O Lado Bom da Vida |PAUSADO|

T r ê s

Zoe Narrando

Sabe quando bebemos algo gelado demais e, no próximo segundo, você sente que toda a sensação de gelo não se limitou apenas na sua boca, mas, espalhou por cada milímetro do seu corpo?

Então... Foi exatamente essa a sensação que senti quando ouvi a voz do maldito atrás de mim.

- Atrapalho? - sem perceber, no mesmo instante que ouço a voz dele, aperto Mariê em meus braços, mas, logo caio em mim e a solto; ainda que esteja petrificada por dentro.

Saio do abraço protetor de Mariê - ainda que minha vontade fosse sumir dentro deles - e paro ao seu lado, olhando nos olhos de Marcos, o qual nos encara com um sorriso que antes me derretia, mas, que agora não traz outro sentimento além de repulsa e ódio.

Largo de lado toda sensação de torpor, sentindo a raiva se alastrando por todo meu corpo.

Ele não vai começar a aparecer no meu serviço, né?!

Não é possível!

- O que faz aqui?! - pergunto tentando controlar a raiva que se espalha por cada parte do meu corpo, sentindo os olhos de Mariê e do seu filho sobre mim, porém, estou focada demais no ser asqueroso em minha frente.

- Vim te fazer uma surpresa, amor, não gostou? - Marcos diz de forma debochada, me fazendo querer debater com ele, mas, sei que isso me traria dolorosas consequências.

E essas "consequências" me traria outros problemas - além dos hematomas - já que não posso continuar tomando morfina escondida. Uma hora a casa cai, não é mesmo? Já basta a que tomei por conta da costela, o que está me permitindo longos minutos sem as dores latentes causadas por ele.

A última coisa que preciso é problemas com o Conselho por conta de medicações sumindo.

Foco, Zoe, foco! Você não está sozinha com ele...

Repito fundo e saio de meus devaneios quando o imbecil diz algo.

- Não vai me apresentar, querida?

- Ahhh, bom... - dou o meu melhor sorriso forçado e me viro para os dois - senhora, quer dizer, Mariê - me viro novamente - esse é Marcos, meu esposo.

Digo sem muita animação, mas, tento ser o mais convincente possível. E torço, com todo o meu ser, que eu realmente tenha sido.

Abaixo a cabeça pra tentar recuperar o juízo que devo ter deixado cair e, quando olho para Mariê, não consigo descrever a expressão que ela passa. Emanuel, bom... eu acho que foi esse o nome que ouvi, não está muito diferente da mãe; já que o único movimento que ele fez foi dar um pequeno asseno na direção do Marcos.

Já Mariê lhe oferece um sorriso, que algo me diz que foi um sorriso mais do que forçado, e se vira para mim.

- Foi bom ver você, querida. Obrigada por tudo. - ela diz num tom tão carinhoso que acabo me jogando em seus braços.

Se for pra ser repreendida, que pelo menos seja por algo valioso. E, com certeza, seus braços me passam um sentimento valiosíssimo.

- Fique bem, ok?! - assinto. Olho sobre seus ombros, me deparando com a profundeza presente no olhar azul de Emanuel.

Recebo um sorriso dele, mas, ainda é visto a expressão de tensão em seu rosto. E é aí que ouço o som do desespero batendo na porta do meu coração.

O que será que está passando na cabeça deles? Será que dei tão na cara assim?

Estúpida, Zoe! Isso que você é...