Capítulo 36

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- Imagino - sorri e me lembrei de quando eu conheci ele na natação - E a história do acidente? Quando nos conhecemos você estava de muletas

- 5 jovens ricos e mimados decidiram ir para uma festa em um sítio, encheram o cu de cachaça e de droga - começou a falar e eu terminei de comer - Quando o dia estava amanhecendo eles decidiram ir embora, o carro capotou e caiu em uma ribanceira, dos 5, 4 foram a óbito

- Dei sorte de estar vivo - lembrei do que ele me falou na época da natação

- Muita sorte - passou a mão no rosto e suspirou - O estado que ficou o carro e os corpos era como se eu tivesse caído de bicicleta só

- Seu único problema foi a perna? - perguntei e ele negou

- Três meses em coma, machucados e várias fraturas pelo corpo, mas a perna foi a "pior" - falou e eu fiz careta

- Três meses em coma? Meu deus - falei assustada

- Levando em conta que um amigo meu teve a cabeça decepada - falou bebendo um pouco do vinho

- Você saiu ótimo do acidente - falei rápido

- Sim - confirmou sorrindo fraco

- A sua vida mudou muito depois? - perguntei curiosa

- Demais - confirmou - Eu sempre amei o Gabriel como filho mas confesso que deixava a responsabilidade pros meus pais, depois do acidente eu percebi que não queria que ele se tornasse um Rafael 2.0

- Posso te perguntar uma coisa? - perguntei olhando pra ele

- Pode sim - balançou a cabeça

- Se você não fosse médico gostaria de ser o que? - perguntei interessada

- Não sei te responder - suspirou - Nunca nem passou outra coisa pela cabeça, o meu destino já estava traçado antes até dos meus pais casarem

- Mas você gosta? - perguntei e ele assentiu

- Gosto - afirmou - Sempre tive facilidade pra aprender as matérias e felizmente eu me apaixonei pela medicina

- E quer que o Gabriel se torne médico? - perguntei e ele negou

- Eu quero que o Gabriel seja o que ele quiser - falou sorrindo - E eu deixo bem claro que ele pode ser o que quiser que irei apoiar 

- Tá certo - falei e ele sorriu - Isso porque não tinha história, né?

- Pra mim é normal - deu de ombros

- Você se dá bem com os seus pais? - perguntei curiosa

- Muito - sorriu - Nunca odiei eles e nem nada do tipo

- Menos mal - falei olhando pra ele

- Me conta a sua história agora - pediu

- Vamos lá - falei bebendo e respirei fundo

Eu contei toda a minha história pra ele e eu digo tudo mesmo, inclusive sobre a vida que o Michel levava, coisa que nem o Éverton e os meus amigos/familiares sabiam.

- E foi isso - terminei de contar a minha história e eu contei tudo mesmo

- Uau - falou surpreso - Deixa eu ver se eu entendi direito - deu uma pausa - Você estava com o pai do seu filho desde os 14, teve filho, casou, descobriu que ele era homossexual, viveu uma vida dupla com ele, o mesmo era dono do morro e morreu em um confronto, depois você se relacionou com o seu último ex que também era traficante

- Isso mesmo - confirmei

- Eu tô surpreso, muito surpreso - falou rindo baixo - Mas eu só te admiro mais

- Me admira? - perguntei confusa

- Sim, olha a força que você tem, perdeu o marido e conseguiu terminar de criar o filho sozinha - falou óbvio - E ainda teve a coragem de seguir em frente mesmo amando o seu ex

- Não vai me julgar - perguntei e terminei de beber o meu vinho

- Te julgar? Eu não - falou confuso - Por que eu te julgaria?

- Casei com dois traficantes - falei e ele negou com a cabeça

- Eu fui um jovem babaca que enchia a cara de cachaça e droga sem motivo, e você não me julgou por isso - falou me olhando

- É um pouco diferente - comecei a falar e ele me interrompeu

- Desde cedo os meus pais me falavam que um médico não pode julgar, eu devo confessar que quando era mais novo não entendia o porquê - me olhou - Mas aí eles falaram que quando você julga você tende a não querer ajudar ou não conhecer a pessoa, e na minha profissão isso seria um grande erro. Não concordo com a escolha de muitos pacientes e as vezes procuro nem saber toda a história por trás de uma bala alojada na cabeça, principalmente quando é a polícia que traz, eu não posso e nem vou julgar as escolhas dos outros

- Nesse caso eu não sou paciente - falei e ele riu fraco

- Eu não sou hipócrita - falou simples - Merda por merda eu também já fiz e se colocar pecado na mesa o seu foi amar alguém da vida errada, menor que os meus que fiz as coisas sem motivo

- Por esse lado - falei pensativa

- Você ainda sente algo pelo seu ex? - perguntou mudando de assunto

- Carinho - sorri - Ele foi muito importante pra mim mas aos poucos o amor que eu sentia por ele se transformou

- É legal quando o relacionamento acaba e permanece o respeito e carinho - falou e trouxeram as nossas sobremesas

- Acha isso mesmo ou fala por falar? - perguntei e ele riu

- Eu realmente acho, tenho uma ex que eu me dou super bem - contou

- Sem sentimentos? - perguntei olhando pra ele

- Sem sentimentos - afirmou

- Entendi - falei e ele sorriu de lado

Comemos a nossa sobremesa e ficamos um tempo ainda no restaurante batendo papo, eu gostava de conversar com ele e a nossa conversa fluía muito bem. Até ficaríamos mais tempo lá só que ele não poderia demorar chegar muito tarde já que iria operar a amiga amanhã. Assim que chegamos eu desci do carro e ele desceu em seguida.

- Eu amei o nosso jantar - desci do carro

- Gostou mesmo? - se encostou no carro e ficou me olhando

- Mesmo - confirmei sorrindo

- Foi muito bom conversar abertamente assim, fazia tempo que eu não fazia isso e foi maravilhoso - coloquei o cabelo atrás da orelha - Você é sensacional, doutor Andrada

- Eu digo o mesmo, Nathália - falou e eu sorri

- Pode me chamar de Nat - falei e ele ficou me olhando

- Só quando você parar de me chamar de doutor Andrada - falou e eu neguei

- Acho legal - dei de ombros

- Nada feito, Nathália - frizou o meu nome e eu acabei rindo

- Doutor Andrada - falei pausadamente

- Para de me chamar assim - pediu e eu mordi o canto da boca pensativa

- Não gosta de ser chamado de doutor Andrada, doutor Andrada? - perguntei e ele bufou

- Depende da situação - falou e eu notei o toque de malícia na voz dele - Mas eu gosto mais de você me chamando de Rafael - admitiu

- Ok, Andrada - provoquei

- É Rafael - falou pausadamente e me puxou levemente fazendo os nossos corpos ficarem colados - Repete comigo: Rafael

- Doutor Andrada - falei pausadamente e percebi ele olhando para os meus lábios

Quando eu me dei conta ele tinha colado os nossos lábios. Pediu passagem e eu cedi, aos poucos o beijo foi ganhando intensidade, sorri em meio ao beijo na hora que ele apertou a minha cintura e eu arranhei a nuca dele levemente e o mesmo chupou o meu lábio.

NatháliaOnde histórias criam vida. Descubra agora