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O jardim de inverno me pareceu mais atrativo que meus aposentos. Me sentei em um dos bancos distribuídos ali.
Sorri ao me lembrar das flores em meu vestido e cabelo.
- Saída triunfal princesa.
Virei-me para a voz atrás de mim. O rapaz mantinha um sorriso debochado, me fazendo revirar os olhos. Certamente Romeu era muito melhor em meus sonhos.
- Deveria estar no salão.
- Você também. – Romeu rebateu.
Felizmente o silêncio tomou conta do jardim. O rapaz caminhou lentamente até mim, sentou-se ao meu lado no banco.
- Você sabia?
Minha pergunta deixou-o confuso.
- A coroa na minha cabeça.
- Ah... Não, eu não fazia ideia.
Respirei fundo, precisei juntar toda a coragem que ainda restava em meu corpo, para encara-lo. Quando consegui, me perdi em seu olhar, o tom verde em sua íris, estava mais claro do que nunca.
- Quem era aquele com você?
O tom de voz neutro não me permitia descobrir o que sentia naquele momento.
- Micael Lambert.
Romeu revirou os olhos.
- Sei o nome dele, e sua posição.
- Então porquê perguntou?
  Ele sorriu debochadamente.
- Seu noivo?
Olhei-o perplexa.
- Não, claro que não.
Romeu murmurou algo que não consegui escutar.
- Deveria avisa-lo.
- O que?
- Depois do seu espetáculo, tivemos uma pequena discussão.
- Você tem que parar de me tratar como uma donzela em perigo que necessita ser salva, eu consigo fazer isso sozinha.
- Nunca duvidei que conseguia.
Suas mãos pararam em meu queixo em uma caricia gostosa.
- Vai me contar o que aconteceu no salão ou terei que descobrir sozinha?
Ele riu.
- Como o bom súdito que sou, irei contar. – respirou fundo. – Depois que a donzela que se salva sozinha saiu da sala, o principezinho veio para cima de mim.
- Vocês brigaram?
Romeu fez cara de tedio para mim.
- Não.
- Mas...
- Julietta eu sou um soldado, luto com pessoas triplamente maiores e mais forte que eu, ele é um principezinho, se souber segurar a espada por dois minutos é muito.
O tom convencido do rapaz, me deixou a beira de revirar os olhos mas me contive.
- Então me conte, valente soldado, o que aconteceu no salão?
- Ele veio para cima de mim, deveria ter ficado, foi um espetáculo e tanto.
- Você não o machucou, não é?
- Calma donzela salvadora de si própria, não machuquei seu querido principezinho.
- Gostaria mais de você caso tivesse feito.
Ele riu. Sua risada era música para meu ouvido, eu certamente passaria anos ouvindo aquela melodia sem me cansar.
- Seus guardas seguraram ele.
- Estraga prazeres.
- Quando ódio para uma princesa.
- Ele é desprezível.
- E se casará com ele.
- Não! – respondi perplexa. – O que você sabe e eu ainda não?
- Sei de muitas coisas princesa, seja mais especifica.
- O que sabe sobre Micael Lambert.
- Bom, especificamente de Micael não sei muita coisa.
Revirei os olhos.
- Se for continuar me enrolando, irei para meus aposentos.
- Pensei que gostasse da minha companhia princesa.
- Apenas nos sonhos. – soltei sem pensar.
Seu sorriso malicioso me causou arrepios, eu estava ferrada.
- Então vossa majestade sonha com um simples súdito?
- Não.
- Tsc tsc, algo me diz que está mentindo.
- Acredite no que quiser então.
Ele riu.
- Mark Lambert e seu pai estão negociando você.
- Como sabe?
- Tenho meus contatos.
- Então me conte o que sabe.
Romeu sorriu.
  - Lambert tem uma boa coroa, e obviamente seu pai quer ela para si.
Me mantive calada, ela não mentiria para mim, ou mentiria? Minha duvida maior era como ele sabia aquilo? Estava tão nítido?
- Faz anos que eles tentam um acordo, mas Mark é um homem difícil.
- Está apenas reforçando o que eu já sei, nada de novo ou interessante para mim, isso apenas indica que é um bom observador do reino.
- Magno Bourgeois prometerá a mão da sua única filha ao filho de Mark Lambert.
Como eu ainda conseguia me surpreender com uma coisa como aquela?
- Não fui informada sobre isso.
- É porquê não acontecerá mais.
- Desculpa, o quê?
- O que os Lambert têm de tão precioso Julietta? O quê faria seu pai querer tanto uma aliança?
- Um bom exercito, papai sempre disse que os soldados dos Lambert eram os melhores.
Ele riu, mas diferente das outras vezes eram uma risada seca banhada de puro deboche.
- Nosso querido rei queria nos eliminar.
- Os ataques...
- Era o seu povo se negando a aceitar.
Olhei-o surpresa.
- Os soldados dos Lambert estão por todos os lados, estão tomando o que é nosso, o povo reagiu.
- E meu pai?
- Aparentemente seu doce pai percebeu que nada é mais forte que seu próprio povo.
- E o que você faz aqui?
- Eu? Apenas acompanho meus pais, já eles, devem estar fazendo algum acordo de paz com os reis.
- Você também tem?
Romeu me olhou confuso.
- A flor de lotus.
- Ah não, ainda não.
- O que significa?
- É a marca dos Schneider.
- E você não tem por...
- Não estou no clima para travar uma briga entre meu clã no momento.
- Os Royer não tem uma marca?
- Não.
- Por que os Schneider têm uma então?
- Você é muito curiosa.
Sorri envergonhada.
- Antigamente, quando os clãs ainda eram separados, os Schneider eram pacíficos, levavam as pessoas para um julgamento justo, ao contrario dos Royer, que matavam sem ao menos perguntar nada. Os soldados Schneider se viram necessitados em mostrar para o povo à qual clã pertenciam.
- Por que uma flor de lotus?
- Está ai algo que eu nunca me questionei, mas creio que seja pelo seu significado: “pureza espiritual”.
- Vocês são soldados.
- Somos, e isso não impede de sermos puros de alma, ao menos alguns de nós.
- Pretende fazer?
- Eu não sei, sinto que se não fizer os Schneider se sentiram traídos, mas se eu fizer...
- Os Royer se sentiram traídos.
- Exato.
- Deveria criar algo novo, não são mais clãs separados, agora são um só, está na hora de terem novas “tradições”.
- É uma boa ideia, uma pena que na pratica não dará certo.
- E por quê? Você é o líder, eles tem que fazer o que mandar.
Ele riu.
- Julietta eles são pessoas, cada um tem seu jeito de pensar e de agir, diferente do mundo no qual você vive, que apenas com um gesto de cabeça todos se calam e acatam suas ordens, no meu mundo, todos fazem o que querem.
- Então para quê um líder se não o seguem?
- Eles seguem, mas da maneira deles.
Não consegui entender, não era meu mundo e para mim, aquilo não fazia sentido algum.
- Eu poderia... – me calei, a ideia era insana e meus pais nunca deixariam que acontecesse.
- Poderia...?
- Esquece, foi apenas uma ideia besta.
- Estou me acostumando com suas ideias bestas.
- Eu não tenho ideias bestas.
- Duas vezes em uma floresta sozinha, não classificaria como uma boa ideia.
Revirei os olhos.
- Ir à cidade sem todos os guardas, se alguém à reconhece creio que apenas seu guarda não daria conta.
- Você estaria lá. – soltei sem pensar.
Seu sorriso se banhou de ironia.
- Pensei que fosse uma donzela que pudesse se salvar.
- Tem razão, eu daria um jeito de sair de lá sem a sua ajuda, ou de qualquer um.
Ele riu. Observei-o, não me importaria de passar dias ouvindo sua risada. Algo em meu peito se aquece com aquele momento, me fazendo sorrir também.

Doce JuliettaOnde histórias criam vida. Descubra agora