01. De quem é a culpa?

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Taehyung se esticou no sofá e lá ficou, jogado, pensando na Seokjin, a menina mais linda que ele já tinha visto.

Taehyung tinha treze anos, se mudou pra cidade há pouco tempo e andava com a cabeça no mundo da lua desde que tinha visto os olhos castanhos e o bonito sorriso da Jin-ah, a filha do prefeito, na última festa da igreja. A única coisa que ele queria era chegar perto dela, nem que fosse por um instantinho. Mas como? Tinha que descobrir um jeito. O coração dele não ia descansar enquanto ele não falasse com ela e pegasse na mão dela e lhe desse um beijo e pedisse pra ela namorar com ele.

— Taehyung! Não vá esquecer que você tem trabalho de escola. — Lembrou sua mãe.

— Trabalho de escola? Que escola? — Vishhhh, e não é que ele tinha mesmo? Sobre um tal de IMCS, ou seria IMSC? Talvez fosse ICMS. Ele estava atrasado. Levantou-se rapidamente, catou as revistas velhas, cola, tesoura, livros que deu um beijo na mãe. Com a mão na maçaneta da porta ele se lembrou: Não havia penteado o cabelo!

O rapaz deu meia-volta e rumou para o espelho. Ele usava um cabelo curto na frente e longo atrás, um Mullet que fazia o maior sucesso com a mulherada. Ele tratou de deixar o cabelo o mais penteado possível e saiu. Quando pôs os pés no saguão dos elevadores, se deu conta da pior coisa que podia acontecer na vida de um morador do sétimo andar do único prédio de cidade: Acabara a luz.

Desceu todos os sete andares no escuro, agarrando-se ao corrimão, teteando com o pé cada degrau. Ele não queria dar um passo em falso e xicablau! Se espatifar lá embaixo. Não depois de ter conhecido Seokjin.

Taehyung chegou esbaforido na biblioteca da escola, atrasadíssimo, por sinal.

— Isso são horas de chegar? — Cobrou Yoongi, uma menina loirinha, meio dentuça e que adorava uma boa briga.

Taehyung resmungou que havia acabado outra vez a eletricidade em seu prédio. Nesse momento, Jungkook apareceu na porta da sala.

Jungkook era da mesma idade que Taehyung e Yoongi. Tinha sempre um ar sério, mas se visse alguma coisa engraçada, era o primeiro a se arrebentar na gargalhada.

— Assim, o senhor não pode entrar! — Foi avisado pela bibliotecária, que apontou acusadoramente para seus sapatos.

— O que é que você fez, ô Gu? — Aproximou-se Taehyung.

Jungkook ficou estancado sobre o batente da porta, indeciso entre tirar ou limpar os sapatos no capacho.

— Vish, que horror, Jungkook! Você está todo enlameado, olhe só! Por onde você andou pra ter pregado tanto barro nos pés? — Questionou Yoongi.

Jungkook, que àquela altura já desfazia os nós de seus sapatos, disse em um resmungo que não tinha feito nada demais, mas se explicou:

— Com a chuva de ontem, minha rua virou um brejo! Sempre prometem que vai asfaltar, e depois não fazem nada.

Taehyung olhou para o relógio.

— Jimin está atrasada, o que será que rolou?

— Vai ver foi aquele ônibus. Se vocês vissem como ele demorou pra chegar… — Comentou Yoongi, brigona como sempre. Ela morava em uma chácara perto de cidade e dependia do transporte.

O grupo decidiu começar o trabalho sem Jimin, pois estava tarde.

— O que é esse IC-qualquer-merda-S? — Taehyung perguntou.

Yoongi abriu o caderno com aquele ar de quem sabe tudo, além do sorriso maroto nos lábios.

— Meu tio, que é fiscal, me explicou tudo! Esse ICMS é um imposto.

— Imposto? Meu vizinho, que é da revendedora, vive reclamando disso… — Comentou Taehyung. — Diz que só trabalha pra enriquecer o governo.

— Eu estou a fim de saber saber que tipo de imposto é esse ICMS. — Murmurou Jungkook, que adorava exatidão e detalhes.

