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Voltar para o castelo não havia sido uma tarefa difícil, e estar cavalgando Tempestade tornava tudo mais fácil.
Não fazia ideia da hora em que retornou para o castelo mas Ramon continuava no celeiro, provavelmente esperando sua volta.
- Que bom vê-la novamente. – debochou.
Revirei os olhos. Lhe entreguei Tempestade à muito custo, queria passar mais tempo lá fora Mas seria impossível. O pôr-do-sol já acontecia, e caso não corresse para seu quarto, teria belos problemas depois.
- Agnes estava à sua procura.
- Ela disso o motivo?
- Não, mas parecia preocupada.
- Droga. – murmurei antes de correr para dentro do castelo.
Adentrei o lugar pela cozinha, o cheiro delicioso de comida dançava pelo ambiente mas não pude se quer aproveitar. Corri até a parede do corredor, em poucos segundos ativei a passagem secreta. Uma das vantagens de estudar a planta do castelo, era ter o conhecimento de cada canto daquela enorme construção.
Abri a porta de dentro do guarda-roupa, o que foi uma péssima ideia já que o mesmo estava uma bagunça. Acabei me desequilibrando e caindo no chão do quarto, assustando minhas criadas que costuravam perto da janela.
- Está tudo bem princesa?
- Sim.
Tentei sorrir. Micaela me ajudou a levantar, enquanto Hera e Agnes recolocavam as roupas de volta no lugar.
Pareciam querer perguntarem o que havia acontecido, aonde eu estava mas antes que uma chuva de perguntas caísse sobre mim, Micaela pareceu se lembrar do jantar.
- Agnes termine o ajuste no vestido amarelo, eu irei preparar seu banho princesa.
Agnes pegou o vestido amarelo no qual elas trabalhavam antes de serem assustadas por mim.
- Amarelo? Sério Micaela? – questionei enquanto Hera retirava os grampos em meu cabelo.
- Aparentemente é a cor preferida do príncipe Micael.
O trio me olhava com um enorme pedido de desculpas, sabiam o quanto eu odiava a cor. Não era bem ódio, apenas não me dava bem com ela. Tentei diversas vezes usar vestidos e outros acessórios na cor amarela mas nada ficava bom em mim.
Amarelo definitivamente não era minha cor, pensei ao me olhar vestida após o banho.
- Pensaram que estou doente. – reclamei.
- Para o príncipe não será tanta mentira assim. – Agnes soltou.
- Ele me procurou? – suspirei.
- Sim, até lhe trouxe flores.
Revirei os olhos ao ver rosas amarelas sobre minha escrivaninha. Como ele ousa arrancar flores do meu jardim?! Bufei.
Se Karl tivesse em melhores condições já teria enxotado esse príncipe, e eu não culparia se o fizesse.
- Aonde esteve princesa? Procuramos pela castelo todo.
- No Jardim.
Micaela me desafiava com o olhar, sabia que eu mentia e iria me arrancar a verdade de qualquer maneira. Suspirei aliviada ao ouvir batidas na porta. Hera seguiu até a porta para atendê-la.
- A princesa já irá descer soldado Dupuy.
Não sabia se me sentia aliviada ou estressada, queria fugir de Micaela e seu olhar desafiador mas também não desejava descer para o jantar, teria que encarar o príncipe Micael e sua arrogância por mais de uma hora.
Agnes deu os últimos ajustes no vestido. Por mais que amarelo não fosse minha cor, o vestido estava lindo. Diversas pedrarias acompanhavam a manga longa e um pouco dá saia, seria impossível não notar minha presença com aquele vestido.
Respirei fundo, me retirando de meus aposentos. O soldado Dupuy me esperava ao lado de fora, me escoltando até a grande sala de jantar.
Não costumávamos comer ali durante os dias normais, era grande demais para nós três, apesar de meu pai não se importar muito com isso. O soldado parou na porta enquanto eu entrava, observei meu pai sorrir e mamãe suspirar, parecia cansada.
Me sentei entre a rainha Della e sua filha mais velha a princesa Aurélie. Permaneci calada, apenas escutando todos falarem alegremente, não demorei muito para descobrir o nome das outras princesas ali presentes. Celine era a segunda Lambert, apenas por alguns minutos de diferença de Aurélie, observei as duas atrás de alguma semelhança mas não me deparei com nada, eram um grande oposto uma da outro. Enquanto Aurélie tinha cabelos castanhos quase negros e olhos incrivelmente azuis, Celine possuía lindos cabelos louros e olhos completamente escuro, não saberia definir com certeza qual era sua verdadeira cor na distancia que estávamos. Infelizmente depois das gêmeas adoráveis, veio o príncipe Micael, que eu particularmente evitei olha-lo. Naomi era a mais nova Lambert, uma mistura unicamente de suas irmãs.
As princesas eram admiráveis, diferente do príncipe. Como podiam ser o oposto um dos outros?
Permaneci alheia das conversas, quanto antes acabasse com aquilo melhor. Apenas queria o conforto do meu quarto.
- A senhorita está bem, princesa Julietta? Está tão calada.
Olhei para todos ao redor, a fala da rainha Della havia atraído a atenção de todos.
- Só estou um pouco cansada.
Olhei para meu pai antes de prosseguir.
- Se me derem licença gostaria de descansar em meus aposentos.
Os dois reis ali presentes assentiram sem pestanejar. Ótimo, não sabia que seria tão fácil me livrar dali.
Me retirei rapidamente antes que mudassem de ideia. Não poderia voltar para o quarto, cedo demais para dormir e ainda teria que lidar com as milhares de perguntas de Micaela. O jardim era sempre a melhor opção.
- Não está pensando em fugir novamente do castelo, não é?
Assustei-me com a voz de Ramon, ao seu lado estava Simon. Ambos vestidos com o uniforme de guarda.
- Não deveriam estar trabalhando?
- E estamos, enquanto vocês comem nós fazemos a ronda pelo castelo.
- Não deveria estar lá dentro? – Simon perguntou, me fazendo analisar seu rosto, enormes olheiras tomam seu rosto jovem.
- Não estava me sentindo bem.
Sentei-me sobre o banco próximo deles. As poucas pessoas que ignoravam a coroa em minha cabeça, eram aqueles dois e Loretta, as vezes Micela mas sempre se autocorrigia pela atitude. Eu não me importava, era bom me sentir um pouco normal as vezes.
- Então deveria estar em seus aposentos presumo.
- E você deveria estar descansando, esteve na escala da tarde.
Simon suspirou. Ramon olhou para o amigo como se dissesse “eu te avisei”.
- Estou fazendo turnos extras. – confessou.
- Por quê?
- Minha mãe está doente, minha irmã é muito nova para trabalhar ainda, eu sou o único sustento da casa.
Não sabia muito da família de Simon, apenas que moravam na cidade e que seu pai já havia falecido. Agora sua mãe está doente e sua irmã não pode trabalhar, mas isso não era uma desculpa para ele se matar no trabalho, se continuasse daquele jeito acabaria de cama em menos de dois dias.
- Vá descansar agora.
- Não pos...
- É uma ordem! – lhe cortei a fala, tentei soar o mais confiante que podia e pela cara de ambos eu havia conseguido. – Tire o resto da semana de folga e vá visitar sua família.
- Mas eu...
- Simon Bonnet, você está recebendo ordens diretas da sua próxima rainha, não se preocupe com dinheiro, mandarei o médico real junto a ti logo pela manhã. Agora se me dão licença rapazes, preciso voltar para meus aposentos.
Ambos se levantaram, fazendo uma reverencia breve.
Ao adentrar meu quarto, soltei o ar que nem se quê sabia que prendia. Estava vazio.
Aproveitei para escrever um breve bilhete ao médico real, como não poderia esperar minhas criadas voltarem para lhes entregar, sai do quarto em busca de um guarda.
- Soldado... – parei para ler seu nome no uniforme. – David, entregue isto ao doutor Leroux.
- Claro princesa.
Fez uma reverencia rápida e sem jeito. Olhei seu rosto, era jovem, provavelmente esse era um dos soldados novos que havia chegado ao reino.
Voltei para meus aposentos, que felizmente ainda se encontrava vazio. Retirei o vestido amarelo, trocando o mesmo por uma simples camisola de seda.
Pensei em esperar minhas criadas voltarem ao quarto para podermos conversar sobre o que aconteceu naquele dia mas desisti, elas surtariam ao saber que me ausentei do castelo sozinha.
Deitei-me na enorme cama, pegando no sono sem muita dificuldade.

Doce JuliettaOnde histórias criam vida. Descubra agora