que a CBF vai ter férias coletivas, eu vou te visitar em Liverpool. – Pisquei e ele riu. – A não ser que prefira passar o fim de ano no calor infernal do Brasil.
- Vou adorar te receber. – Ele disse e eu sorri. – Ovo mexido? – Ele perguntou e eu estendi o prato, vendo-o servir uma colher do mesmo. – Bacon?
- Não! Quem come bacon de manhã? – Ele riu.
- Já ouviu falar no English breakfast? – Ele perguntou e senti meu corpo arrepiar.
- Mais do que eu gostaria. – Falei e ele gargalhou.

Passaporte Brasil, 2019 | Alisson BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora