Meia hora se passou quando meu pai chegou ao apartamento de Clarisse. Da cozinha, pude escutar sua voz e a de Clarisse, mas não foi só isso. Fiquei preocupado quando também ouvi a voz de Lucas. Isso me fez estremecer um pouco, e antes que eles entrassem na cozinha, Gustavo correu e sentou em meu colo. Maria, que estava preparando o almoço, só nos olhava, tentando não rir, já que ela sabia o motivo por meu irmão estar ali no meu colo.
- Resolveu dar as caras? – ironizou meu pai, assim que entrou na cozinha e me viu. Sua expressão não era nada boa. Atrás dele, estavam Clarisse e Lucas, que me olhava com uma expressão preocupada no rosto. Evitei olhá-lo.
- Nem vem! Não saí fugido de lugar nenhum. – retruquei.
- Então saiu de madrugada sem dizer a ninguém, na ponta dos pés? – perguntou meu pai. Ergui minhas sobrancelhas, vendo como ele estava levando aquilo a sério demais.
- Porque tudo isso? Eu só queria ficar sozinho, e já te disse que se não vim para cá, é porque estava muito cedo e não queria acordar vocês. Além disso, falei com Renato antes de sair. Ele estava acordado e me viu. – falei, e vi claramente que nenhum deles pensou em ligar para Renato. Isso ficou estampado na cara de todos, principalmente na de Lucas.
- Não veio para cá e foi incomodar os outros? Acordando seu amigo e a família dele? – meu pai insistiu naquilo.
- Se fui para lá, é porque sabia que há essa hora, ele estaria de pé. – rebati e depois disso, Doutor Augusto não disse mais nada. Eu sabia que no fundo, toda aquela preocupação de meu pai tinha outro motivo, mas me procuraria em descobrir depois.
O clima ali havia ficado um pouco estranho. Todos estavam calados, e apenas minha voz e a de Gustavo eram ouvidas. Também percebi a troca de olhares entre meu pai e Lucas. Era como se eles estivessem se comunicando.
- Gustavo, vem com o papai! Vamos ver TV lá na sala. – disse meu pai, olhando para Clarisse e Maria ao mesmo tempo. Elas não eram bobas e logo entenderam o recado. Aos poucos, todos foram saindo, até que só restou Lucas e eu.
- Podemos conversar, agora? – Lucas se aproximou de onde eu estava e vi uma expressão triste em seu rosto, o que me deixou um pouco arrependido pelo que falei na noite passada.
- Claro. – respondi, tentando me mostrar calmo.
- Tenho uma coisa muito importante para te confessar, e acho que isso vai explicar toda essa insegurança que tenho. – falou Lucas, parecendo estar prestes a chorar.
Ele puxou um banco que havia perto do balcão e sentou-se de frente para mim, do outro lado. Havia um olhar em seu rosto que eu não reconhecia e que me deixava confuso, pois não sabia como decifrar o que ele sentia.
- Pode falar. – eu disse, dando impulso para que ele começasse a me contar o que estava acontecendo. Lucas não parava de olhar para suas mãos em cima do balcão. Elas pareciam úmidas, como se estivessem soando.
- Na verdade, não sei por que não te falei isso antes! Acho que não queria voltar ao passado. – ele disse, ainda sem me olhar.
- O que você não me falou? – perguntei, observando cada movimento seu.
- É sobre minha ex-namorada. – disse Lucas.
- O que tem ela?
- Ela me traiu uma vez. – falou ele, e isso acabou não me chocando muito. Muito menos me fez entender o que ele queria dizer com aquilo.
- Lucas, desculpa, mas você também me traiu e não sou paranoico assim. Além disso, não duvido do que você sente por mim. – falei, tentando ser o mais calmo possível, para não parecer que eu estava com raiva. Ele deu um sorriso rápido e meio desajeitado. Esse sorriso sempre aparecia quando eu o lembrava da traição.
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O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - INCERTEZAS - LIVRO 02 (RASCUNHO)
RomanceLIVRO 02 "Eu queria chorar. Minhas lágrimas estavam presas em meus olhos e teimavam em não cair. Era a segunda vez que eu sentia aquela dor. Ela havia voltado, e parecia estar três vezes maior que antes. Eu sabia que tinha que ser forte, e deixar o...