"Amando e lutando, acusando, negando
Não consigo imaginar um mundo em que você se foi
A alegria e o caos
Os demônios de que somos feitos
Eu estaria tão perdido se você me deixasse sozinho
Você se trancou no banheiro
Estava caída no chão quando eu entrei
Eu te puxo para sentir seus batimentos
Você pode me ouvir gritando: Por favor, não me deixe?
Espere, eu ainda te quero
Volte, eu ainda preciso de você
Me deixe pegar a sua mão, eu vou consertar tudo
Juro te amar por toda minha vida
Espere, eu ainda preciso de você"
O sinal ecoa pelos corredores da escola. Chegou o momento. Daqui a algumas horas toda a dor terá ido embora. O suicida não quer se matar, na realidade, ele quer matar o vazio que pesa em seu peito.
Pego minha mochila do chão, estou na sala vazia com Srta. Jannette. De repente, a professora que antes estava sentada se levanta, caminha em minha direção e toca suavemente a minha mão.
- Filha, você não está bem. Não conversa com ninguém da escola toda. Permanece o dia todo calada. Conversei com os outros professores e eles confirmaram que na aula deles você também não abre a boca. Há alguma coisa acontecendo com você? São os seus pais? Qualquer coisa eu marco uma reunião com eles e podemos resolver o que está te angustiando...
Sinto meu coração palpitando. A minha vontade era correr para os braços de Srta. Jannette e contar cada sentimento ruim que me cercava, contar sobre o vazio que eu estava sentindo, contar sobre a minha solidão, e, finalmente contar sobre o meu plano de morte. Mas, nada disso saiu de minha boca. Eu estava tão mal que não conseguia dizer o que estava sentindo, nem que eu ficasse o dia todo pensando em quais palavras usar.
- Está tudo bem. Se alguma coisa acontecer eu aviso à Srta. Obrigada pela preocupação. – Percebi pelo olhar assustado que ela não estava convencida com a minha resposta.
- Há pessoas que se importam com você, nunca se esqueça disso. Eu sou uma delas. – disse ela, amorosa. Dou um sorrisinho forçado e corro para fora da escola o mais rápido que posso.
Às vezes, eu tinha ataques de pânico como o que estava por vir e a única coisa que conseguia fazer nesses momentos era correr. Correr para bem longe de todos. Me afastar completamente e me isolar em um antigo armazém abandonado.
Já dentro do armazém, me sento no chão frio daquele histórico lugar. Coloco as mãos em meu rosto e o pressiono com força. Logo, sinto lágrimas quentes descerem e encherem a minha face toda.
Eu estava destruída. Eu estava paralisada e sem sentir um sentimento sequer. Onde a antiga "eu" estava perdida esse tempo todo? O meu coração ainda palpita. Estou ofegante. Fazia algum tempo que eu não tinha um ataque de pânico tão longo.
Depois de alguns minutos, - ou horas, não sei ao certo, acabei perdendo a noção de tempo, - me levanto com dificuldade. Meu coração não estava mais batendo tão forte quanto antes, nem as minhas mãos estavam suando tanto ou tremendo, observo pela pequena janela do armazém a rodoviária. Muitas pessoas. Todas correndo contra o tempo. Eu era apenas mais uma naquela multidão. Qual era a história de cada uma delas?
Pego as minhas coisas e marcho rumo a minha casa. O momento tinha chegado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Metamorfose da Libélula
RomanceKatie Watson é uma adolescente de 17 anos solitária que enfrenta vários problemas dentro de si. Em seus devaneios melancólicos, a garota descobre que é mais uma das vítimas da depressão. Diante disso, os pais ausentes decidem não encarar de frente a...