Capitulo Vinte e Seis - Primeira Temporada

2.9K 232 16
                                    

Eu e Daryl invadimos uma casa que, surpresa surpresa, tinha água que saía de todas as torneiras. Corri num quarto, buscando por roupa limpa enquanto Daryl ficou trancando a porta e protegendo as janelas.
Entro no banheiro de um dos quartos, tiro a roupa e entro no duche. Não tem água quente, mas aquilo é bem melhor do que nada. Esfrego cada pedaço de pele e o meu cabelo. Depois fico ali um tempo, sentindo a água cair no meu corpo e pensando.
Estiquei o braço para fora, muitos minutos depois, e agarro numa toalha. Coloco ela em volta do corpo e saio do duche, sacudindo o cabelo com a mão, que agora cheira muito bem.
Ele está lá, sentado numa cadeira que tem no banheiro, olhando o chão, com a besta apontando para baixo entre os pés dele.
- Merda Daryl! - Grito. - Porque você está ai feito assombração? Quer me matar??
Ele olha para mim.
- Nem brinca. - Diz ele e depois levanta, apontando a porta. - A porta está trancada e as janelas protegidas. Fica com esse quarto, eu procuro outro. Só queria ver se você estava bem.
Ele se prepara para sair, mas eu toco no braço dele.
- Fica nesse comigo. - Pedi. - Não quero ficar sozinha agora.
Ele fica me olhando durante muito tempo e depois sai, fechando a porta e sem dizer nada.
Suspiro, visto a roupa e saio, vendo Daryl sentado junto da janela, olhando o exterior e roendo uma unha. Não digo nada, atravesso o quarto e sento na cama, na escuridão. Ficamos ali um bom tempo, calados.
- Do que você tem medo? - Pergunta Daryl quebrando o silêncio.
Mordo meu lábio.
- Depois da prisão... Nesse momento não quero ficar sozinha, você deve compreender.
Ele diz que sim com a cabeça e depois continua olhando pela janela.
Me deito, mas sei que não vou conseguir dormir.
- Pode dormir. - Diz Daryl sem me olhar. - Eu não vou sair daqui a noite toda.

Acordo com o sol batendo no meu rosto. Estico os braços, era ótimo dormir em uma cama fofa como aquela. Ai lembro de Daryl, sentado na janela e sento na cama, mas a unica coisa que prova que Daryl está ali é a besta, que ele deixou no chão. Olho em volta, mas depois ouço a água cair no banheiro e vejo a porta meia aberta.
Levanto e desço, indo até á cozinha. Espreito por uma janela e vejo alguns errantes na rua. Suspiro. Nesse mundo cheio de carcaça velha a unica coisa que restou foi a esperança, e até essa eu já começava a perder.
Abri os armários, achando várias latas e uma coisa chamada carne seca e que ainda estava boa para comer. Acho biscoitos também, e coloco tudo em cima da mesa, me sentindo orgulhosa da minha caça pela cozinha.
- Desde quando você é dona de casa?
Olho para trás, pulando de susto, e vejo Daryl, limpo, de besta na mão e de pé junto da porta, olhando a mesa.
- Não sou, mas a gente precisa comer. Senta.
Ele entra e senta em uma cadeira, agarrando um biscoito e fica mordendo ele enquanto abre uma das latas.
Sento também e pego numa lata, que se recusa a abrir, a filha da mãe. Estou pensando seriamente em jogar ela no chão, quando vejo a mão de Daryl estendida para mim. Suspiro e entrego a lata a ele, que abre em um segundo e me devolve.
- Você é pior que criança. - Diz ele.
Olho para ele, mas Daryl está olhando a sua lata.
- Obrigada senhor perfeição.
Ficamos calados, num silêncio de morte, durante vários minutos. Daryl olha para baixo, e eu aproveito para olhar ele, tentando imaginar o que ele fazia antes de tudo aquilo. Ele me pega olhando ele.
- Que foi? - Pergunta.
- Daryl, o que você fazia antes disso tudo?
Ele fica calado, me olhando, como se pensasse se eu merecia saber ou não. Depois respira fundo e encolhe os ombros.
- Nada de importante. E você, o que fazia?
- Nada, além de faculdade e de ajudar meu pai na fazenda.
- Faculdade?
Sorri. Parece que despejei alguma curiosidade em Daryl.
- Sim. Medicina, mas eu nunca percebi nada daquilo. Era só a vontade do meu pai em ter um filho médico. Tive de ser eu a tentar.
Ele limpou o dedo com a lingua, parecendo pensar em algo. Por fim ele olha para mim.
- Eu não fazia nada. Vivia para lá e para cá na sombra do Merle. Fazendo besteira.
- Você.... - Decidi falar e pronto, sabendo que Daryl iria se fechar de novo na sua concha. - Você tem vergonha de ser quem é, não tem? Do seu passado.
Ele me olha e vejo algo no seu olhar que não sei explicar. Depois, sem dizer uma unica palavra, Daryl levanta, pega na besta e sai pela porta dos fundos, caminhando sem parar.
Sei que ele quer ficar sozinho, mas Daryl continua andando e andando até desaparecer. Olho para baixo. Será que ele me abandonou?

A História de Malia MasonOnde histórias criam vida. Descubra agora