Capítulo 2 - A Fuga

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Havia tempo que o Bosque de Réus não era o centro de um combate. Muitos diziam que o mesmo tinha vida própria, respirava e criava sentimentos sobre os que passavam por ali. Nessa noite, muito provavelmente, ele não se sentiu tão feliz.

Durante o transporte dos prisioneiros, os guerreiros gigantes azuis que os levavam ouviram barulhos perto de onde estavam. Porém, eles não se sentiram ameaçados, visto que estavam em um grupo grande e os animais do bosque nunca foram uma ameaça para eles.

Aos poucos, eles perceberam que não eram animais e quando entenderam a situação já eram alvos de diversas flechas de fogo que caiam do céu.

As flechas de fato não acertavam os guerreiros e não causavam danos físicos a eles. Em contrapartida, o fogo originado pelas flechas queimava a floresta e a fumaça criada impossibilitava qualquer reação dos guerreiros.

O inexplicável é que mesmo com chuva, o fogo podia se alastrar de uma forma muito rápida. Parecia até que o bosque estava aceitando ser incendiado neste momento.

Era um cenário de guerra: muito fogo, muita fumaça e movimentações.

Incrível como que em tão pouco tempo, poucas flechas conseguiram fazer tanto estrago. Sem dúvida, quem as atiravam eram arqueiros treinados e no mínimo conheciam o terreno que estavam, pois conseguiram imobilizar e impedir qualquer movimento dos adversários.

Diante de todo caos, é impossível dormir. Na primeira flecha que voou sobre o céu, Feel, o prisioneiro quinze, acordou assustado sem entender o que estava ocorrendo.

Acordar como prisioneiro já é ruim, pior ainda é estar preso e imobilizado em meio a um combate.

Com todo o fogo incendiando a floresta, os animais que carregavam as celas se apavoraram e, tentando se desvencilhar do fogo, arrebentaram as amarras das celas que prendiam os prisioneiros.

Dentre essas, a cela quinze foi ao chão.

Em desespero total, Feel procurava compreender como a cela era trancada e, consequentemente, qual era a possibilidade de fuga. Óbvio que guerreiros gigantes não iam se descuidar quanto a proteção das celas. A mesma era equipada com um forte cadeado que era proporcional ao tamanho dos guerreiros.

Mesmo assim, diante do cenário desfavorável, Feel conseguiu avistar uma situação que o deixou confuso, ao mesmo tempo que despertou uma sensação de esperança: no meio de muito fogo e fumaça, alguns guerreiros tentavam destrancar as celas de alguns prisioneiros.

Próximo a sua cela, o guerreiro que aparentemente era o maior de todos, aquele que lhe prometeu explicações, ajudava o prisioneiro da cela doze.

Esse guerreiro possuía um conjunto de chaves que ele utilizava para abrir essa cela. Porém, o prisioneiro doze não teve muito tempo para se sentir livre. Após a abertura da cela, o guerreiro utilizou uma espécie de borracha para amarrar as mãos do prisioneiro e os pés, impossibilitando qualquer tentativa de liberdade.

Feel acreditava que o prisioneiro foi escolhido para ser libertado por causa do seu porte físico. Na observação rápida realizada, ele era o menor dos dezessete, ou talvez um dos menores. Ele era menor que o Feel, talvez quase a metade do tamanho. Feel observou que ele tinha cabelos longos, barba longa, porte físico forte e aparentemente ranzinza, mesmo diante da situação de prisioneiro. Diante desse tamanho, ele conseguiu ser facilmente carregado por outro guerreiro que apareceu para levá-lo.

O campo de visão de Feel não o permitia ver mais nenhum prisioneiro por perto após o guerreiro levar o prisioneiro doze.

Suas únicas esperanças em meio a todo fogo eram ser escolhido para ser salvo pelo guerreiro ou torcer para que as chamas não o tomassem. Devido ao alastramento do fogo por todo lado, a segunda alternativa apresentava-se como impossível.

Com passos longos, o guerreiro se aproximou da cela quinze. Aguardou um período curto de tempo ao lado da cela. Logo depois, ele se abaixou, encaixou a chave na fechadura e abriu.

