T r e z e

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Zoe Narrando

Eu sempre amei desenhar, no entanto, fazia anos que eu não pegava em um lápis ou qualquer outro material pelo simples prazer de dar vida a algo projetado em minha mente.

Contudo, hoje foi diferente.

Assim que acordei, a primeira coisa que fiz foi admirar a mistura harmoniosa de cores na minha parede frontal, a qual fora pintada no meu aniversário de quinze anos. Lembro-me do quão feliz fiquei pelo resultado.

No início, parecia que nada iria ficar bom e que tudo era simplesmente rabiscos sem sentindo. O Pê ficou um pouco inseguro e meus pais apenas me olhavam curiosos, no entanto, eu sabia o que estava fazendo, afinal, eu era a criadora ali e deveria confiar, não é mesmo?

Depois de uns rabiscos lá, outros respingos acolá, e um pouco de mistura: voialá! Minha parede estava magnífica. Passei longos minutos apenas observando minha mais nova obra, diferente de tudo que eu já havia feito; ali, naquela parede, havia um dosagem extea de amor e dedicação.

Sem dúvidas, minha parede favorita.

Reviver toda aquela emoção de criar algo, despertou em mim um desejo incontrolável de desenhar novamente. Então, sem pensar muito, arrastei a cadeira da minha mesa até o meu guarda-roupa e subi em cima dela, pegando a grande caixa de MDF, a qual guardava alguns materiais.

Tirei toda poeira da tampa e a abri, deparando com tudo exatamente do mesmo jeito que eu havia deixado há cinco anos atrás, quando os usei pela última vez. Ser envolvida naquela nuvem nostálgica resultou numa Zoe afoita, doida para colocar a mão na massa novamente. E não deu outra! Voltei minha cadeira para o lugar, estralei meus dedos, respirei fundo - nem tão fundo assim - e comecei a desenhar, mesmo sendo às 06:40 da manhã.

Não tinha um objeto em si, nem um rosto ou sequer uma flor específica, mas o meu desejo era insaciável! Sendo assim, apenas me deixei ser conduzida por ele. Mas, diferentemente de quando tinha finalizado minha parede, minha reação foi completamente oposta: coração disparado, um amargor na boca e a sensação de ser algo muito além de um simples desenho.  Vislumbrar uma grande caverna, a qual tinha como porta uma imensa pedra, envolta por ervas daninhas, não era algo que eu imaginava que reproduziria depois de tantos anos... 

Fiquei admirando aquele local,  tentando descobrir se ele possuía algum significado, porém, não cheguei a conclusão nenhuma.
Ignorei tudo e o deixei ali, na expectativa de que cedo ou tarde eu entenderia. Ou talvez não, afinal, às vezes a ignorância pode ser uma bênção.

Arrumo minha cama e mando mensagem para Liz, pedindo para ela vir mais cedo e, claro, a desejando um bom dia. No entanto, minha, nem tão doce amiga, me respondeu com diversas carinhas bravas, evidenciando que eu a tinha acordado.

Quem mandou não deixar o celular no silencioso?

Tomo um rápido banho e me visto, pronta para ir até a cozinha, pois meu dia começa apenas quando tomo o meu café matinal. Não queira me ver sem ele.

- Bom dia! - cumprimento mamãe com um beijo na testa e dou outro na bochecha do Pê e já sigo em direção aos armários, pegando a primeira xícara da frente, a qual ostenta um desenho muito bem trabalhado da Cinderela - mimos da ogra Liz.

Já falei que amo café?

- Acordou melhor hoje, filha? Como está sua costela? - mamãe pergunta preocupada e me assento ao seu lado, de frente para Pedro.

- Está bem melhor, mamãe, não estou sentindo dor. - sirvo um pouco da minha bebida favorita e sorrio. Ah, o café... Olho para o meu irmão e, para o meu desgosto, ele apenas finge uma careta de nojo - A Liz virá almoçar aqui.

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