Capítulo I

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O aroma do café arábico que eu acabei de moer incensou a cozinha. Nivelo e pressiono o pó cuidadosamente com o tamper e encaixo o filtro na máquina. Ligo a máquina que derrama o café na xícara previamente aquecida. O leite tem que ser vaporizado, claro. Coloco fazendo um desenho de coração. Duas xícaras de cappuccino perfeitas. Uma para mim e outra para ele, que me esperava todo lindo e feliz comendo seu omelete, olhando para mim com seus doces olhos, esperando uma resposta enquanto eu colocava a xícara a sua frente. Mas ele já sabia a resposta, pois não foi um pergunta, foi uma afirmação.

— Claro, amor. Você sabe que adoro jantar com seus pais — falei sorridente.

Eu não suporto jantar com os pais dele. Digo, os restaurantes que eles escolhem são perfeitos e eu nunca janto tão bem como quando eu estou jantando com eles, mas não vale a pena a indigestão.

— Ótimo! A mamãe chamou seus pais também. Jantar em família! — Pronto, só estava piorando a situação. — Nem acredito que estaremos casados em dois meses!

— A gente já tá morando junto, Nando. Não vai ser assim tão diferente — falei tentando apreciar o meu cappuccino. Perfeito.

— Claro que vai ser diferente, Cecília! Vai ser completamente diferente! Você vai ser minha esposa! Sabe há quanto tempo eu estou esperando por isso?

Ele prometeu que se casaria comigo quando eu tinha uns quinze anos ou seja, doze anos atrás. Ele tinha uma namorada na época e disse meio que de brincadeira, afinal, ele é onze anos mais velho que eu, o que fazia dele um homem adulto cantando uma adolescente.

Bom, ele está cumprindo sua promessa, então não deve ter sido uma simples brincadeirinha.

— Tanto tempo quanto eu espero por você — respondi fofinha.

Ele gostava quando eu era fofinha. Fernando esticou a mão e pôs sobre a minha. Ele era um homem bom, algo raro. Por isso valia a pena enfrentar os tais jantares em família.

— Vá com aquele vestido rosa. Você fica parecendo uma bonequinha com ele — sugeriu.

— Claro — assenti enquanto tomava o último gole do café. — Agora eu preciso ir, senão me atraso de novo.

Levantei e lhe dei um selinho rápido, passando minhas mãos pelos seus cabelos loiros e lisos.

— Não passa a mão nos meus cabelos, poxa! Você sabe que eu odeio.

— Ah, desculpa, amor. Sempre esqueço. É que é tão bom mexer nos teus cabelos!

Nunca esqueço. Eu sei que ele odeia porque morre de medo de ficar careca como o pai. Contudo, minha pequena travessura se voltou contra mim. Fernando me puxou para seu colo e me deu um beijo de verdade, ignorando meus protestos. Sinto algo começando a se erguer e cutucar minha coxa.

— É sério, Nando! Hoje não dá! — falei tentando empurrá-lo.

— Tocou no meu cabelo, agora tem que pagar! — disse brincando.

Ele segura meu rosto e volta a me beijar fervorosamente. Eu cedo por mais um pouco, tentando satisfazê-lo. Quando sinto sua mão subindo por minha coxa, percebo que não iria ser tão rápido assim.

— Nando, não! — eu estava rindo mas estava ficando preocupada. Tirei sua mão e tentei me levantar, mas ele me puxou de volta. — Eu não sou a filha do dono da construtora, não posso escolher a hora que vou chegar!

— Mas você é noiva do filho do dono da construtora. Dá no mesmo — disse me puxando para outro beijo.

— Mas eu não quero tratamento especial por ser sua noiva! — falei de uma vez quando consegui afastá-lo.

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