Capítulo 12

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De noite eu resolvi fazer uma lasanha e assim que eu coloquei no forno mandei o Kauã pro banho e fui tomar o meu. Saí do banheiro, me vesti e peguei o celular com medo de alguém ter mandando mensagem e eu não ter visto. Larguei o celular na cama quando vi que não tinha mensagem nenhuma e fui até o banheiro colocar a toalha, quando eu saí dei de cara com o Éverton na porta.

- Que susto - falei colocando a mão no peito quando ele entrou no quarto e olhei cada detalhe dele me certificando que não estava machucado

- Tô bem sim - confirmou e eu dei um abraço apertado nele - Fui lá no postinho fazer o curativo

- E o Novinho? - perguntei preocupada

- Tá em observação mas graças a Deus não é nada grave, o tiro dele pegou na barriga - contou - O médico disse que ele teve muita sorte

- Teve mesmo - concordei e ele foi até o armário, pegou uma mochila e começou a encher de roupa - Que isso? - perguntei confusa

- Eu vou precisar passar uns dias em outra favela - falou e eu tentei entender

- Você está indo embora? - perguntei séria

- Eu vou voltar - garantiu - Mas não tá dando pra ficar por aqui, o Dg entrou em contato com o Comando e eles mandaram deixar uma parte aqui e os gerentes ir pra outra favela

- Eu não tô acreditando - me sentei na cama e coloquei as mãos no rosto

- É algo rápido, Nat - falou e eu ri sem humor

- Não é pelo tempo - neguei com a cabeça

- Eu não posso fazer nada - falou baixo e eu sabia que era verdade, infelizmente ele não poderia fazer nada

- Quem mais vai? - perguntei olhando pra ele

- Eu, Rael, MV, Menor e Dg - contou - E uma parte da tropa

- Tem certeza que você vai? - perguntei sentindo um aperto no coração como se algo ruim fosse acontecer porém eu não sabia o que

- Não tenho escolha - fechou a mochila e se aproximou

- Se cuida, por favor - falei sentindo os meus olhos se encherem de lágrimas

- Eu vou me cuidar - segurou firme o meu rosto e olhou nos meus olhos - Não sei o que pode acontecer, mas caso eu não volte saiba que eu te amo muito

- Não fala essas coisas - falei sentindo as lágrimas escorrerem e ele me deu um selinho demorado

- Você me ensinou muita coisa, Nat, me ajudou pra caralho - falou e eu só sabia chorar - Eu levo uma vida muito filha da puta, não sei quando eu vou voltar vivo e por mais que isso me doa eu quero que você seja feliz caso aconteça alguma coisa comigo

- Por que você tá falando essas coisas? Você nunca fala - falei e ele me abraçou

- Eu tô com medo - confessou e riu sem humor -

- Éverton - falei quase sem voz

- Presta atenção - falou sério - Sabe as pastas que eu guardo? - perguntou e eu confirmei com a cabeça - Lá dentro tem um monte de documentos, casas, conta de banco e tudo mais, se algo acontecer comigo você pega. O Rael me ajudou e eu acertei tudo pra você e pra minha mãe ficarem bem

- Para - pedi chorando

- Só faz o que eu te falei - falou sério - Você entendeu?

- Entendi - confirmei - Eu te amo

- Te amo, Nat - me deu um beijo rápido - Eu preciso ir, tchau

- Tchau - falei quase sem voz quando ele saiu me dando um abraço e me sentei na cama, eu tentava controlar o choro mas estava difícil. Eu não sabia se ele voltaria  ou eu só receberia a notícia da morte dele igual foi com o Michel

- Mãe, eu posso - Kauã entrou no quarto falando mas ficou quieto de repente - Mãe, o que foi? - perguntou preocupado

- Nada, eu só - tentei falar mas ele não consegui

- Mãe - se sentou ao meu lado e quando me abraçou eu caí no choro - Alguém morreu? - perguntou com medo

- Não - falei com dificuldade - Eu só tô com medo

- Não tem problema chorar - falou tentando manter a voz firme e continuou me abraçando - Não é?

- É sim - confirmei o que eu sempre falei pra ele

Eu chorei tudo que estava preso, era algo que eu precisava e no fundo me fez até bem. O Kauã teria um jogo importante e eu estava com a minha mãe arrumando as coisas pra ir para o apartamento.

- Eu vou ficar só alguns dias lá, ele tem o jogo e é bom pra distrair - terminei de colocar as coisas do Kauã na mochila e fechei a mesma

- Fica mais dias - falou me olhando

- Não dá pra eu sair assim do nada - falei óbvia

- Pelo amor de deus, Nathália, parece até que enterrou o umbigo nessa favela, vai curtir o seu filho e esquece um pouco a loucura que tá esse morro, minha filha - falou séria - Eu gosto do Éverton como se fosse meu filho mas você tem que espairecer um pouco, sabia? Se divertir além daqui, ele realmente pode levar uma bala e morrer mas também pode viver por muito e muitos anos enquanto você fica aqui igual doida, isso não faz bem pra ninguém

- Você acha que eu tenho que ficar mais dias? - perguntei incerta

- Acho não - negou com a cabeça - Tenho certeza disso, pega o Kauã e vai passear

- Vou fazer isso - falei e ela sorriu

- Isso mesmo - falou animada

- Já ia esquecendo - falei de repente - A Juliana me contou

- Contou o que? - perguntou confusa e eu peguei a mochila do Kauã

- Que você tá de conversa com um coroa bonitão - falei e ela revirou os olhos

- Duas fofoqueiras - falou e eu ri

- Me conta - pedi e saímos do quarto do Kauã

- 56 anos, divorciado e tem um casal de filhos da sua idade e da idade da Gabi - falou sorrindo

- Ele faz o que da vida? - perguntei curiosa e descemos

- Empresário - contou e eu assenti - Mas o filho que tá tomando conta da empresa agora

- Arrumou um sugar daddy - falei e ela deu um tapa no meu braço

- Me respeita, palhaça - falou e eu acabei rindo

- Tá feliz? - perguntei pegando as minhas chaves

- Muito - afirmou - Você e a Gabi estão vivendo bem, a Ju que eu orei tanto pra não ser uma perdida tá estudando e logo se forma na faculdade

- Tá tudo indo bem - sorri - Vamos, Kauã

- Vamos - se levantou e nos despedimos da minha mãe

NatháliaOnde histórias criam vida. Descubra agora