Emanuel Narrando
Respira, Emanuel, respira.
Faço conforme as palavras são sussurradas dentro de mim, tentando resgatar o controle da minha respiração acelerada. Depois de finalmente conseguir respirar normalmente, caminho, pela milésima vez, para o meu banheiro, na expectativa de que uma boa água gelada no rosto será capaz de levar para o ralo todo o meu desespero - mesmo que isso não tenha funcionado das outras vezes.
Deus, eu não consigo...
Analiso meu semblante vermelho no espelho do banheiro, vendo meus olhos caídos e sem vida... Corro de volta para janela em busca de ar, porque, de repente, todo meu quarto parece ostentar um ar rarefeito e ser do tamanho de um grão de mostarda.
Respira, Emanuel, respira...
Tento, novamente, inspirar e expirar normalmente, e depois de longos cinco minutos, concluo que desviar meus pensamentos do meu martírio particular será uma excelente coisa a se fazer. Então logo os episódios de mais cedo invadem minha mente...
Mesmo depois de ver o carro que levava Zoe virar a direita, impedindo que eu continuasse a acompanhar o seu trajeto com o olhar, ainda sim, passei longos minutos sentado na calçada, apenas clamando por sua vida, pedindo ao Abba para que o Seu bálsamo fosse derramado sobre sua vida, a revestindo por completo. E, claro, pedi também para que a justiça fosse feita; que aquele... infeliz pague por tudo que a causou! Vê-la daquela forma será uma cena que jamais serei capaz de esquecer. Assim como outras cenas...
Caminho ruim, Emanuel...
Foco em minhas lembranças recentes, relembrando o sentimento de indignação que fora sendo despertado em mim ao ver meus pais abraçados no sofá. Claro que minha irritação não era por eles em si, mas ao ver o carinho de papai, até mesmo em seu olhar, por minha mãe era como se eu revivesse a cena que presenciei anteriormente, sendo capaz de visualizar, em minhas memórias, uma Zoe machucada; percebendo que ela não recebia nem um porcento do carinho que o papai direciona à mamãe.
Todo esse furor me obrigou a fazer uma pequena oração antes de dirigir qualquer palavra aos meus pais, porque, de repente, tudo o que eu queria fazer era voltar para as ruas e descobrir onde ela morava, indo atrás do crápula que tanto a machucou.
Como ele teve a ousadia de encostar um dedo nela? Como ele ousou levantar a mão em sua direção com qualquer outra finalidade que não fosse oferecê-la carinho?
Esses eram um dos infinitos pensamentos que rondavam minha mente. Então, com o objetivo de não fazer burrada, não esquecendo dos meus princípios, coloquei a chave do carro na mesinha do centro e me assentei ao lado dos meus pais e, só depois de ter certeza que estava mais tranquilo, comecei a relatar a eles a cena que havia presenciado a minutos antes...
Depois de longos minutos de conversa - intercalada com algumas orações voltadas para a vida da Zoe - ficamos mergulhados num silêncio reflexivo, até o momento em que Eloá adentrou a sala com o seu sorriso estonteante, trazendo sua leveza e sorriso fácil. Decido ir atormentá-la um pouco, mas antes de me dirigir para a cozinha, mamãe me afirma que iria fazer o possível para auxiliar a sua mais nova menina. Rio com a forma dela de se referir a Zoe, tendo consciência que ela falava sério; porque todos sabem que quando Mariê Alcântara coloca uma coisa na cabeça e sente seus instintos de proteção ser aflorado, se prepare! Pois ela irá seguir, fielmente, todo o seu roteiro de amiga/mãe babona, com direito a muito carinho e amor.
Faço mais um lanche, acompanhado da minha princesa favorita, enquanto conversávamos sobre diversos assuntos, revesando entre risadas, gracinhas e algumas mordidas fantasmas no meu lanche. E, apenas, quando Eloá começou a bocejar que nos despedimos e subimos para dormir. E bom, era isso que eu deveria estar fazendo agora.
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O Lado Bom da Vida |PAUSADO|
EspiritualZoe Albuquerque, uma linda jovem que resolvera, ainda com seus 19 anos, dar vozes às paixões mundanas, abandonando os conselhos dos pais e os princípios de Deus. No entanto, agora já com seus 23 anos, Zoe percebe que, quando cometera suas rebeldias...