As primeiras aulas foram tranquilas. Tirando o fato de quê eu estava faminto. Sentia um embrulho em minha barriga, pelo fato de não ter me alimentado com absolutamente nada naquela manhã. Eu era daquelas pessoas que quando passam muito tempo sem comer alguma coisa, já se sente mal. Não era exatamente uma dor, era mais um incomodo no abdômen. Eu já nem conseguia mais prestar a atenção à aula, e Lucas, é claro, percebeu tudo.
- O que foi? –perguntou ele para mim. Eu fiz uma carinha de dor. – Está com a perna doendo? – perguntou ele, novamente. Ele falava baixo, já que todos estavam em silêncio, prestando atenção à aula.
- É fome! – falei sério. Lucas não se conteve e soltou uma risada, fazendo com que todos o olhassem. Ele ficou meio desconfiado e fingiu que nada tinha acontecido.
- Muita fome? – perguntou ele, depois de alguns segundos. Lucas ainda ria, só que disfarçadamente. Como resposta, eu afirmei com a cabeça. Devo ter feito isso igual a um cãozinho abanando o rabo, pois Lucas fez um bico para mim e eu acabei rindo. Logo em seguida, ele levantou de sua carteira. Eu não sabia o que ele ia fazer. – Professora? – ele estava chamando a atenção dela, que o olhou. – Guilherme precisa ir ao banheiro! Posso ir com ele, para ajuda-lo? – perguntou Lucas, fingindo uma inocência que não combinava com ele. Quem o via falando aquilo, até acreditava que íamos ao banheiro. E é bem lógico que a professora caiu em sua conversa. Ela até falou para termos cuidado!
Os salgados da cantina é que deveriam ter medo de mim, com a fome que eu estava!
- Espero que você não queria ir para o banheiro do ginásio. Não estou em condições, hoje. – falei quando nós dois finalmente saímos da sala. Lucas riu do que falei.
- Não! Hoje, não. – falou ele com um sorriso malicioso. - Vamos para lanchonete e aproveitar que deve estar vazio. Precisamos saciar essa fome! Minha barriga também está roncando. – disse Lucas passando a mão pelo abdômen. Eu sorri e saí andando ao seu lado, devagar.
Nós dois andamos pelo corredor em direção à cantina, lentamente. Às vezes, havia alguns degraus, e era mais complicado. Enquanto seguíamos, nós acabamos passando em frente à sala de Bianca, e para minha infelicidade, a primeira pessoa que vi, foi ela. Estava sentada bem próxima a porta. Lucas e eu trocamos um rápido olhar quando notamos que ela estava nos olhando. Na verdade, olhando mais para minha perna, do que para mim, diretamente. Lucas e eu então passamos direto. Não falei com ela, não sabia o que dizer.
- Acha que ela abriu a boca? – perguntou Lucas quando chegamos à lanchonete. Nós sentamos a mesa de sempre.
- Não sei! Mas acho que não. Você sabe como são as coisas aqui. Se já soubessem, a fofoca estaria sendo a coisa mais comentada nesse momento. – falei. Lucas franziu seus lábios, concordando comigo.
- O que vai querer? – perguntou ele. Eu olhei em direção aos salgados dentro da lanchonete e nem pensei duas vezes.
- Trás duas coxinhas. Pede as maiores! E um copo de suco também. – eu disse. Eu achei que Lucas ficaria surpreso com o que eu tinha falado. Mas ele não disse nada, apenas levantou e foi comprar os lanches.
De longe, fiquei observando-o. Ele voltou rápido, mas somente com duas garrafinhas de suco de laranja. Depois, voltou até a lanchonete. Quando Lucas voltou novamente, fiquei com os olhos arregalados. Ele tinha comprado seis salgados grandes. O cara da lanchonete teve que dar uma travessa para que ele pudesse levar os salgados até a mesa em que estávamos. – Era apenas duas coxinhas, Lucas! – falei, olhando para ele que sentou e riu, me olhando.
- As outras três são minhas! – disse ele, pegando uma e começando a comê-la rapidamente. Eu o olhei boquiaberto, por alguns segundos. Ele tinha o apetite de um dragão.
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O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - INCERTEZAS - LIVRO 02 (RASCUNHO)
RomanceLIVRO 02 "Eu queria chorar. Minhas lágrimas estavam presas em meus olhos e teimavam em não cair. Era a segunda vez que eu sentia aquela dor. Ela havia voltado, e parecia estar três vezes maior que antes. Eu sabia que tinha que ser forte, e deixar o...