Capítulo VIII

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Lá estava eu, todo linda, flores nas mãos, minha madrasta e meus sogros lá na frente, meu pai segurava meu braço ao meu lado, Valentina e Nina, como damas de honra, jogando pétalas pelo chão, Nando sorrindo para mim no altar e, um pouco mais a frente, Isaque. Era normal sentir-me nervosa neste dia? Mesmo que fosse só o ensaio do casamento? O que foi? Eu estava linda não porque usava um vestido de noiva, mas porque eu sou linda mesmo.

Eu sabia que não evitaria Isaque para sempre. Eu não estava tentando fazer isso. Mas a gente não se falou desde o dia do beijo e agora que eu estava caminhando em direção a ele (tecnicamente, em direção a Nando) eu não parava de me perguntar o que ele estaria pensando. Será que pensava no beijo, será que pensava na burrada que fez, será que esperava que eu não tocasse no assunto ou será que ele era um tipo de padre safado que pegava as mocinhas estúpidas que se apaixonavam por ele? Não que eu estivesse apaixonada, é claro. Mas ele era bonito e perfeitamente capaz de seduzir um bocado de mulher hétero/bi carente que passasse em seu caminho. Não que eu fosse carente, é claro. Será que eu era?

— É, eu não acho que essa música vai funcionar — Nando disse quando cheguei ao seu lado. — Muito lenta, eu quero que Cecília chegue aqui mais rápido.

— "O amor é paciente", Fernando — Isaque disse.

— Com todo respeito, padre. O senhor também seria impaciente se esperasse o que eu estou esperando — Nando agarrou minha cintura de surpresa e me deu um beijo na frente do padre. Que indecência!

Mesmo assim eu sorri quando ele me soltou. A pressa dele tinha mais a ver com a falta de sexo do que qualquer outra coisa e eu sabia. Mas sua resistência era admirável. Ainda que fosse só por quarenta dias.

— Novamente com Coríntios, padre? — perguntei ao tomar distância de Nando.

— Você leu esse capítulo? — Isaque parecia surpreso.

— Claro.

— Você anda lendo a bíblia? — Já Nando parecia confuso.

— Só o primeiro Coríntios, quando Paulo fala sobre amor. Vou me inspirar nele para escrever meus votos.

Nando, Solange e até meus pais me elogiaram com a surpresa. Isaque, por outro lado, fingiu que não ouviu.

— Se você tiver alguma dúvida sobre o capítulo ou quiser conversar, eu estou sempre aqui — Isaque disse, parecendo prestativo aos olhos dos outros. Mas ele estava mais era querendo me contestar.

— Você deveria ler esse capítulo também, Nandinho — Solange disse, chegando mais perto. — É muito lindo.

— Podemos voltar ao ensaio agora? — meu pai sugeriu, impaciente. — Eu ainda tenho que voltar para o trabalho e minha esposa tem que resolver umas coisas hoje.

— Ah, Paulo. Eu sou teu chefe e eu te liberei pelo dia — Otávio disse.

— Eu tenho muito que fazer e não quero estar preocupado no dia do casamento dos nossos filhos.

Assentimos. Passamos todo o ensaio duas vezes e liberamos meus pais para irem. Marta deixou Valentina e Nina sob os cuidados de Solange, que resolveu ficar, pronta para dar pitacos sobre tudo, até nas daminhas de honra. Pobrezinhas. Após algum tempo Nando perdeu a paciência com a mãe e os dois começaram a discutir de um jeito passivo agressivo.

— Se elas não andarem direito, o tempo vai ficar todo errado, bebê — Solange dizia.

— Elas são crianças, mãezinha querida, ninguém vai se importar — Nando dizia de volta.

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