Capítulo 7: The Doctor Said (Chloe Adams)

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"Quando o médico diz que estou bem

Uma de manhã, uma à noite. Essas pílulas irão te ajudar a te lembrar de como sorrir

Mas o que ele sabe?

Porque me sinto tão sozinha

E mamãe e papai, ambos dizem que estou bem. Porque o médico disse: Você está bem

Mas ele não se importa comigo. Ele vai apenas para casa para sua família

Por que ninguém vê?

Eu não sou a garota que eu desejava que poderia ser

Vou me perder dentro da minha mente. Pensamentos ruins até as quatro da manhã

Então vou tentar dormir. E não posso contar para ninguém

Estou tão assustada que se levantarão e correrão

Então eu não falo

E oh, sinto falta quando éramos mais jovens.Os dias eram tão mais divertidos. Não eram?

Todos dizem que é ansiedade. Mas eu só acho que isso sou eu

Agora perdi tantos anos

Meu travesseiro é um lenço para minhas lágrimas

E agora, não consigo nem mais comer o jantar

Mamãe diz que estou emagrecendo

Eu estou?

Eu não sou a garota que eu desejava que poderia ser"


- Pa...papai? Você está bem? – digo aflita.

- Olha para a minha cara. Acha que estou bem?

- Querido, por favor, se acalme. O que houve? – diz minha mãe, tentando controlar a situação.

- O que houve, Sandra? Essa menina imatura. Já viu as notícias? E você ainda tem coragem de ficar aqui mimando essa garota estúpida. Tem tudo o que quer e decide arruinar não só a sua vida, como a de todos! – ele berra. Todos do hospital já deveriam estar ouvindo seus gritos.

Minha mãe se levanta da poltrona em que estava sentada, pega seu celular e, como ação imediata coloca a mão na boca, surpresa com o que acabara de ver.

- Não estou entendendo... O que está acontecendo?

- Ah, minha querida filha – ele ironiza – A sua atitude nada coerente arruinou a nossa empresa. "Filha de importante empresário tenta suicídio e culpa os pais por suas tristezas". Tem noção do tanto de pessoas que haviam fechado contrato conosco e voltaram atrás depois que souberam o que aconteceu? Eu perdi milhões! MILHÕES! Por sua culpa.

Logo apareceram vários enfermeiros bem fortes no meu quarto e seguraram o meu pai pelos seus braços. Eu ainda não tinha tido tempo, nem força para engolir tudo o que ouvi.

- Você deveria ter morrido. É. Deveria sim! Seria um alívio para todos nós. E você, Sandra? Uma hipócrita. Você nunca quis essa menina. Me soltem! – ele se debatia e tentava fugir dos enfermeiros, mas não obteve sucesso.

Impulsivamente grito com toda a minha força a única coisa que me vêm à mente:

- EU NÃO PEDI NADA DISSO!

***

As folhas das árvores caem. Os frutos um dia apodrecem. Um dia ensolarado pode ser seguido de uma terrível tempestade. Os anos passam. As palavras machucam. É incrível como uma pessoa pode destruir um edifício inteiro. Mas o meu edifício já havia desmoronado há muito tempo. Agora só o que restava era o vazio. Um mero corpo que vaga por aí. É como se não houvesse nada, nenhum sentimento.

Aquelas últimas palavras do meu pai fizeram com que eu paralisasse. E ele tinha razão. Não tinha motivo para eu estar ali. Uma raiva gigantesca percorre o meu corpo. Se não fosse a intrometida daquela velha eu já estaria muito longe e não precisaria ser humilhada da forma que fui. E, a covarde não deve nem coragem de me encarar depois do que fez.

"Indesejável". Essa é a palavra que descreve tudo o que sou. Tudo. Indesejável gestação. Indesejável filha. Indesejável na escola. Indesejável amiga. Indesejável ser humano. Se nem os meus pais desejavam a minha chegada, por qual motivo eu deveria continuar? Para que lutar com o pouco, ou nada, de alma que ainda tenho?

Eu e minha mãe permanecemos caladas por muitas e muitas horas. Tudo o que tinha que ser dito eu já havia escutado.

Decido ficar um pouco sozinha. Pensar em tudo que estava acontecendo em minha mente e ao meu redor. Pego uma toalha e caminho em direção ao banheiro. Lá dentro tem um enorme espelho. Tiro minhas roupas e as jogo de qualquer jeito no chão. Completamente nua, fito meu corpo dos pés à cabeça.

"Indesejável". Nunca tive um corpo belo, sou extremamente magra por conta da falta de apetite. Já fiquei dias sem comer, o resultado? Um lindo desmaio na frente da escola inteira. Mas isso não importa. Meus cabelos são secos e quebradiços, por conta da desidratação. Tenho enormes olheiras, causadas pela insônia. Minha boca é rachada e pálida, pela falta de vitaminas em meu corpo. E os pulsos exibem uma enorme cicatriz. Relembro do dia que a consegui. Estava sozinha em casa, como sempre. Naquela época eu ainda sentia alguma coisa, uma tristeza que doía por dentro. Era como se fosse dor física de verdade. Aquela dor persistia e não ia embora. E, naquela tarde, eu iria eliminá-la de vez. Ela nunca mais me atormentaria. Peguei a faca da cozinha e a meti no pulso, sem pensar duas vezes. O meu sangue inundou a cozinha toda, tive que segurar o corte gigantesco com um guardanapo para que não continuasse sujando as coisas. Mas, a dor ainda estava lá. Como uma dor de cabeça muito forte que fica te lembrando a todo o momento que ainda está lá, para te fazer companhia.

Prometi a mim mesma que nunca mais faria aquilo. Além de sujar a casa toda, a minha dor não tinha ido embora. Mas, afinal, o que era esse sentimento contínuo que insiste em ficar?

Eu não sabia, contudo, esse era apenas o começo da minha jornada contra a depressão.

A Metamorfose da LibélulaOnde histórias criam vida. Descubra agora