VII

991 74 3
                                    

Safira

Sufocada.

É assim que eu me sinto neste exato momento. Não consigo respirar direito, meu coração está acelerado, meus olhos ardem, minha garganta parece estar fechada, sinto que vou morrer a qualquer momento. Sei que isso faz parte da minha crise. Estou na sala de aula, o que só piora tudo, é como se todos estivessem olhando para mim por mais que eu saiba que ninguém está olhando não consigo tirar essa sensação.

Apoio meus braços na mesa e abaixo minha cabeça para parecer que estou dormindo, talvez se eu realmente dormir consiga me libertar disso por um tempo, mas não consigo, é como se um véu escuro e denso me envolvesse, como se eu estivesse sendo puxada para baixo por um mar escuro e lá em cima estivesse uma luz fraca e por mais que eu nade, por mais que eu tente, eu simplesmente não consigo alcançar essa luz, parece que quanto mais eu nado, mais distante essa luz fica e mais pra baixo sou puxada.

Tudo o que eu consigo imaginar é:

1. Por que eu sou assim?

2. O que eu fiz de errado novamente?

3. Eu sou tão ruim assim

4. eu não mereço viver.

O dia passa inerte. Não me pergunte o que eu fiz, eu não sei o que eu fiz, eu poderia ter xingado alguém, agredido alguém, matado alguém ou até mesmo explodido a escola que eu não me lembraria.

Na saída, saio da escola para esperar o Liu em frente ao portão.

- Olá, moça bonita denominada Safira - olho para onde vem a voz e me deparo com um garoto encostado no muro me encarando.

- Perdão?

- Eu disse: "Olá, moça bonita denominada Safira" - ele fala se aproximando.

- Desculpe, mas nós nos conhecemos? - O tal cara parecia ter uns dezoito ou dezenove anos, ele era alto, seus cabelos eram um castanho meio claro e um pouco logo, mas o que mais chamava atenção eram os seus olhos verdes, algo intenso e misterioso como os de Jason. "Por que raios eu estou pensando nele?"

- Realmente, ele tinha razão. Você é muito interessante. - Ele fala já estando em minha frente.

- Como? - De quem você está falando? - Ele abre a boca, mas fecha assim que escutamos a voz de Liu me chamando.

- Bem, eu já vou. Foi um prazer te conhecer - ele fala se afastando - Ah, obrigada pela informação. - Ele pisca e saí.

- Quem era aquele? - Liu diz se aproximando.

- Não sei... ele só queria uma informação. - Digo meio fora de órbita. Quem era aquele estranho e o que ele queria?

Assim que chegamos em casa subo as escadas correndo e entro no meu quarto.
Vou ao banheiro e me olho no espelho.

"Mas é claro que ele ia agir daquele jeito, olha só pra mim eu não tenho corpo, sou feia, a única coisa que eu tenho de bom e nem é tudo isso é o meu cabelo"

Espera.

Eu estou me criticando por causa de um garoto?!

Não! Não, isso não pode está acontecendo, acorda Safira, não se martirize por causa dele!
Ando de um lado para o outro. O bom de você morar em uma mansão é que tudo é enorme, até mesmo o meu banheiro é relativamente grande.

- Ok, um banho quente e relaxante deve me ajudar.

Saio do quarto e vou atrás da Maria, a encontro na cozinha preparando o almoço.

- Oi, querida. - Ela diz assim que me vê.

- Oi, mamãe.

- Você está com uma carinha minha filha, aconteceu algo? - Nego com a cabeça. Ela não precisa saber - Bem se você diz... Já sei! Vou fazer a sua comida favorita. Será que vai aparecer um sorriso nesse rostinho? - ela fala tocando na minha bochecha.

- Eu apenas estou cansada. - Falo forçando um sorriso - Eu só vim aqui pra avisar que vou dormir e que só é para me acordar se for algo urgente.

- Está bem, tem certeza que não aconteceu nada?

Droga. Eu conheço esse olhar. Traduzindo: "Eu sei que você está escondendo algo, Safira" Se eu desviar o olhar vai ficar óbvio, se eu responder com um tom diferente ela vai ter certeza.

- Tenho sim. - Digo tentando ser o mais neutra possível, ela ergue a sobrancelha ainda em dúvida, enfim suspira e concorda com a cabeça.

Me viro e vou para o meu quarto, e entro no banheiro.

- Nada do que um bom banho de banheira não vá me ajudar. - Falo abrindo a torneira, enquanto a banheira fica pronta pego a toalha e o pijama. Quando fica pronta entro na mesma e fecho os olhos.

- Okay, vamos recapitular tudo o que aconteceu nesses três dias. Primeiro eu encontro um garoto estranho que gosta do mesmo livro que eu, depois encontro esse mesmo garoto na clínica em que faço terapia, nós nos beijamos. No dia seguinte ele me dá uma rosa preta, após isso vou pra casa dele e acabo dormindo lá, na manhã seguinte ele age estranho e por isso eu tenho uma crise. P.Q.P, parece que eu to em uma fanfic adolescente.
Resumindo, estou envolvida com um cara misterioso e psicótico... Eu realmente tenho problemas.

[...]

Tenho um sonho estranho, um bem real eu diria. Tinha seis anos novamente, meus pais decidiram de última hora fazer uma viagem de férias e fomos até o lago que costumávamos ir.
Decidimos andar de bote, Liu sabia conduzir muito bem, mas algo aconteceu, o barco balançou e por um segundo meu irmão perdeu o equilíbrio e então eu caí na água e fui afundando sentindo toda a água entrando pelo meu corpo. E é nesse ponto que meu sonho fica estranho, naquele dia não fui eu que caiu no lago.

O Psicopata e a SuicidaOnde histórias criam vida. Descubra agora