Capítulo 38 - ÚLTIMO

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 Não precisei me aproximar muito para ver meu nome escrito naquele papel dobrado de qualquer jeito. Também não foi difícil reconhecer a letra de Lucas, por isso, antes de pensar em me aproximar para pegar a carta, eu dei as costas para o papel e tentei me concentrar em terminar de arrumar meu quarto. Não queria ler aquilo, porque eu sabia o que estaria escrito e isso explicaria porque Lucas estava agindo de forma estranha no dia anterior.

Tentei de todas as maneiras ignorar aquele papel sobre a mesa de meu computador e então continuei fazendo tudo o que tinha antes que Felipe chegasse para aula de violão. Tomei um banho, arrumei o quarto, sempre de olho no papel jogado ali. Depois, desci para tomar café da manhã na companhia de meu pai, Clarisse e Pedro. Eles notaram meu desconforto, mas não perguntaram o que estava acontecendo, apenas me encaravam tentando entender meu silêncio de distração. Também fiquei alguns minutos no quarto de Giovana, brincando com ela que estava dentro de seu berço, toda encolhida. Em seguida passei alguns minutos com Gustavo, jogando algumas partidas de vídeo game, e foi enquanto fazia isso, que Maria me avisou sobre a chegada de Felipe. Ele estava em meu quarto, sentado na cama, já tocando seu violão, mas ele parou assim que me viu entrar e sorriu.

- Bom dia! – disse Felipe, sorridente como sempre.

- Bom dia. – falei indo diretamente até o guarda-roupa e pegando meu violão que estava guardado ali dentro. Pude sentir o olhar de Felipe queimando em minhas costas, e quando virei, tive certeza disso, pois ele me encarava seriamente. – O que foi? – perguntei, sentando da cama, ao seu lado.

- Está tudo bem com você? – perguntou ele, me olhando nos olhos. Fiquei alguns segundos calado e então afirmei com a cabeça. Felipe me olhou com um ar desconfiado, mas não insistiu naquilo, como eu já esperava. Ele apenas começou a me dar a aula daquele dia.

••

Meia hora havia se passado desde que Felipe havia começado a me explicar várias coisas relacionadas ao violão, mas eu estava distraído demais para prestar atenção. Minha cabeça estava em outro lugar. Aquele papel que estava em cima da mesa, parecia atrair meu olhar o tempo todo, e é obvio que Felipe percebeu esse detalhe.

- Ok! Vamos parar. Você não está legal e hoje não é um bom dia. – disse ele, largando seu violão em cima de minha cama.

- Desculpa. – falei, também largando meu violão. Felipe deu os ombros.

- Ainda é o problema com sua avó? – perguntou ele. Eu neguei com a cabeça e Felipe apenas franziu seus lábios enquanto me olhava. Eu fiquei quieto, de cabeça baixa e pensando sobre aquele papel. O silêncio ecoou por vários minutos ali no quarto e depois disso, acabei indo até o computador e o ligando, sempre sobre o olhar curioso de Felipe, que continuou sentado em minha cama. Quando o notebook finalmente ligou, abri meu e-mail e comecei a olhá-los com atenção, mas meus olhos não encontraram uma mensagem de Samantha.

- Droga Samantha! Cadê você? – resmunguei, esquecendo que Felipe estava ali.

- Gui? Está tudo bem? – perguntou ele, levantando da cama e agachando ao meu lado.

- Claro! – falei sem olhá-lo. Meus olhos acabaram encontrando o maldito papel sobre a mesa e acabei pegando-o.

- Você está chorando. – Felipe falou, me fazendo limpar os olhos rapidamente. Respirei fundo várias vezes, tentando engolir aquilo que estava preso em minha garganta. Não ia chorar mais uma vez por causa de Lucas. Não mesmo!

Precisava conversar com alguém, me abrir e colocar tudo aquilo para fora. Tudo o que estava acontecendo e o que estava sentindo, mas a pessoa certa para fazer isso estava do outro lado do mundo, longe de mim. Já fazia alguns dias que não tinha noticia de Samantha. Sabia que ela estava atarefada demais para conseguir encontrar um horário que batesse com o meu, por esse motivo, não vi outra saída a não ser me abrir com Felipe. Era isso... Ou enlouqueceria.

O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - INCERTEZAS - LIVRO 02 (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora