Capítulo 2

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Já tinha três horas que estavam no carro, e parecia que iria demorar muito mais. Já tinha perdido as contas de quantas vezes havia mudado de país, estado, cidade, casa. Seu pai não permanecia muito tempo no mesmo lugar, devia ser alguma herança nômade, ou quem sabe o fato deles serem vampiros, e ficar anos no mesmo lugar sem envelhecer pareceria um pouco estranho.

Porém, dessa vez eles não saíram por conta própria. Graças a impulsividade de seu irmão, tiveram de sair da cidade antes que houvesse muita atenção neles. Ele não estava muito contente. Havia feito amigos e parecia que finalmente tinha encontrado o seu lugar. Contudo, o Killian tinha que estragar tudo. Seu irmão era apenas três anos mais velho que ele, mas depois de cinco séculos juntos isso não fazia muita diferença. Por outro lado, havia um lado bom nessa mudança: estavam voltando para a sua cidade-natal, e para a casa em que nasceu.

Era estranho pensar naquele lugar como um velho lar. Tinham acontecido tantas coisas – coisas boas e coisas muito ruins – que ele se sentia em uma crise interna, pois deveria odiar aquele lugar. Todavia sentia em seu âmago uma peculiar nostalgia.

Talvez fossem as lembranças que tinha de sua mãe. Do carinho e cuidado que tinha por ele. Mesmo depois de tudo que aconteceu, aquele lugar era a essência das memórias dela. Tinha as lembranças Dela também; da sua amada. Foi onde se conheceram e se amaram. Onde se apaixonou pela primeira vez. Ficaria marcado nele pra sempre.

É claro que as memórias ruins também viriam; de como perdeu as duas pessoas que mais amava de uma vez só. Tinha ótimos motivos para odiar aquele lugar.

– Filho, chegamos! – anunciou seu pai ao volante. Seu irmão soltou um longo suspiro no banco do carona, e olhou pela janela a grande placa verde com borda de linha branca escrito: "Bem vindos a Rio Celeste! Lugar com as águas mais cristalinas do estado". Havia mudado bastante, mas continuava com a mesma frase.

Seu estômago se revirou. Era ansiedade, pois queria ver como estava sua casa que há tanto tempo não via.

– Está tudo tão diferente, não é?

– A modernidade, meu filho. É claro que não ficaria como há quatrocentos anos.

– É, lesado. Achou que a cidade tinha parado no tempo, que ainda teria carruagens e que as mulheres só usariam vestidos? – quando ele termina a frase uma menina de short jeans curto passa na faixa de pedestres. Quase era possível ver a sua baba escorrer, como um cão olhando para a carne do churrasco.

– Óbvio que não, só levei um pequeno choque temporal. – as ruas eram diferentes, as casas e lojas também. A única coisa que permaneceu quase igual foi a prefeitura. Um pouco melhorada, mas ainda com a mesma arquitetura. Logo entraram numa rua que parecia um pouco nobre, daquela rua ele se lembrava, era a rua da sua casa.

Por fora parecia do mesmo jeito; a cor vermelha dos tijolos estava viva e o jardim bem cuidado, as rosas vermelhas preferidas de sua mãe ainda estava lá. A expressão em seu rosto era de surpresa,  achou que encontraria a casa aos pedaços. Desceu do carro, pegou a mala no porta malas, passou pelo portão, o chafariz estava ligado - nunca entendeu o por que de terem aquilo - a grama estava recém cortada, o cheiro deixava bem evidente.

Seu pai e irmão já estavam dentro da casa e ele não demorou em acompanhá-los, por dentro tudo que podia ser trocado tinha algo mais novo no lugar. As pinturas continuavam na parede, que agora tinha um papel novo. Eram de quando ainda moravam ali. Havia um da sua mãe, com certeza o melhor trabalho do pintor. Ela estava tão linda; era naturalmente linda. Uma lágrima solitária desce pelo seu rosto e um sorriso nostálgico se instala em seus lábios. Sentia muita saudade.

- Vejo que o senhor estava bem preparado!

- Nunca deixei a casa de lado, sempre a mantive bem cuidada e o mais moderna possível, para caso houvesse a necessidade de retornarmos.

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⏰ Última atualização: Jun 21, 2020 ⏰

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