Sem tempo para comemorar a liberdade, o gigante azul acenou com a mão como quem ordena para o prisioneiro não realizar movimentos.

Feel começava a imaginar qual seria o propósito de no meio de todo caos os gigantes azuis se arriscarem para salvar os prisioneiros. Enquanto dúvidas passavam por sua cabeça, ele viu flechas vindo ao encontro do guerreiro que o "libertava". Percebendo de perto, Feel conseguiu ver pelas pequenas partes não cobertas pelas armaduras, que a pele azul do guerreiro era como uma espécie de armadura ou uma casca forte, e as flechas por mais que incomodavam o gigante, somente o acertavam e o impacto as arremessam para longe.

Mesmo com toda armadura e uma pele forte, é fato que as flechas incomodavam o gigante azul, principalmente porque nesse momento, muitas flechas já o acertavam. Talvez por causa do fogo, ou mesmo por causa do impacto, o gigante se sentia incomodado com a quantidade grande de flechas.

Diante de todo caos, o gigante tentou se proteger e acabou se descuidando da cela por um breve momento. Percebendo isso, Feel sentiu a possibilidade de uma fuga. Não pensou duas vezes.

No descuido do gigante, Feel se jogou para fora da cela e iniciou sua corrida para o lado que ele imaginava ser o oposto do qual as flechas eram arremessadas.

Ele era rápido. Muito rápido. À medida que corria, conseguia ganhar mais confiança e passava a entender que a sua musculatura era muito apropriada para essa ação.

Ao compreender o que estava acontecendo, o gigante percebeu que o prisioneiro tentava escapar e se lançou a correr a procura dele.

Durante a fuga, Feel sentia muita adrenalina e um pouco de medo. Ele sabia, de algum modo, que essa não era a primeira fuga de sua vida. Muito menos a primeira corrida que fazia.

Por um momento, ele acreditou que podia ser o fim, pois um tronco de uma árvore gigante caiu bem na sua frente. Por puro reflexo, ele fez algo aparentemente improvável: ele conseguiu saltar o tronco. O salto foi algo extraordinário, pois o tronco era absolutamente enorme e fechava todo o caminho que estava a sua frente.

Diante disso, ele percebeu que a sua capacidade de saltar era um diferencial, pois o gigante não conseguia fazer o mesmo. Isso lhe deu uma vantagem, porém ele ainda estava perdido, e, por mais que corresse muito, ele não sabia para onde correr.

Logo a frente, ele avistou alguém. Inicialmente era um borrão, pois a fumaça impossibilita qualquer reconhecimento. Depois de alguns passos, percebeu uma pessoa aparentemente com um tamanho próximo ao seu ou talvez um pouco menor, vestida com uma roupa preta e segurando um arco em suas mãos.

No momento, Feel sentiu que aquele era o fim da sua fuga. A luta para conseguir fugir seria logo desperdiçada pelo encontro com quem estava causando todo aquele caos.

Por surpresa de Feel, o arqueiro sinalizou para ele, indicando alguma coisa a sua esquerda. Ao parar a corrida e olhar, ele percebeu que era um grupo de cinco outros arqueiros, também com roupas pretas, atirando flechas de fogo no sentido dos guerreiros gigantes azuis.

Talvez nem tudo estivesse perdido. Até então, Feel era um alvo fácil e nenhum dos arqueiros tinha dado sinais de que ele era uma mira.

Logo depois, o arqueiro a sua frente sinalizou para ir ao encontro dele. Feel correu até ele e, chegando próximo, o arqueiro foi sucinto nas palavras:

– Acredito que você prefere a liberdade do desconhecido do que a certeza da prisão.

– Quem são vocês? – Feel tentou obter respostas.

– Não estamos em momento de explicações. Venha comigo! Além de você, conseguimos resgatar mais outros dois prisioneiros. Me siga!

– E os outros arqueiros? – Feel perguntou.

– Estão comigo. Eles são experientes. Não é a primeira vez que fazemos isso. Venha agora! Ou não teremos tempo para ajudá-lo.

E assim, optando por distanciar daqueles que o prenderam, Feel correu ao longo do bosque seguindo o arqueiro desconhecido.


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Espero vocês no próximo capítulo!

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