CAPÍTULO 6

101 8 0
                                    

AS BENNET LOGO VISITAVAM Netherfield. As maneiras gentis de Jane conquistaram a boa vontade da Sra. Hurst e da Srta. Bingley; e embora a mãe fosse considerada intolerável, e que sobre as irmãs mais nova nem valesse a pena fazer qualquer comentário, o desejo de estreitar o relacionamento com elas foi dirigido às duas mais velhas. Jane recebeu essa deferência com enorme prazer, mas Elizabeth ainda enxergava certo esnobismo no modo como elas tratavam a todos. Era evidente para qualquer um que, sempre que se encontravam, o Sr. Bingley de fato admirava Jane e, para ela, era igualmente claro que Jane estava prestes a se apaixonar profundamente; no entanto, deixava-a satisfeita o fato de que isso provavelmente não era perceptível a todos. Elizabeth mencionou tais observações à sua amiga, Srta. Lucas.
- Pode ser bem-visto - replicou Charlotte -, mas, por outro lado, às vezes é uma desvantagem ser tão reservada. Se uma mulher oculta sua afeição com a mesma habilidade do homem a quem se afeiçoou, pode perder a oportunidade de conquista-lo. Em nove casos entre dez, convém a uma mulher demonstrar mais afeição do que sente. Sem dúvida, Bingley gosta de sua irmã. Mas ele pode muito bem não fazer nada, além de gostar dela, se ela não o incentivar.
- Mas Jane de fato o incentiva, pelo menos tanto quanto a natureza dela o permite. Lembre-se, Charlotte... Em primeiro lugar, ela é uma guerreira e, em segundo, uma mulher.
- Bem - disse Charlotte -, desejo de todo o coração que Jane seja bem-sucedida; e caso ela fosse se casar com ele amanhã mesmo, eu diria que ela tinha tanta chance de ser feliz quanto se viesse observando o caráter dele por uma ano inteiro. A felicidade no casamento é puramente uma questão de sorte, e sempre é melhor saber o mínimo possível dos defeitos da pessoa ao lado de quem você deverá passar o resto da vida.
- Ora, Charlotte, você me faz rir, o que diz é uma tolice. Você sabe que é uma tolice e que nunca agiria desse modo se estivesse em tal posição.
- Lembre-se, Elizabeth... Não sou uma guerreira como você. Sou apenas uma moça idiota de 27 anos, que nem se quer tem um marido.
Ocupada de mais observando as atenções do Sr. Bingley para com sua irmã, Elizabeth estava longe de suspeitar de que ela própria fosse objeto de interesse aos olhos do amigo dele. O Sr. Darcy, embora, a princípio, a contragosto, havia admitido que ela era bonita; havia olhado para ela sem maior admiração no baile e no encontro seguinte que tiveram, só lhe dirigira o olhar para critica-la. Mas tão logo afirmara peremptoriamente - para si mesmo e seus amigos - que ela não tinha feições bonitas, já começa a enxergar um ar incomumente inteligente por conta da atraente expressividade de seus olhos escuros, além de sua extraordinária habilidade no manejo da adaga. A essa descoberta, sucederam-se algumas outras, igualmente atormentadoras. Embora tivesse detectado mais de uma falha na simetria de sua silhueta, também precisou reconhecer que suas formas eram ágeis e apreciáveis, e seus braços, surpreendentemente musculosos, se bem que não a ponto de diminuir sua feminilidade.
Veio-lhe então a vontade de saber mais sobre ela, como um passo para conversar com ela pessoalmente, resolveu prestar atenção no que ela conversava com os demais. Ao fazer isso, chamou sua atenção. Foi na casa de Sir William Lucas, onde acontecia uma reunião com muitos convidados.
- O que pretende o Sr. Darcy - perguntou Elizabeth a Charlotte -, escutando minha conversa com o coronel Forster?
- Ai está uma pergunta que apenas o Sr. Darcy será capaz de responder.
- Bem, se ele insistir nessa atitude, sem nenhuma dúvida eu o deixarei saber que conheço suas intenções. Ainda não o perdoei por ter insultando minha honra e pode ser que ainda pendure sua cabeça sobre a minha lareira.
Pouco depois, o Sr. Darcy se aproximava delas. Elizabeth voltou-se para ele e disse:
