Capítulo 5: Human (Christina Perri)

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"Eu posso fingir um sorriso

Eu posso forçar uma risada

Eu posso dançar e atuar

Se é isso o que você pede

Te dar tudo o que eu sou

Eu consigo fazer isso

Mas eu sou apenas humana

E eu sangro quando caio

E eu me despedaço e eu me quebro

Suas palavras na minha cabeça

Facas no meu coração

Você me ilude e então eu desmorono

Porque eu sou apenas humana"


A escuridão vai embora e sou acordada ao som de vozes conhecidas.

- Vocês precisam tomar uma providência! Não é normal uma menina da idade dela ficar calada o dia todo. Não sei como vocês, os pais dela, não perceberam nada. Era evidente que ela não estava bem há meses... – reconheço a voz frustrada de Srta. Jannete.

Um constrangimento muito grande me atinge. Era para eu ter morrido. Esse era o plano. Eu não havia bolado outro plano diferente para caso a minha tentativa viesse a falhar. Que vergonha. Nesse momento, todos já deveriam estar sabendo: "Você ficou sabendo o que aquela maluca da escola fez? Tentou se matar! Acredita nisso? É bom ficar o mais distante possível daquela garota...".

O que Melissa e suas amigas populares estariam pensando e falando de mim nesse momento? Nunca mais volto para a escola. Pronto. Assim não terei de enfrentar os olhares curiosos e os comentários julgadores de todos. Ficarei trancada em casa. Eu já não tinha vida mesmo.

A vergonha era tão grande que decido permanecer de olhos fechados. Não sei se terei coragem de abri-los algum dia. Encarar os meus pais vai ser o mais difícil. Ver as suas caras assustadas e sem saber o que fazer comigo. Ou então, já que sou tão "não importante", eles simplesmente ignorarão a minha presença e ficarão conversando no celular atrás de negócios da empresa.

O meu maior desejo naquele momento era ouvir de meu pai: "Mas você tem tudo o que quer. Tem uma vida de luxo. Eu e sua mãe trabalhamos duro para te dar tudo. T-U-D-O o que você tem. Estamos tão desapontados com você". Doa o que doesse. Eu ficaria feliz de ver que o que fiz tinha aberto seus olhos e que ele tinha começado a reparar em mim. Que se importava comigo. Mas, pelo comentário de professora Jannette eles não se importaram muito com o ocorrido.

Permaneço de olhos fechados por uns dois dias, quando finalmente tenho coragem para abri-los. Nesses dois dias ouvi diversas coisas. Boas e ruins. Ouvi pessoas conversando comigo que jamais imaginei que estariam ali. O que me fez decidir mostrar que eu estava ali foi o comentário de minha mãe:

- Eu sei que não sou boa mãe. De fato, não sou. Também é fato que você foi um acidente. Justo na hora em que eu e seu pai estávamos crescendo profissionalmente. Eu te odiei a minha gestação inteira. Tentei abordar diversas vezes. Mas, quando vi a sua carinha pela primeira, o meu coração se encheu de alegria. Você sempre foi uma criança tão independente, minha filha. Nessa sua independência, acabei se apegando ao trabalho mais uma vez e não tive tempo de ver o que você estava sentido. Me perdoe. Isso foi tudo culpa minha – um choro sem igual inundou a minha mãe. Nunca a vi desse jeito.

Devagar, bem devagar começo a abrir os meus olhos. Ainda sinto aquele mesmo vazio. Aquela maldita sensação não havia ido embora. Só que agora, eu sabia que não teria de enfrentar tudo isso sozinha. Eu tinha a minha mãe. 

A Metamorfose da LibélulaOnde histórias criam vida. Descubra agora