A Metamorfose da Libélula

Capítulo 4: Asleep (The Smiths)

"Eu quero ir pra cama

Cante pra eu dormir

E então me deixe sozinho

Não tente me acordar pela manhã

Porque eu terei partido

Não se sinta mal por mim

Eu quero que você saiba

Do fundo do meu coração

Eu ficarei tão feliz em partir"

Giro a maçaneta. Entro em casa. Deito em minha cama e me despeço das minhas amadas coisas. Tudo aquilo era meu. Aquelas roupas. Aqueles livros. Tudo era meu e somente meu. Para onde irão quando eu não estiver mais aqui?

Seguro com força o meu colar de libélula. Aquele era um presente da minha avó. Espero que eu seja enterrada com ele. Foi um presente muito especial, de uma pessoa muito especial. Será que eu me encontrarei com ela?

Passeio pela casa. Naquele sofá, eu tive ótimos momentos com os meus pais quando pequena. Ficávamos assistindo e dando boas gargalhadas.

Aquele quadro eu pintei quando tinha seis anos. Dei de Dia das Mães para a minha mãe. Ela parece ter gostado bastante. No mesmo dia, ela me pediu para que a ajudasse a pendurá-lo.

Naquela cozinha fiz ótimos bolos com a minha avó.

Naquela mesa joguei muito baralho com o meu pai.

Naquela varanda brinquei com as minhas várias amigas de correr ou de boneca.

Faço minhas unhas. Pinto-as de um rosa bem alegre. Fazia vários meses que eu não pintava as unhas. Depois, arrumo meu cabelo e faço um penteado bem bonito. Visto a minha melhor roupa do armário. Vou até o banheiro e pego uma caixa bem grande e nela está escrito "medicamentos". Volto para o meu quarto e fecho a porta. Sento-me em minha cama e olho ao meu redor. Tudo aquilo foi muito bem aproveitado. Tive maravilhosos momentos dentro dessa casa. Pois bem, "tive". Respiro profundamente. Tudo ficará ficar bem. Tudo isso iria acabar e eu finalmente estaria livre. Ponho muitos comprimidos em minha mão e jogo todos eles para dentro de minha boca. Faço isso repetidas vezes.

"Finalmente estarei livre".

Deito-me na cama e fecho os olhos.

"Tudo ficará bem".

Tudo está escuro.

Esse é o meu fim.