Capítulo 28 - A Dor

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Os dias de sofrimento por ser mantida presa em um calabouço que Andressa tinha em Carpim, proporcionou reflexões para Sofie sobre o grande erro que cometera ao longo de sua vida.

O calabouço até que não um lugar tão ruim assim. Apesar de permanecer dentro de grades durante todos os dias, Sofie recebia boas alimentações e boas roupas, tinha um banheiro exclusivo para ela usar e se banhar.

Porém, o sofrimento que brotou dentro de seu coração nasceu como uma dor e decepção por tudo o que Andressa havia feito com ela. Esse sentimento foi se alimentando até tornar-se rancor. Por fim, ele chegou a fase do ódio.

Todos os sonhos criados, as imagens do passado e a decepção que sofrera, a fez tomar um ódio gigante pela sua antiga amada. Tudo o que ela mais queria era abandonar as grades e se vingar de quem machucara o seu coração. Por mais que os momentos de reflexão lhe mostrassem o monstro que Andressa era, Sofie ainda não havia compreendido o que criara aqueles monstros e um dragão durante o combate com os guerreiros.

Para piorar o sofrimento, todos os dias na parte da tarde, Andressa fazia uma rápida visita ao calabouço. Em silêncio, ela olhava o sofrimento que Sofie sentia naquele lugar e mantinha uma aparência fria e calculista.

Em uma dessas visitas diárias, o silêncio do local foi quebrado pela elfa:

– Eu sinto muito, Sofie. Em breve, vou te libertar.

Mesmo ouvindo o pronunciamento de liberdade de Andressa, Sofie permanecia sentada em sua cama no calabouço sem pronunciar nenhuma palavra. O ódio que ela sentia a impossibilitava de ter reações.

– Sofie, estou falando com você.

Andressa não era o tipo de pessoa que aceitava falar para os ventos. Criada em berço de ouro desde pequena, aprendendo diariamente a comandar, dominar e ampliar as receitas monetárias, ela sabia dar ordens e não tolerava quem a desobedece. Com Sofie não era diferente, ela queria uma resposta.

Percebendo isso, Sofie levantou de sua cama, seguiu até as grades do calabouço, segurou-as com força e falou enquanto tentava olhar para a elfa.

– Você é um monstro! – Sofie foi sucinta nas palavras. Ela queria dizer muito, mas o ódio não permitiu.

– Eu sei! – Andressa mantinha sua frieza – e você não deveria ter vindo!

– Por que não me liberta para voltar para minha casa? – a pergunta saiu da boca de Sofie.

– Você tá maluca, Sofie? O rei de Stoneme vai acabar comigo quando descobrir que trai sua filha.

Ao perceber as palavras de Andressa, Sofie ficou estática raciocinando. Em seguida, ela disparou:

– Não acredito que deixei você aproximar de mim, me usando para ganhar informações do meu pai. O que você vai fazer comigo? Me matar?

– Até gostaria – Andressa falou olhando nos olhos da guerreira – mas não consigo. Então, achei uma alternativa atrativa. Agradeça, pois lhe farei um favor!

Sofie soltou um breve sorriso irônico que retratava todo o ódio e decepção que a guerreira sentia naquele momento.

– Obrigada pela sua bondade – Sofie falou em tom de deboche.

– Você entenderá o meu favor. Vou te enviar para o Império!

Ao ouvir isso, uma mistura de revolta e fúria dominou Sofie. A guerreira segurou firme nas grades e balançou as mesmas tentando de toda forma sair daquele lugar. Gritos de pavor saiam pela boca da guerreira.

– Por favor, Andressa. Não vou para o Império! Quero voltar para minha casa! – Sofie gritava enquanto agitava as grades do calabouço.

– Eles estão procurando uma nova liderança. Enviei uma carta falando que a líder do exército de Stoneme estava aqui, e o imperador ficou bem feliz com a notícia. Ele vai te dar um bom salário.

– Você está me vendendo. Sua mercenária vagabunda!

Andressa se impressionou com as palavras de Sofie, porém manteve sua elegância perante elas.

– O imperador já está enviando o seu transporte.

Após as palavras, Andressa pegava o seu caminho quando recebeu a pergunta de Sofie:

– O que eram aqueles monstros? O que era aquele dragão?

Andressa novamente se virou para Sofie e manteve os olhos fixos nela. Enquanto estudava a grande guerreira presa dentro da cela, a pequena elfa pensava como iria explicar a situação:

– Você é inteligente, Sofie. Ligue os pontos.

Um breve silêncio dominou novamente o local. Sofie se esforçava para tentar entender, mas o cansaço físico e mental a impossibilitavam de pensar cuidadosamente em toda a situação. Vendo o desespero de Sofie por respostas ao que havia acontecido, Andressa continuo:

– Não entendo como você não compreendeu ainda. Você é uma guerreira brilhante, a melhor que eu já vi. Ao perceber que mesmo com vários guerreiros eu nunca venceria na força bruta, eu usei as minhas habilidades. Sou uma mestre de porções, Sofie – Andressa reforçou o fato, mas ela lembrava que já havia contado isso – usei uma porção em você!

– Como pode? – Sofie tentou obter mais respostas.

– Nem sempre a força bruta vence combates, Sofie. Eu fiz você delirar, fiz você ter pesadelos, fiz você pensar o que eu queria que você pensasse. Venci o combate por meio da mente. Fiz você pensar que meus guerreiros eram monstros e que eu era um grande dragão. Não queria que você passasse por isso, mas foi a única alternativa que encontrei. Lembre-se de não deixar pontos fracos, Sofie. Dessa vez, você esqueceu um capacete sobre o sofá e isso fez você perder.

Após as palavras, Andressa subiu as escadas se retirando do calabouço, enquanto Sofie se derreteu em lágrimas deitada na cama daquela prisão.

As Memórias do Herdeiro - A Crônica do Descobridor de Reinos - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora