Capítulo VIII

399 58 8
                                    

— Seu filho? Mas ele não é de Inferius? — Zafrain indagou confuso, a aparência e jeito de Kayron não se assemelhava a elite de Potissimum. Aliás, todas sabiam que a elite era composta por pessoas brancas, Esteban era uma rara excessão.

Apesar de já saber, Sharaene ainda nem conseguia acreditar que alguém aparentemente tão bom tinha um filha daquele.

— Não lhe contaram? Kayron é filho do líder do exército. Desirée é filha de Adolf...

— Adolf? — ele perguntou incrédulo.— Isso só pode ser brincadeira.

— Rodolpho ali, — ela apontou para o homem de cabelos brancos. — é o filho do cientista de confiança de Adolf. E Arion não é Arion, e sim Lírion, o filho adotivo do presidente.

— Você está falando sério? — ele perguntou sem ainda acreditar, Sharaene somente assentiu. — Que loucura!

Zafrain soltou uma risada nervosa ao analisar tudo aquilo, a cada segundo a situação deles se tornava ainda mais surreal. Depois de passar tantos dias preso ali não tinha muitas esperanças, mas ao ver que pessoas importantes estavam no mesmo lugar que ele perdeu a esperança que lhe restava.

As horas foram se passando. Cada um estava sentado em um canto da pequena cela suja, presos em seus próprios mundos.

Rodolpho tentava pensar em diferentes formas de seu plano ocorrer bem; precisava muito que desse certo, aliás era sua única saída.

Zafrain ainda tentava assimilar as informações que recebeu. Sharaene havia contado para todos sobre a fabricação dos alimentos de Inferius e aquilo foi a notícia que mais o enojou. Se perguntava quantas mais coisas horrendas fizeram para humanidade sobreviver até a atualidade. Sempre soube que o ser humano era capaz de qualquer atrocidade para se manter vivo, havia visto inúmeras atrocidades em Inferius, porém aquilo parecia pior.

Arion estava com a cabeça cheia. Se preocupava com Winton e se sentia mal por todos estarem ali presos. Desejava tanto quanto Rodolpho que fossem exilados. O olhar de raiva de Malic em sua direção o fazia se sentir péssimo. Havia falhado em uma promessa.

Esteban se sentia mal pela reações que recebeu ao contar que era pai de Kayron. Sempre deu seu melhor para ensinar o menino a seguir o caminho certo, ser uma boa pessoa, mas no final das contas ele virou mais um dos seguidores fiéis de Adolf.

Malic respirava fundo. Esperou por anos algo assim acontecer, mas agora não sabia como reagir. Queria também não se sentir decepcionado com Arion, mas ele não havia cumprido uma promessa e isso era algo gravíssimo para ele.

Sharaene não conseguia pensar em nada além de Winton e de como ficaria sua mãe se ela fosse exilada, de fato nunca mais a reencontraria. Nem o peso de ter assassinado alguém lhe perturbava naquele instante. Tentava entender a atitude que teve e se arrepender por ter colocado a vida de todos ali em risco, mas não conseguia, no fundo queria ter feito muito pior com Adolf.

— Eu já sei! — Rodolpho exclamou dando fim ao longo silêncio.

— Já sabe o que, garoto? — Malic perguntou o encarando com indiferença.

— Como sair daqui sem sermos executados.

— Qual é a sua ideia, gênio? — o homem rebateu com impaciência.

Sharaene percebia que tinha algo por trás da conversa conflituosa dos dois, era óbvio que o mais venho não gostava de Rodolpho.

— Quando nos chamarem para algum julgamento, o que com certeza farão, devemos declarar arrependimento. Sharaene deve dizer que agiu por impulso e nós, que a ajudamos sem pensar e agora estamos arrependidos. É só fazer uma expressão triste, fingir umas lágrimas e não seremos executados. — ele explicou como se aquela fosse a melhor ideia já inventada no século.

Sobreviva até o sol se por. (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora