Capítulo 3 - O Roubo

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A paz era o que prevalecia na Biblioteca de Stirem. Por dentro da grande construção em formato de torre circular com enorme diâmetro no solo e diâmetros reduzidos à medida que crescia para o alto, a paz era uma característica obrigatória para contribuir com o estudo dos mestres estudiosos que moravam ali.

Ao longo de toda sua história, a Biblioteca sempre teve oito estudiosos. Isso era uma regra primordial para o local: exatamente oito estudiosos. Esses eram substituídos à medida que surgia algo que os impossibilitava de dedicar toda uma vida para aprofundar os estudos sobre tudo o que acontecia no reino.

Além de permitir o estudo de diversos assuntos do reino, a Biblioteca era um local que recebia diariamente diversas pessoas. Essas vinham de diferentes povos e diferentes regiões, com um único intuito: realizar perguntas a respeito de fatos históricos que aconteceram ou poderiam acontecer em Stirem.

Todos os estudos eram voltados somente para o lado teórico e os assuntos variavam desde a flora e fauna do reino até os diferentes tipos de magias que os magos poderiam aprender. Na realidade, não existia algo que restringia os assuntos estudados naquele lugar, diante disso, todos os assuntos do reino eram estudados ali.

A única restrição era que o estudo deveria obrigatoriamente ser teórico, sem ultrapassar a fronteira que dividia o teórico do prático. Assim, os mestres poderiam saber todas a teorias por trás dos assuntos, mas nunca poderiam chegar nem próximos da parte prática, mesmo que essa fosse necessária para aprofundar os conhecimentos.

Essa foi uma lei estabelecida há tempos atrás, pois segundo os primeiros mestres, isso abriria a mente dos estudiosos para somente querer aprender e construir conhecimento ao longo dos anos, mas nunca correr o risco de aplicar de fato esse conhecimento com o objetivo de prejudicar alguém.

Seguindo essa única restrição, a paz prevaleceu naquele lugar durante milhares e milhares de anos. Porém, a última semana foi perturbada por um fato exclusivo que nunca havia acontecido antes naquela organização: um dos oito estudiosos havia desaparecido sem deixar nenhuma notícia. Para discutir esse assunto, a líder do local convocou uma reunião que acontecia naquela tarde.

Coincidentemente, essa tarde pertencia a um típico dia de faxina nas milhares de estantes de livros que haviam ali. Essas faxinas aconteciam mensalmente e eram importantes para manter a limpeza e a organização do local.

Enquanto a reunião acontecia na sala de reuniões da Biblioteca, um dos faxineiros do local aguardava em uma sala de espera, ansioso para o fim da reunião.

A reunião era realizada pela mestre estudiosa líder do local e por seis companheiros mestres estudiosos. O tema central da reunião era discutir o motivo de um dos oito estudiosos ter desaparecido na semana anterior sem dar nenhuma justificativa.

Na semana anterior, Rudolf simplesmente não havia comparecido à reunião matinal e, quando procuraram por ele, ele não estava em nenhum canto da Biblioteca. O pior era que o mesmo não havia dado nenhum sinal de vida mesmo após uma semana desaparecido. Além do motivo, era discutido se ele seria banido de vez do grupo e se alguém assumiria seu lugar.

Ainda que o assunto perturbasse a todos, Rudolf era um estudioso exemplar, que largou sua esposa e seus dois filhos há anos e dedicou uma vida quase inteira aos estudos e à Biblioteca. Ninguém imaginava o que ocasionaria seu desaparecimento e muito menos se ele voltaria ou não para a Biblioteca.

Após um longo tempo, ao finalizar a reunião, um estudioso abriu a porta e o faxineiro entrou com passos longos na sala, se posicionou perto da estudiosa líder e deu a notícia para todos que estavam ali:

– Boa tarde... digo, boa tarde, senhores... queria dizer que... na verdade...

– Não preocupe em ter formalidades, querido – a líder estudiosa falou calmamente para seu empregado.

– Tudo bem, obrigado. Sinto informar que, enquanto limpava a estante trezentos e noventa e um, o livro noventa e dois dessa estante não estava no local que deveria – aparentemente, o faxineiro estava nervoso com a situação.

– Nunca um livro sumiu antes. Deve estar em outra posição – um estudioso falou para ele, enquanto esboçava uma feição tranquila.

– Nós pensamos isso, senhor – o faxineiro falou assustado – comuniquei a equipe, e nós ficamos a manhã toda procurando nas duas mil quinhentos e setenta e oito estantes... não encontramos em nenhum local.

Após um pequeno período de silêncio, alguns estudiosos realizavam pequenos murmurinhos uns com os outros. O semblante de tranquilidade esboçado pela maioria dos mestres do local, já havia sido substituído por um de preocupação. A líder novamente realizou as perguntas:

– Pelos deuses. Quem pegaria um livro da Biblioteca? E qual o livro noventa e dois da estante trezentos e noventa e um? Qual o livro desaparecido? – a calma da líder já havia sido dominada por nervosismo ao saber que poderia haver um suposto furto em seus aposentos.

– Esse foi o próximo procedimento: descobrir qual era esse livro. Olhamos nos registros e...

– Qual o nome do livro? – a líder se levantou, interrompeu o faxineiro e perguntou gritando irritada.

Vendo a líder, que até então aparentava ser calma e educada, sendo dominada por nervosismo e irritação, o faxineiro respondeu desejando voltar para suas obrigações:

– O livro desaparecido foi A Fábula de Evani!

As Memórias do Herdeiro - A Crônica do Descobridor de Reinos - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora