América
Depois de quatro horas xingando a Stela pelas costas, nós finalmente aceitamos o que tinha acontecido. Nossa amiga estava grávida e pelo visto eu sou egocêntrica. Talvez seja verdade, devido à minha condição, meio que tudo acaba girando em torno de mim. Enfim, o foco é a Stela e bolamos um plano. Piter disse que vai conseguir dinheiro com os pais. Lana vai dividir o quarto com a Joana, já que a Stela vai se mudar e isso folga o nosso quarto. Carla e Joana vão fazer turnos diferentes para cuidar da saúde da Stela. Lana e eu vamos procurar empregos de meio período para o Rafael e um apartamento barato e próximo ao campus.
A última parte parece impossível, mas se faz necessária. E cheguei a conclusão de que a Stela tem razão, nós nunca demos a atenção devida a ela ou aos seus sentimentos, ao menos eu sei que nunca fiz isso. Então estava na hora de recompensar e começar a ser uma boa amiga. Mas isso fica para depois, agora tenho outro problema, a minha irmã.
Estamos indo para casa e ela nem sequer falou nada dentro do carro. Nenhuma piada, não reclamou da minha música alta ou da temperatura ambiente. Ela entrou calada e permaneceu até agora. E eu tentei fazer com que ela falasse, até abaixei a música, mas ela não falou mesmo assim. A viagem foi um saco.
Parei em frente a porteira e desci para abrir. Passei com o carro e deixei na entrada.
Lana saiu do carro sem olhar para trás e entrou na casa.
É, ela estava irritada.
- Mãe, pai, quero convocar uma intervenção. - Lana disse.
Meus pais estavam sentados no sofá e ficaram tão surpresos quanto eu. Uma intervenção só era realizada quando tínhamos um problema sério na família. A última foi quando eu me acidentei e eles pediram para eu me sensibilizar mais. Não temos uma intervenção há anos.
- Não, não! - falei - Sem intervenção.
- É uma regra! - Lana disse - Quando é convocado, temos que ir até o fim.
- Qual o motivo? - meu pai tinha desligado a TV para nos ouvir.
- Um garoto.
- Christian? - perguntei - Vai fazer isso por ele?! Não acredito nisso, Lana.
- Sim, América. - ela sentou em uma poltrona - Pode sentar também.
- Mas o que está acontecendo? - minha mãe perguntou.
- Uma intervenção. - respondi e sentei.
Quando éramos mais crianças, Lana e eu sempre brigávamos com os vizinhos e entre a gente também. Nós realmente encarávamos as lutas, brigávamos por comida, brinquedos, horas de sono, animais, televisão, roupas, qualquer coisa que tivéssemos contato era motivo o suficiente para gerar uma briga.
Como solução para isso, nosso pai criou algo que ele começou a chamar de intervenção. Nós sentávamos de frente uma para outra e falávamos tudo o que queríamos, uma por vez e a outra era obrigada a ouvir. Enquanto isso, nossos pais também ouviam atentamente e eram encarregados de ser a "voz da razão". Eles tinham que apontar o que erramos e argumentar para que a gente reconhecesse o nosso erro. Funcionava na maioria das vezes. Quanto mais intervenções, menos brigas. Acabamos nos aprimorando e criando regras.
Uma delas é que qualquer um pode convocar uma intervenção, desde que tenha motivos necessários para isso. Tínhamos a regra também de não fazer mais de uma por mês. Quando a Lana e minha mãe fizeram um complô, adicionamos a regra de que nossos pais tinham que ser imparciais. E no dia em que eles brigaram, Lana e eu tomamos o lugar deles, sendo necessário a regra de inversão de papéis.
VOCÊ ESTÁ LENDO
América Para Um Americano
RomanceAmérica sempre foi uma garota decidida de suas escolhas, determinada e astuta. Ela vivia em um rancho em Waco com seus pais, sua irmã Lana e seus queridos animais os quais ela trata como da família. Mas a vida é cheia de gracinhas, não é ? O mundo...