Capítulo 2: Let her go (Passenger)

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"Bem, você só precisa da luz quando está escurecendo

Só sente falta do sol quando começa a nevar

Só sabe que estava bem quando se sente mal

Só odeia a estrada quando sente saudade de casa

Só sabe que a ama quando a deixa ir

E você a deixou ir"

- Bom dia – me dirijo ao motorista. Um velho com óculos na ponta do nariz me olha da cabeça aos pés com cara de reprovação. Se havia alguém com mais ódio da manhã do que eu era Seu Nelson.

Alguns olhares curiosos me observam enquanto caminho até encontrar um banco totalmente vago. Dentro do ônibus, observo pela janela as pessoas lá fora, parecem tão felizes e sem problemas. Sinto uma leve inveja delas, seria tão bom se tudo fosse mais fácil.

Finalmente, depois de Seu Nelson percorrer a cidade toda, chego à escola. Decido não olhar para ninguém, somente para o chão, mas os meus olhos acidentalmente encontraram Melissa e suas novas amigas. A garota gesticulava e gargalhava tão alto. Todas elas pareciam tão felizes, aquela mesma inveja que havia me atormentado momentos atrás volta como um raio. Sem perceber direito, vejo Melissa caminhando em minha direção. Ela deve estar indo para outro lugar, até porque não viria até mim.

Ela estava vindo. Minhas mãos suavam tanto, eu não havia interagido com outras pessoas há meses, exceto meus pais e a moça que faz meu jantar.

- Oi, Katie. Como está? – diz ela séria.

- Hum, oi, Melissa... – digo olhando para o chão a fim de evitar encará-la.

- Bom, eu só vim dizer que a Srta. Jannette me pediu para que te entregasse a sua redação da semana passada, já que você não apareceu nenhum dia. Ela pediu para que eu entregasse porque sabia que eu tinha coragem de falar com você, até porque ninguém mais tem né? A esquisita da escola – ela me entrega um papel com uma nota 10 bem grande em vermelho – E, a propósito, parabéns pela nota.

Ela sai e não consigo nem dizer obrigada. Eu realmente faltei a semana passada toda e nesse período a única coisa que fiz foi dormir dia e noite, noite e dia. É como se algum daqueles dementadores de Harry Potter tivesse sugado toda a minha alma, e com ela, toda a minha felicidade.

Entro na sala e as gargalhadas se tornam mais fortes. Sento-me encostada na parede, completamente isolada, pois ninguém senta na minha frente ou atrás, até que gosto, assim não terei de bolar uma conversa com a pessoa. Os únicos que decidem tentar bater um papo comigo são os professores, até que são bem legais, principalmente Srta. Jannette.

- Oi, minha querida. Senti saudades... Por que faltou esses dias?

- Não estava disposta... – respondo. Ela me observa com um olhar preocupado, mas logo uma voz que vem de trás a chama.

"Não estava disposta", quem eu quero enganar? Aqueles risos extremamente altos estavam me dando agonia. Fazia tanto tempo que não gargalhava assim... Mas, que diferença faz? Que diferença fazia estar ali? Meus pais nem sabiam que eu tinha faltado da escola todos os dias da semana passada. Amigos, bem, que amigos? Eu não tinha absolutamente ninguém. Seguro o colar em meu pescoço. Uma pequena libélula de prata reluzia e eu me lembro do que um dia a pessoa mais importante da minha vida me disse:

"Antes de nascer, são apenas ovos esperando ansiosamente pelo mundo gigante que as espera. Depois de um tempo, se tornam larvas na água e só sobrevivem aquelas que conseguem se adaptar ao meio. Depois, voam para longe e nunca mais retornam para o lugar que as faz lembrar quando não eram nada para a natureza. Seja como elas, esteja sempre se adaptando ao meio. Somente assim conseguirá voar e fazer com que outros observem o seu voo."

Nunca havia entendido o que minha avó quis dizer com essa frase, mas hoje ela me pareceu bem clara. O meu meio não precisa de mim, por isso, não farei mais parte dele, eu voarei para longe de tudo isso.

Quando a noite chegar e estiver sozinha em casa, eu me matarei. 

A Metamorfose da LibélulaOnde histórias criam vida. Descubra agora