Capítulo 38

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Fui a primeira a falar:

"Bom... É bom ver vocês. Já faz um tempo desde a última vez que nos vimos."

Os três entraram rindo na Toca, segundos antes de me perceberem ali e ficarem estupefatos ao me ver.

"Mãe? O que ela está fazendo aqui?" Gina foi a primeira deles a se manifestar, olhando ainda em choque para Sra. Weasley.

Antes que ela respondesse Gina, eu falei com firmeza:

"Eu quero conversar com vocês, Gina. Precisamos conversar."

Gina riu com escárnio, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa Harry saiu do seu lado com lágrimas nos olhos e me puxou para um abraço apertado. Mergulhei em seu abraço, não me importando com o que Gina diria. Esse abraço me fazia lembrar de tanta coisa e me confortava como quase nenhum outro abraço. Quase.

Ao me afastar, percebi que minhas lágrimas também rolaram livremente pelo rosto. O meu objetivo de não chorar na frente deles tinha ido por água abaixo logo no primeiro contato, afinal.

"Também senti sua falta, Harry. Muito mesmo." Disse sorrindo para ele, ainda com lágrimas nos olhos.

O escolhido, o menino que sobreviveu, o melhor apanhador que já vi, o auror mais dedicado que já vi, e que nada mais era do meu melhor amigo. Uma das pessoas mais importantes da minha vida e que depois do que pareceram milênios, estava em frente a mim, compartilhando do meu sentimento de saudade, amor e amizade que sempre nos uniu.

Gina estava vermelha, tal como seu cabelo, provavelmente estava enfurecida com Harry. E comigo.

"Senti falta de todos vocês." Disse olhando para os três. A Sra. Weasley saiu sem dizer uma palavra, para deixar-nos a sós. Ela sabia o quanto precisávamos passar por isso sozinhos, como adultos.

Ron sorriu ao ouvir isso e também me abraçou apertado. Os braços de quem um dia foi o meu namorado me envolveram e fiquei tensa. Toda aquela insegurança de antes me inundou. Mas a afastei o mais rápido que consegui.

"Também senti sua falta, Mione. Muito mesmo." Ron disse ainda me abraçando.

Após ele me soltar vi que Gina ainda me olhava com seu olhar frio.

"Harry e Ron, vocês sabem que amo vocês. Nós já conversamos. E por mais que eu queira falar com vocês, eu gostaria de conversar primeiramente com a Gina." Eu disse sem tirar os olhos dos seus.

"O que você quer de novo aqui, Hermione? Se veio implorar de novo para que falemos com você, isso não irá dar certo. Harry e Ronald podem ter perdoado você, mas eu não tenho o mínimo interesse em fazer isto." Ela disse resignada ao ver Harry e Ron saírem sem dizer uma palavra.

Sentei-me novamente no sofá e tomei um gole do chá, me preparando para conseguir responde-la.

"Pelo menos não precisa se preocupar com algo, Gina. Não vim implorar por seu perdão. Não vim implorar por nada, na verdade. Já fiz isso no passado. Hoje, como eu disse, vim conversar." Disse olhando-a se sentar na poltrona a minha frente.

Gina me olhou surpresa. Sua curiosidade foi aos poucos tomando conta de sua expressão fria.

"Bom, então fale, já que é isso que quer."

Sorri aliviada. Pelo menos ela iria me ouvir. Era só isso que eu precisava.

"Sabe, quando eu tinha treze anos, planejei minha vida inteira. Até um dia desses eu tinha o pedaço de pergaminho no qual escrevi os meus planos. Aos 17 anos terminaria os estudos em Hogwarts, noivaria com Ron, criaria uma ONG de defesa aos elfos domésticos, me casaria com o Ron e teria uma família linda, cheia de ruivinhos sapecas, viveria para sempre com você, Harry, Ron, Sr. E Sra. Weasley, George..." Comecei contando sorrindo, mas mudei o semblante ao continuar: "Entretanto, veio a Guerra. A Guerra me mudou muito, Gina. Em coisas que nem eu conseguiria imaginar. E eu sei que vocês sofreram. Sei que você sofreu. Mas imagine, mesmo que por um segundo como seria não só ser torturada, mas perder seus pais de maneira cruel, lenta e dolorosa. Sabe a única coisa que eu conseguia pensar quando descobri que eles estavam mortos, Gina? Pensei 'o que adianta tentar salvar o mundo da magia, se tudo isso contribuiu para que meus pais estivessem mortos?'. Tudo o que passamos, desde as caças às horcruxes ao final da Guerra me quebrou de um jeito que pensei que não conseguiria me reerguer. Por isso, agradeço imensamente à vocês, por terem estado comigo quando precisei, naquele tempo. Mas mesmo daquele jeito, eu continuava vivendo em prol do bem de vocês. Eu só queria vê-los felizes, mesmo que isso significasse a minha infelicidade. Foi por isso que namorei com Ron, porque eu o amava de todo o coração, e não queria vê-lo triste, queria fazê-lo feliz, como ele merece. E assim tentei durante meses, enganando a ele e a mim mesma que alcançaríamos a verdadeira felicidade juntos. Mas foi num dia chuvoso, quando estávamos à sós e ele segurou a minha mão com um sorriso triste no rosto e disse 'nós seremos felizes, Mione. Um dia vamos ser felizes. Juntos, okay?' e quando o vi e ouvi dizer isto consegui perceber pela primeira vez o quão infeliz ele era ao meu lado. Nosso relacionamento tinha amor, mas isso não era o bastante para nos fazermos felizes. E foi nesse momento que decidi deixá-lo ir. Não por mim, nunca me importei muito comigo, mas sim com ele, pois eu queria vê-lo feliz. Eu queria vê-lo com a mesma felicidade que eu via em meus pais. Então por isso, terminei com ele. Eu não estava esperando, é claro, o que veio a seguir. Então, se eu já era quebrada, imagine como fiquei..." concluí sorrindo sem humor.

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