Capítulo Dois

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Ontem eu tive um dia muito exaustivo, minha cabeça parecia que iria explodir de tanta coisa que eu vivenciei, espero que hoje seja mais calmo e que eu consiga produzir mais do que ontem, que apenas fui para escola, fofoquei, e mantive minha vida de "dona de casa" para meu tio, enquanto ele deve ter aproveitado, saído com os amigos, beber como se não tivesse com o que se preocupar (tecnicamente ele não tem, embora ele seja "trabalhador", todo seu dinheiro é gasto com bebida). Me lembro quando ele deixou faltar comida dentro de casa, e tivemos que  contar com o apoio da assistência social do nosso bairro, afinal, ele criou toda a história de uma doença, só para conseguir receber o auxílio, mas na verdade ele havia gastado todo seu salario com seus vícios de bares e jogos, e a ajuda da assistência que nos ajudou colocando comida na mesa. 

Olho para o relógio velho pendurado na parede, e aponta 07:36am, eu teria uns minutos ainda para aproveitar as cobertas. Paro para pensar nas aulas que terei hoje, e não consigo me lembrar de nenhuma, eu tenho quase certeza que sofro de alzheimer nos meus 17 anos de idade, existe alzheimer precoce? porque eu acabo de me autodiagnosticar. Com muito esforço, não consegui lembrar, estava confusa entre os dias da semana, e com muito custo, decido levantar e abandonar meus minutinhos de aproveitamento e vou pegar minha mochila que estava sob minha mesa de estudos. 

Começo revirar minha bolsa na procura do horário das aulas, olhei em todos os bolsos e nada encontrei, era tanta tranqueira que eu carregava comigo, que eu me perdia na minha própria bagunça. Um recado: nunca ouse mexer na bolsa de uma mulher, sem a permissão dela. Eu acho que não é só eu que seja assim, mas eu odeio que mexa nas minhas coisas sem que eu saiba, considero muita invasão de privacidade. Com muito custo, encontrei. 

Biologia, Química, Artes, Música e Aula Livre.

Certo, eu confesso que o horário me chamou muito atenção e fiquei uns dois minutos encarando aquele papel todo rasurado, que define minha rotina escolar. Lembrei que Henry disse que a professora de Biologia tinha sido substituída, espero que a substituta seja tão legal quanto a senhora Lucy. Química eu nem costumo frequentar as aulas pois eu não entendo nenhum conteúdo, por mais que eu me esforce, sendo assim, tenho que buscar o meio de matar aula de hoje e não ir. 

Vou em direção ao banheiro para jogar uma água no corpo, e Bryan estava lá, fazendo a barba e na tentativa de melhorar sua aparência, ele falhou mais uma vez. 

- Com licença, preciso usar o banheiro, vai demorar muito? - indaguei friamente.

- Ora ora, não está vendo que estou usando? Espere! 

Naquela hora o ódio ferveu em meu sangue, porém respirei fundo, e sentei no chão apoiando minhas costas na parede, na espera dele desocupar o banheiro o mais rápido possível, pois não queria chegar atrasada na escola, mais uma vez. 

- Vai ficar aí parada? Tome vergonha na sua cara, e vá fazer o café! Você não vai aprender nunca que essa é sua obrigação? - me respondeu com muita raiva estampada em seu rosto, me pegando pelo meu braço a força, e me jogando em direção a cozinha. 

Ele nunca havia sido tão grosso comigo, enquanto ele gritava, pude notar que ele havia dormido no banheiro, e que suas vestes estavam com um cheiro horrível e sujas com o próprio vômito. Seria aquela ligação que o deixou tão nervoso, que fizesse com que descontasse na bebida?

Olhei para meu braço e o fato dele apertar tão forte, fez com que ficasse marcado seus dedos em minha pele. Eu queria muito ir contra ele, bater de frente, mas eu tentei isso diversas vezes, e nada mudou. Simplesmente cansei, e estou empurrando com a barriga. Última vez que ele me agrediu, eu fiquei duas semanas sem ir para a escola, por conta dos hematomas mais do que perceptível que ele deixou, e o motivo da discussão? Foi porque eu recusei de fazer um jantar especial para ele e sua acompanhante que veio aqui em casa. Não consigo entender como as mulheres conseguem se relacionar com esse cara, eu mal posso esperar para fazer dezoito anos e ir atrás de um emprego para me tornar independente.

EFÊMEROOnde histórias criam vida. Descubra agora