- Não achou, Sr. Darcy, que foi extraordinariamente feliz agora há pouco, quando estava incitando o coronel Forster a nós oferecer um baile em Maryton?
- Com notável energia, de fato, mas bailes são um assunto que sempre torna as senhoras mais energéticas.
- Isso depende de quem o conduz, Sr. Darcy!
- Bem - disse a Srta. Lucas, subitamente ruborizada. - Vou abrir o piano, Eliza, e você sabe o que isso significa.
- Mas que estranha criatura é você no papel de amiga! Sempre quer que eu toque e cante antes de qualquer outro e de todos.
O desempenho de Elizabeth foi agradável, embora de modo algum marcante. Depois de uma ou duas canções, ficou feliz ao ser substituída no piano por sua irmã Mary, que, ao final de um longo concerto, ficou feliz de se reunir na dança às irmãs mais novas, algumas das Lucas e dois ou três oficiais num dos cantos do salão.
O Sr. Darcy estava de pé ali próximo, guardando silenciosa indignação diante desse modo de passar a noite, que excluía qualquer conversa, e estava por demais absorto em seus pensamentos para perceber que Sir William Lucas estava às suas costas, até que Sir Lucas disse:
- Mas que excelente diversão nós temos aqui para os jovens, Sr. Darcy. Considero que a dança esteja entre os mais requintados divertimentos das sociedades cultas.
- Certamente, Sir! E ainda tem a vantagem de estar igualmente em voga entre as sociedades menos cultas do mundo. Todo selvagem sabe dançar. Ora, fico me perguntando se até mesmo os zumbis não conseguiriam executar alguns passos com relativo êxito.
Sir William limitou-se a sorrir, incerto sobre como entabular conversa com um cavalheiro tão rude. Ficou mais do que aliviado com a aproximação de Elizabeth.
- Caríssima Srta. Eliza, por que não está dançando? Sr. Darcy, permita-me por gentileza apresentá-lo a está jovem, que repito como um par invejável. Não pode se esquivar de dançar agora, estou certo, diante de tanta beleza.
Ele tomou da mão da Srta. Bennet e apresentou-se ao Sr. Darcy, que não a teria recebido de malgrado. Ela, no entanto, subitamente recuou e com certa aspereza disse a Sir William:
- Na verdade, Sir, não tenho a menor intenção de dançar. E suplico-lhe que não pense que vim nesta direção com objetivo de conseguir um par!
O Sr. Darcy, com sóbria propriedade, requisitou a honra de receber-lhe a mão, mas foi em vão. Elizabeth estava resoluta. Ela lançou um olhar malicioso e afastou-se. Sua resistência não a indispôs com o Sr. Darcy, que pensava nela com certa indulgência quando foi repentinamente abordado pela Srta. Bingley:
- Creio que posso adivinhar o objeto de seus devaneios.
- Penso que não.
- O senhor deve estar refletindo sobre como seria insuportável passar muitas noites dessa maneira... a insipidez, o barulho, a vacuidade... e, ainda por cima, o quanto todas essas pessoas se mostram convencidas. O que não daria eu para escutar duas restrições em relação a todos eles.
- Sua conjetura está totalmente errada, garanti-lhe. Minha mente estava absorta em pensamentos mais amistosos. Venho meditando a respeito do grande prazer que um belo par de olhos no rosto de uma linda mulher pode proporcionar.
A Srta. Bingley imediatamente fixou os olhos no rosto dele, expressando o desejo de que lhe confessasse que jovem tivera a  seu crédito inspirar tais reflexões. O Sr. Darcy respondeu:
- Foi a Srta. Elizabeth Bennet.
- A Srta. Elizabeth Bennet! - repetiu a Srta. Bingley. - A guardiã de Longbourn? A heroína de Herfordshire? Estou absolutamente atônita. Você terá uma preciosa sogra, devo dizer. E, é claro, vocês dois juntos poderiam matar inúmeros não menscionaveis se combinassem a habilidade de ambos nas artes mortais.
Como ele a escutasse na mais completa indiferença, ela mostrou decidida a divertir-se dessa maneira, e a compostura dele convenceu-a de que não teria problemas em insistir em suas ironias.

Orgulho e Preconceito e ZumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora