Q u a t r o

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Zoe Narrando

O dia de ontem foi dificilmente doloroso para mim...

Cheguei em casa depois das 22hrs e,  graças ao céus, Marcos já estava caído de bêbado no sofá da sala. Nojento, eu sei.

Porém, para mim isso foi mais do que perfeito, pois, não estava bem e nem tinha mais psicológico algum para lidar com o estrume ambulante.

Imagino que as pessoas de fora devem se perguntar o por que de aceitarmos essas situações - confesso que até eu já me questionei sobre isso. Bom, questionava até eu virar a vítima...

Agressão atrás de agressão.

Claro que nem sempre Marcos foi assim. Tudo começou quando o seu ciúme saiu do "ele apenas está preocupado em me perder" e passou ser algo possessivo, surgindo restrições sobre o que eu podia ou não podia vestir, com quem falar e assim vai... Um verdadeiro ditador.

Aos poucos o "Não tem nada a ver!" virou a confusão e o meu tormento diário. Presa a um ser asqueroso, ditador, dissimulado... A lista é grande!

No entanto, simplesmente não consigo ter forças para sair dessa vida. E claro, também tenho medo! Mas, tive uma pontinha de esperança quando vi a bravura da Mariana naquela cama. Sua coragem será algo que jamais esquecerei.

Foi de dilacerar o coração vê-la daquela forma e depois simplesmente não encontrar mais nenhum resquício de vida naquela grande mulher maravilhosa e lutadora que ela demonstrou que era. Eu sei que era!

Também sei o quão sofredor é, já que nós duas vivemos situações semelhantes, ainda que a dela foi por mais tempo e mais grave do que a minha; ainda sim, agressão é agressão, não importa o "grau"! Isso nunca mudará e sempre levaremos as marcas delas em nós. Seja em lembranças ou em cicatrizes... É uma densa e aterrorizante bagagem.

Mas, também sei que não da para permanecer mais nessa vida. É cruel e desgastante. E claro, sem mencionar que sempre da pra piorar, não é mesmo?! Se de palavras passou para apertos, tapas, chutes... Não quero imaginar qual poderá ser o novo nível.

Sinto uma lágrima descer sobre minha bochecha e um aperto em meu coração, como se ele gritasse que não suporta mais.

O que eu faço da minha vida?

Saio de cima da cama e paro de frente ao espelho do quarto, observando as crateras abaixo dos meus olhos sem vida, evidenciando uma longa noite, a qual tentei criar coragem e maneiras para contar todo meu inferno. Porém... Não cheguei a lugar algum.

Vamos lá, Zoe, o dia tem que começar, não é mesmo?! 

Balanço a cabeça, como se isso fosse capaz de afugentar meus pensamentos conturbados, e caminho em direção ao banheiro, em busca de um longo e renovador banho.

Saindo enrolada na toalha, vasculho meu guarda-roupa a procura de uma roupa fresca e que não deixe óbvio que estou indo em qualquer outro lugar a não ser o hospital; afinal, a peste não sabe que estou de atestado. E não precisa saber.

Já que o clima está ensolarado, opto por uma uma blusa fina off-white, calça e sapatilhas. Minha vontade era usar um vestido bem soltinho? Era! mas, além de não querer dá na cara de quê não tenho trabalho hoje, não tenho vestidos.

Respiro fundo, sentindo a ansiedade de ir ver meus pais bater à porta do meu coração. E, claro, a sensação de estar prestes a fazer algo escondido, traz a sensação de que todos os meus órgãos internos estão numa verdadeira luta entre eles.

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