Sharaene não dormiu durante o restante da noite, tentando ao máximo organizar seus pensamentos. Se perguntava como estaria Desirée; tinha consideração por aquela menina e apesar dela ser filha de Adolf se sentia feliz por a horrível morte dela na competição não ter sido real.
Kayron foi sua maior decepção. Seu sorriso sempre estampado em seu rosto demonstrava tanta bondade, porém isso não passou de uma ilusão; um teatro em que ela realmente acreditou.
Quando o pão mofado daquele dia foi entregue, ela já ficou alerta.
— Winton! — ela o chamou com um tom de voz baixa. Tentava o acordar, estranhava ele dormir tanto.
— O quê? — ele perguntou sem abrir os olhos.
— Preciso lhe esconder. Você tem que ser forte e ficar algum tempo aqui sozinho e sem fazer nenhum barulho. — ela falou apressadamente. Não suportaria que nada acontecesse a ele.
— Como assim? — ele indagou ainda sem compreender muita coisa.
— Preste atenção, Winton. — ela pediu olhando para a porta com receio. — Logo irão me levar para fazerem algumas perguntas estúpidas. Irei forrar o chão debaixo da sua cama com um desses lençóis velhos e você ficará lá deitado, ok?
Winton estava longe de ser alguém que não percebia situações arriscadas. Com esforço e ainda sentindo muita dor, se sentou.
Sharaene logo pegou um lençol e começou a esticar debaixo da cama. Sabia que aquilo não protegeria ele do frio que emanava no chão, mas não tinha outra opção.
— Venha. — ela falou chegando perto dele e o ajudando a levantar.
Quando ela o colocou deitado, Winton sentiu uma dor enorme; mordeu o interior das bochechas para não resmungar.
Sharaene queria o cobrir, porém só possuía mais um lençol, que por sorte era maior. Teria que o utilizar para forrar a cama de forma que cobrisse o buraco debaixo dela.
— Desculpa por não poder lhe cobrir. Juro que voltarei logo! Seja forte por mim, por favor. — ela pediu com tristeza. Não queria que a saúde dele piorasse, um resfriado naquele momento seria péssimo.
— Antes de você ir quero lhe contar um segredo. — ele falou sussurrando. — Chegue mais perto.
Sharaene se deitou completamente no chão e se mexeu até ficar deitada ao lado dele. Winton logo segurou a mão dela.
— Você às vezes pode até ser irracional, mas isso só acontece pois você sente demais ou às vezes finge tanto não sentir que acaba sufocando e agindo e pensando de forma imprudente, mas isso não lhe torna menos incrível. Eu acredito que iremos sair bem daqui e ajudaremos Inferius. Eu vejo em você, Arion e aquele moço dos cabelos brancos, uma luz, vocês são heróis para mim. Eu vejo acima de tudo a esperança; esperança para um novo começo, mesmo que tudo esteja dando errado agora.— ele deu uma leve risada— Eu te amo, Sharaene! Você é a melhor coisa que já me aconteceu e quero que você nunca se esqueça disso. — ele falou tudo de uma forma quase inaudível, como se aquilo fosse o maior segredo já descoberto pela humanidade.
Sharaene não conseguiu impedir as lágrimas banharem seu rosto. Chorava de felicidade, pois aquele menino a fazia se sentir esperançosa, o via como criança maior parte do tempo, mas ele era muito mais que isso, era alguém que teve que se tornar maduro antes do tempo.
— Eu vejo algo muito melhor, sabia? — ela perguntou sussurrando.
— O que? — ele indagou se forçando a se virar de lado para a encarar, por sorte a cama velha era mais alta que o comum.
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Sobreviva até o sol se por. (Livro 2)
Science-FictionNão precisavam mais sobreviver até o sol nascer, mas sim lutarem para conseguir vê-lo se por. Até que ponto a vida poderia parecer uma história de terror? Era isso que se perguntava todos os dias. Sharaene não estava mais em um desafio que poderia...