Yoongi disfarçou uma espiada no caderno e começou a falar como se não tivesse lido nada:

— É o imposto de circulação de mercadorias e serviços. Tudo o que a gente compra já vem com a porcentagem do imposto somada. Meu tio disse que a porcentagem é de 18% aqui no estado de São Paulo.

— Quer dizer que se eu comprar um tênis de cem reais, dezoito são imposto? Vão para o governo? — Perguntou Jungkook.

— Acertou! — Confirmou Yoongi. — Ah! Olha só quem chegou. — Apontou para a porta. — Isso são horas de chegar, mocinha? — Começou a bronca, mas parou assim que viu o braço enfaixado da amiga. — O que aconteceu?! — Rapidamente os olhos de Jungkook foram para a porta, mas ninguém percebeu, nem mesmo ele.

Jimin era uma menina baixa, meio tímida, que usava umas trancinhas no cabelo loiro. Eram tranças bastante charmosas, além de ser a melhor aluna da classe de Matemática. Tinha treze anos, assim como os outros.

— Eu estava saindo de casa, tropecei no degrau e caí. Daí minha mãe me levou para o pronto-socorro. Estava demorando tanto pra me atenderem que a minha mãe começou a reclamar, disse que era a presidente do clube das mães e já organizar um movimento de protesto, daí eles explicaram que não era culpa deles: tinha mais emergência do que médicos lá no posto, eles não tinham o que fazer e vocês não sabem como foi que doeu. — Terminou Jimin, deixando Taehyung assinar o gesso.

— Esses sapatos enlameados não podem ficar aqui! — Disse a faxineira da escola, que acabava de chegar e já olhava para os tênis de Jungkook no canto da porta. — De quem são?

— Vou lavar e já volto. — Disse Jungkook pegando seus sapatos pela ponta dos dedos.

Voltou segundos depois, indignado enquanto ainda equilibrava seus tênis nos dedos.

— Vocês não vão acreditar! Não tem um pingo de água! A escola continua sem dinheiro pra pagar o encanador!

— Parece que hoje tá acontecendo tudo! Faltou luz no meu bairro. — Taehyung comentou.

— Sem médicos o suficiente no pronto-socorro. 

— Minha rua sem asfaltos! — Jungkook reclamou.

— Eu só queria saber de quem é a culpa! — exclamou Yoongi, sentindo no peito aquela vontade de sair de porta em porta cobrando explicações e providências. — Afinal, alguém precisa fazer algo, não?

— Para mim, é do prefeito. — Acusou tranquilamente Jungkook, que se lembrava muito bem - Ah, se lembrava! - do seu Kim Namjoon, que limpava a cara pra fazer promessas de asfaltos e outras campanhas mais. — Ele é o grande culpado.

Taehyung deu um salto.

— Isso! É isso aí, a culpa é toda do prefeito. Temos que ir lá reclamar com ele, já e já, agora e agorinha! — Comandou, o coração batendo disparado.

TINHA ARRANJADO UM JEITO DE SE APROXIMAR DE SEOKJIN!

— Falar com o prefeito…? — Murmurou Jimin, tímida enquanto olhava para Jungkook, incerta. De todos ali, ele certamente era o mais pensante. Taehyung era impulsivo e Yoongi topava qualquer coisa que significasse barraco.

— Ah, pode deixar que eu falo! — Yoongi passou a língua atrevidamente nos lábios pequenos. — Ele vive lá na farmácia do meu tio, na primeira oportunidade em que eu ver ele, eu falo, ahhhh se falo! — Prometeu.

— Temos que ir já! — Insistiu Taehyung. — Tipo, imediatamente! Continuamos o trabalho amanhã. Agora, quem for coreano que me siga! Todos pra casa do seu Kim!

A turma se olhou confusa. O prefeito ficava na prefeitura, então por que o amigo queria ir pra casa dele?

— Acho que ele está na prefeitura. — Jungkook observou, calmo.

Taehyung parou confuso. Duvidava que fosse encontrar Seokjin na prefeitura com seu pai.

— A está hora ele está em casa, galera, eu tenho certeza! — Arriscou com a voz mais firme que tinha.

Desconfiada, Yoongi apertou os olhos, mas concordou:

— Bem, se você tem certeza, então vamos!

A Mina de Ouro - BTSOnde histórias criam vida. Descubra agora