Capítulo XI

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       Alguns anos atrás.

Haviam se passado dois meses da estranha morte do presidente, porém a população ainda não sabia desse fato.

Arion estava prestes a bater na porta do quarto de sua mãe adotiva quando escutou uma conversa. Sabia que era errado ouvir a conversa alheia sem consentimento, porém não conseguiu evitar; sua curiosidade sempre falava mais alto que a razão.

— Hui Ying, você sabe que eles não irão o aceitar. — uma voz masculina falou aflita.

— Eu sei, mas preciso tentar. Não posso deixar ele aqui. Ele é tudo o que tenho! — escutou sua mãe responder, com um tom de voz que também demonstrava aflição.

— Eu conheço seu pai, ele nunca aceitaria  alguém que não tivesse seu sangue.

— Então ele deixará de ser meu pai. Você não entende? Ele é meu filho, e não precisa ter meu sangue e muito menos se parecer comigo para isso! — Hui Ying esbravejou.

— Você será deserdada! — a outra pessoa respondeu no mesmo tom.— Você estará sozinha, não consegue entender?

Arion correu, não queria mais escutar aquela discussão.

Quando enfim parou já estava em seu próprio quarto. Sua respiração se encontrava irregular, seu coração batia aceleradamente e a culpa dominava seu coração. Não era tolo ao ponto de pedir para voltar para Inferius. Não conseguiria ajudar sua família nem a ninguém fazendo isso e tinha consciência de que Hui Ying também ficaria péssima.

O menino andava de um lado para o outro. Estava maior, mais gordinho e saudável, se alimentava muitíssimo bem ali, diferente de quando morava com sua família de verdade. Se sentia triste ao lembrar das incontáveis vezes que seus pais deixaram de comer para alimentar ele e seus irmãos. Precisava de uma ideia, sabia que sua mãe adotiva pretendia voltar para seu país de origem, porém ao escutar aquela conversa percebeu que não era tão fácil assim.

Parou em frente a um grande espelho que existia no canto esquerdo do imenso quarto e se analisou: não parecia nenhum pouco com Hui Ying. Não tinha os cabelos lisos e negros dela, nem possuía os olhos pretos e puxados, muito menos a pele extremamente branca e impecável. Era ruivo com olhos grandes, redondos e verdes, e sardas salpicadas por toda sua face.

— Eu não pareço! — ele sussurrou enquanto as lágrimas desciam.

Se deixou cair de joelho e passou alguns minutos somente chorando e observando sua própria imagem refletida. Sempre amou ser diferente. Achava tão belo os traços herdados de seus pais, porém naquele instante não conseguia pensar da mesma forma.

Arion enxergava a ida para o país de sua mãe como uma oportunidade. Iria se esforçar para aprender de tudo lá, conhecer novos lugares, novas coisas, moldar seu caráter, tentaria se tornar alguém melhor e descobrir uma forma de salvar a população de Inferius com a ajuda do povo de lá. Porém a ideia de pedir ajuda ao pai de Hui Ying, o presidente da China, estava indo por água abaixo. "Eu vou ser aceito", foi a última coisa que pensou enquanto se levantava decidido.

Arion correu pelos corredores até a o quarto do médico e cientista oficial da casa presidencial. Havia criado uma amizade com ele desde quando acordou do coma.

— Frank! — ele chamou enquanto batia na porta.

Logo o homem o atendeu.

— Olá, pequeno. Como está? — ele perguntou exibindo um sorriso.

Frank era um médico de 22 anos, loiro e magricelo, com um currículo e inteligência de dar inveja a qualquer um. Desde criança sempre foi super dotado e enquanto os outros escolhiam não ir a escola, ele amava aprender de todas as formas, o que o levou a se tornar o médico e cientista mais novo das últimas décadas. Todos os conheciam por sua competência e principalmente por suas cirurgias e experimentos arriscados.

Sobreviva até o sol se por. (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora